sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Adela, ou simplesmente Delinha.

Estava um pouco frio e eu já estava em minha cama enrolado no edredom, quando ela apareceu. Não sei se chorava ou gemia, apenas ouvia aquele barulho agudo e resolvi cobrir a cabeça. Dormi.
É claro que não adiantou nada. Jackie e Guila foram ver quem era.
Uma esquelética e medrosa cadelinha acabava de ser resgatada no meu portão. Coitadinha dava dó de vê-la, pequenina e faminta.
De início iam apenas alimentá-la  e devolver a rua, então foi ficando e ficando e ficou.
Alguns poucos dias depois, mas uma prova pra cadelinha. Como era magrinha, passava pelos vãos do portão de casa e saia a rua pra provocar outros cachorros, numa dessas escapadas foi atropelada.
Corremos para socorre-la e levamos ao veterinário. Segundo a profissional, aparentemente não tinha quebrado nada ou mesmo sofrerá algum corte. Sorte... Sair ilesa de um atropelamento, com aquele pequenino porte. Muita sorte mesmo.
No dia seguinte ela já estava fazendo os passeios com o Two pelo bairro - meu enorme Pitdor ou Labrabull, sei lá - correndo rapidamente pra todo lado. Porém, dois dias depois, lá fomos nós novamente correndo com ela para a clínica. Estava fraca demais, parou de comer e começou a espumar. Diagnóstico: envenenada por chumbinho.
A cena mais triste que pude ver de um animalzinho. Mesmo naquele estado, fraca, num descuido nosso e ela fugiu por entre as frestas da grade do portão. Quando descobrimos sua fuga, saímos eu e Jackie a sua procura.
A encontramos ao lado de um córrego, escondida por sua pequenez entre as gramas, sentadinha, quieta, com uma carinha triste, como que esperando pela morte. Foi de cortar o coração.
No dia anterior, quando eles foram fazer a caminhada pelo bairro, em algum momento ela deve ter encontrado algo no caminho e comeu. Pelo caminho do passeio, eles passam próximo ao mesmo córrego e, muito provável, algum morador deve ter deixado algo que continha veneno para ratos.
Mais tratamento, remédios e sofrimento, mas conseguiram salva-la.
No tratamento de lavagem do estomago da cadelinha, outra descoberta. Aplicaram soro para a lavagem e descobriram que ele se espalhava pelo pequeno corpo. Sua bexiga estava estourada, com certeza devido ao atropelamento. Lá vai a pobrezinha passar por uma cirurgia de emergência.
Novamente venceu e ganhou o nome de Adela (de cadela) Vitória e, é claro, a Jackie não perdeu a chance de colocar também o "de Freitas". Como o Two de Freitas.
A adotamos definitivamente. Alguém com tanta vontade de viver e tão bem protegida, não deve ficar solta por ai.
Isso tudo aconteceu há alguns meses atrás, e querem sabe como esta Adela Vitória de Freitas?
Acho que a foto diz tudo...
- Larga essa planta Adela!
Oh! Meu Deus, mais um... "Guenta" que lá vem histórias.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A Bruxa de Blair - Que medo...

