Preocupei-me tanto com mamãe por causa da
pandemia e aqui estou eu, de molho, com uma forte gripe. Ainda bem que é
só uma gripe, mesmo assim, tive que aguentar o troco.
—Alô... Você está bem, filho? Melhorou? Vê-se não pega
uma Corona com isso.
Tudo bem, eu entendo. Ela está preocupada por tudo que está acontecendo e pelo
cuidado extremo que estamos tendo, principalmente com ela.
— Tô bem, mãe.
— Não pode sair, filho.
— Eu não saio, mãe.
— Mas tem que usar álcool gel também.
— Eu estou usando, mãe.
— E pare de ficar falando com gente no portão.
— Não falo mãe, é só entrega. Eu tenho que receber.
— Mas aí você vai pegar e termina pegando Corona nisso.
Eu estava percebendo o duplo sentido nas suas palavras, mas o
que eu podia falar?
— Você não está mais “com vinte e dezenove”.
— Eu sei mãe, já entendi. Estou me cuidando.
— Tá sim... Não sei... olha só como você está!
— Eu estou bem, mãe. É só uma gripe mais forte.
— Está usando a máscara?
— Não.
— Está vendo, não tô dizendo? Não está vendo as notícias na TV? Tem que usar máscara
quando for falar com alguém. Mesmo comigo.
— Mãe, não precisa. Estamos falando por telefone.
— Não me desobedeça e não responde. Coloque a máscara.
Tive que pedir a máscara para Jackie e a coloquei, afinal a
minha mãe mandou.
— Pronto mãe.
— Filho? Filho o que aconteceu? Sua voz está diferente?
— Coloquei a máscara, mãe.
— Por quê? Está se sentindo mal? Eu vou pra aí!
— Não mãe, não precisa vir, eu estou bem. Só coloquei porque você pediu.
— Mas não precisa, estamos falando por
telefone.
— Mas foi a senhora...
— Mas como você dá trabalho, filho. Vou pedir pra Jackie trancar esse portão.
Você não sai mais.
Vai vendo, o que eu posso dizer... 1 x 1.
Essa minha velhinha...