sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Quarentena II, o troco

 

Preocupei-me tanto com mamãe por causa da pandemia e aqui estou eu, de molho, com uma forte gripe. Ainda bem que é só uma gripe, mesmo assim, tive que aguentar o troco.
 —Alô... Você está bem, filho? Melhorou? Vê-se não pega uma Corona com isso.
Tudo bem, eu entendo. Ela está preocupada por tudo que está acontecendo e pelo cuidado extremo que estamos tendo, principalmente com ela.

— Tô bem, mãe.
— Não pode sair, filho.
— Eu não saio, mãe.
— Mas tem que usar álcool gel também.
— Eu estou usando, mãe.
— E pare de ficar falando com gente no portão.
— Não falo mãe, é só entrega. Eu tenho que receber.
— Mas aí você vai pegar e termina pegando Corona nisso.
Eu estava percebendo o duplo sentido nas suas palavras, mas o que eu podia falar?
— Você não está mais “com vinte e dezenove”.
— Eu sei mãe, já entendi. Estou me cuidando.
— Tá sim... Não sei... olha só como você está!
— Eu estou bem, mãe. É só uma gripe mais forte.
— Está usando a máscara?
— Não.
— Está vendo, não tô dizendo? Não está vendo as notícias na TV? Tem que usar máscara quando for falar com alguém. Mesmo comigo.
— Mãe, não precisa. Estamos falando por telefone.
— Não me desobedeça e não responde. Coloque a máscara.
Tive que pedir a máscara para Jackie e a coloquei, afinal a minha mãe mandou.
— Pronto mãe.
— Filho? Filho o que aconteceu? Sua voz está diferente?
— Coloquei a máscara, mãe.
— Por quê? Está se sentindo mal? Eu vou pra aí!
— Não mãe, não precisa vir, eu estou bem. Só coloquei porque você pediu.

— Mas não precisa, estamos falando por telefone.
— Mas foi a senhora...
— Mas como você dá trabalho, filho. Vou pedir pra Jackie trancar esse portão. Você não sai mais.
Vai vendo, o que eu posso dizer... 1 x 1.
Essa minha velhinha...

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Uma batalha épica: Eu x esse indecente

 Apesar de não estar prestando atenção ou não ter percebido que o cenário estava montado, quando dei por mim já estava em plena batalha.

O primeiro set aconteceu logo que as luzes se apagaram. Eu estava sonolento sem muita reação, então ele levou vantagem. Esquivei pela direita, chacoalhei a cabeça para esquerda e consegui evitar que ele me acertasse. Nem tive tempo de relaxar e já começou o segundo set.

Protegi as orelhas, cobrindo com minhas mãos, porque ele a achava com facilidade. Virei para um lado, depois para o outro, tentando dificultar sua ação, mas não deu.

Decidido levantei para o terceiro set, agora com a claridade a meu favor e cadê ele? Sumiu! Demorou, mas quando o achei, parti pra cima e o cerquei num canto. Tentei acertá-lo e ele novamente conseguiu sair do meu alcance. Imaginei que enfim o havia derrotado. Voltei para meu canto e relaxei. Poderia enfim descansar meu corpo.

Já vou dizendo que não resolvi e ele voltou para o quarto set mais feroz. Parecia ser mais de um, estava rápido e decidido. Atingia meus dois ouvidos, quase na mesma hora e com tremenda intensidade. Sentia tocar em meu corpo e revidava, mas sem acertar. Não tinha jeito, resolvi levantar e partir com tudo para o quinto set para acabar de vez com ele.

Novamente não o encontrei, por mais que tentasse.

Percebi que daquela forma não o derrotaria e não conseguiria descansar. Nem sei quanto tempo passou, mas resolvi mudar de tática mais uma vez.

Deixe-me deixar bem claro aqui. Não tenho vergonha de mudar de postura para tentar derrotá-lo. Apenas me calcei de melhores condições, só assim poderia derrotá-lo.

Veloz e quase eficaz como Federer, tentei pela direita e errei. O vi passando ao lado. Imediatamente voltei-me para a esquerda. Nada de acertá-lo novamente.

Sétimo round, continuei para cima dele. Saltei tentando acertá-lo, imprimindo mais velocidade, indo rápido de um lado ao outro. Já estava com os braços cansados e muito ofegante, quando escutei um estalo muito alto. Eu o acertei em cheio.

Deixei a humildade de lado e comemorei como um vencedor, olhando o corpo do infeliz sem nenhum sinal de vida. Estava vibrando ainda quando ouvi, logo atrás de mim, palmas compassadas: Clap, clap, clap...

- Meus parabéns! Terminou? Podemos dormir agora?

Lá em nossa cama, cruzando os braços sobre o peito, estava minha amada.

- Era um pernilongo. - Argumentei.

- Eu percebi. Principalmente quando acendeu a luz. Foi inevitável te ver pegar essa raquete repelente Como o Rafael Nadal e começar a pular de um lado para o outro, feito um maluco. Agora, venha se deitar meu campeão, você o derrotou.
Meio sem graça, guardei a raquete inseticida e voltei para cama.

Bem, pelo menos venci, pensei eu.

Mas foi só apagar a luz e a vingança da família do barulhento inseto, começou.

- De novo, não!! - Ela exclamou.