Esse sim foi bom.
Quando fui assistir o primeiro filme,  em 1999, não esperava ter o impacto que tive. Realmente era um filme diferente e valeu a pena.
Não vou dizer que na época me deu medo, mas nunca mais fiquei parado olhando para um canto.
Caracas, meu! Eram um pouco pequenos meus filhotes, quando contei sobre a eles ou mesmo peguei a fita para assistirem. Esse filme marcou tanto, que durante anos brincava com minhas filhotas, a noite quando apagávamos as luzes pra dormir, com uma das cenas marcantes dele. Eu chegava bem pertinho delas, ligava o celular bem próximo do rostinho delas e falava - " A Bruxa de Blair". Como aquela cena fantástica, que uma das personagens com os olhos esbugalhados de medo, chorando, se borrando toda, desculpem... com muito medo, perguntava o que estava acontecendo. Idiotice né... mas nos divertíamos. Esse era o filme.
Enfim, depois de tantos anos e com minhas filhotas já mocinhas, eis que lançam novamente o filme. Adivinhem...
- Alô?... Oi filhota!
- Pai vamos ver a Bruxa de Blair?
Como falar não pra essas meninas e perder esse clássico. Lá vamos nós novamente, eu e Jackie prontos pra sentir medo de verdade.
Como nada é coincidência em minha vida, o dia combinado foi justamente no dia da minha volta ao trabalho, depois de uma curta férias. O que tem haver isso? Nada. Foi só pra relatar mesmo.
Sai rapidamente do trabalho, fui pra casa tomar um banho e partimos para o cinema. Não estava tão ansioso quanto da primeira vez, mas era a Bruxa de Blair.
A sessão era as 18:30 - isso é hora de assistir filme de terror? -  e peguei um baita transito para chegar - já meio estressado - no shopping onde assistiríamos o filme. Já um tanto impaciente, não gosto de  deixar alguém me esperando mais que o devido. Cheguei acelerado na praça de alimentação para encontra-las - já com a desculpa do transito pronta - e lá estavam elas despreocupadas as 18:25, ainda tomando um lanche. Como é tranquila essa geração e o filme pra começar.
Agitei o ambiente fazendo todas correrem, afinal assistiríamos o tão famoso filme da Bruxa de Blair.
Já dentro da sala, toda escura, - não sei como não cai nos degraus que diziam estar lá, mas que não achei - então, mais uma surpresa. Vazia. Estávamos no máximo em 12 a 15 pessoas naquela enorme sala. Essa moçada de hoje não sabe aproveitar um bom clássico de terror. O negócio agora é só ver sangue jorrando, gritinhos e sustos repentinos, nada de dar medo e ainda chamam de terror. Vai vendo... É porque nunca viram a Bruxa de Blair. Perderam.
Depois de alguns intermináveis trailers, chegou a hora. Tudo ficou escuro e começou aquela música sinistra. Já nos créditos a filhota se encolheu na poltrona. Hehehe... Agora elas vão ver um verdadeiro filme de terror.
Véio...
Que decepção.
O que assistimos foram os mesmos intermináveis gritos dos atores, os mesmos sustos repentinos, uma imagem que parecia ser feita por alguém jogando milho pra galinhas enquanto filmava com a câmera, de tanto que tremia e ia rapidamente pra lá e pra cá. Não dava pra ver nada e entender menos ainda. Pra variar, as personagens faziam tudo o que realmente não deviam e que ninguém faria. Qual o maluco sairia sozinho numa floresta sinistra, no meio da noite, longe do acampamento, pra catar lenha pra fogueira. Meu deus... Estava cheio de madeira em volta dele, ele estava na floresta e bem próximo as barracas, era só agachar e pega-las.
Saímos eu e Jackie decepcionados da sala e triste pelas meninas, mas para a nossa surpresa, elas adoraram. Vai se entender essa geração.
Deu. Deu por hoje, chega de continuações.
Bruxa de Blair, Bruxa de Blair... Ui que medo... Sem graça.
O que me causou medo mesmo foi preço da pipoca.
Caracas! Fiquei até pálido.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Amigos anônimos

Viver em qualquer parte desse país não é fácil, mas isso não me dá o direito de viver desligado

Conheci um menino que vivia a me pedir para pagar um salgado no mercadão municipal da minha cidade, seu nome...Não sei. Ele se aproximava silenciosamente e me tocava. Mesmo sem me virar sabia que era ele. Tinha as mãos pequenas e uma carência grande. Nem sempre ele estava por ali. No mesmo local tinha uma senhora, já bem idosa, que vendia ervas. Tomávamos café as vezes, mas nem sempre, porque eu esquecia que ela estava ali no corredor. Silenciosa em seu box de ervas.
As vezes algo me despertava e conseguia enxergá-los. O garoto de cabelos desarrumados, a velha senhora sentada no banquinho. O sorriso do colega a me servir o salgado e até conseguia sentir o cheiro das frutas espalhado pelos corredores do velho mercado. Como se eu as tivesse segurando nas mãos e cheirando uma a uma. O barulho das maquinas fatiando frios, o óleo borbulhando nos tachos de pasteis e até a cuia pegando grãos e os soltando no saco de papel.
Era como se de repente algo despertava em meus sentidos e tudo aparecia ao meu redor. Só então nos olhos buscavam o menino e a velha senhora.
Nunca perguntei seus nomes e nem sei porque e é engraçado a data de aniversário eu sabia exatamente. Dia 15 de agosto, mas não me perguntem o porque.
Há quantos anos estão por ali? Nem imagino.
Então num sábado cheguei cedo percorrendo os corredores das frutas e sentindo o gostoso perfume das frutas e distribuindo bom dia a todos que cruzavam o olhar com o meu. Cheguei ao meu cantinho preferido e pedi meu bolinho de bacalhau, o preferido pelo menino também.Imediatamente lembrei-me e o procurei pelos corredores com os olhos, mas não o achei. Lembrei-me da velha senhora e virei em direção a box e ela também não estava lá, aliás nem as ervas estavam mais espalhadas pelo balcão ou o banquinho encostado a entrada do box.
Pegando meu bolinho e o café, servido pelo colega do bar, perguntei pela velha senhora e soube que falecera há alguns meses atrás. Há alguns meses atrás? Mas como assim, eu estava ali a quase todos os sábados e não percebi... Puxa, eu não percebi. E o menino? Perguntei novamente ao atendente e ele não sabia mais do menino, ele desaparecera do mercado. Novamente indaguei a mim mesmo, como não havia percebido que ele não mais pedira um bolinho a mim há tanto tempo. 
Deixei o bolinho e o café no balcão e me direcionei para frente do box da velhinha. Parei e fiquei a olhá-lo, nem sei por quanto tempo quando me tocaram no braço. Sorri e virei-me procurando pelo menino e dei de frente com um senhor apressado pedindo para passar.
Como é possível vermos sem enxergar? Ser ligado ou desligado como se tivéssemos uma chave? Não perceber as pequenas coisas ao nosso redor e sentir de repente que algo que nunca foi meu, foi me tirado.
A cada sábado que vou ao mercadão agora, é impossível não olhar para o box, ainda vazio, ou olhar rapidamente para trás, a cada toque que recebo.
Engraçado, nem sinto mais o cheiro das frutas ou os sons. 
Amigos anônimos, desculpem-me pela desatenção. 
Foi mal.


sábado, 10 de setembro de 2016

Seu Orlando!

Como está chegando o dia de seu aniversário, 10/09, não posso deixar de registrar essa. Parabéns Pai!

Naqueles dias eu estava muito nervoso. Havia feito um investimento em um equipamento de interfones, não muito caro eu confesso, mas que custou boa parte das minhas reservas. Sabia que valia a pena, o cliente era bom de bolso, ou seja, tinha dinheiro e com certeza teria um bom lucro. O problema é que o cheque voltou.
Em casa estava tudo certo para iniciar mais uma comemoração, era dia do aniversário do velhinho, meu Pai. Não era meu pai genético e sim meu ex-sogro, um pai que adotei e que tenho o maior carinho.
Pois bem, todos apenas esperavam minha chegada para começarmos a comemoração e cheguei chateado informando que o cheque do cliente voltou. E como sempre acontece comigo, de repente o telefone tocou interrompendo meu triste relato. Era o cliente pedindo para eu ir encontrá-lo e que me daria o valor em dinheiro. Não pensei duas vezes, chamei Mano Véio e o Velhinho e disse para a mulherada: "Vamos buscar essa grana e já voltamos".
O único detalhe que não contei para elas era que o local onde tinha instalado o equipamento era um bordel. E lá fomos nós.
Chegamos no local, entramos e perguntamos pelo proprietário.
- Seu Laércio ligou e disse que já está vindo. É para relaxarem e tomar uma cerveja por sua conta.
Quanto a cerveja, show. Afinal era o aniversário do Velhinho e já começaríamos a comemorar ali mesmo. Só não entendi o que ela quis dizer com "relaxarem". Na verdade, comecei a entender rapidamente, quando as meninas que trabalhavam ali começaram a entrar.
Todas com roupas minúsculas, arrumadas e sorridentes.
Foram chegando, nos cumprimentando e puxando conversa.
Eu estava sentado num banco encostado no balcão do pequeno bar e de frente para o palco onde, imagino, as meninas faziam suas performances. O Velhinho sentou-se em um sofá para três lugar junto com o Mano Véio.
Como já era noite, foi chegando alguns clientes e elas soltaram-se mais. Preocupado com o horário, perguntei para amenina do bar, sobre o destino do proprietário.
- Quer mais uma cerveja? Madona faz companhia para ele que vou pegar uma geladinha lá dentro para ele.
Pegar lá dentro? Caracas, eu estava no bar. Era só abrir a geladeira e pronto. Sei não... Então veio a tal Madona. A única semelhança era ter os cabelos loiros e só... Só mesmo.
Era muito baixa, mas baixa mesmo, tanto que pensei ser uma menina. Ela já se encostou e foi pegando meu copo. Eu disse copo... De cerveja... Deixa pra lá.
Então a menina do bar chegou com a outra cerveja e disse que Laércio, o proprietário havia chego.
Deixei a miniatura da Madona de lado e nem pedi o copo de volta. 
Cheguei próximo ao Velhinho e ao meu mano e informei que o dono chegara e que já íamos embora. Não que eles estivessem com pressa... Vai vendo...
Quando Laércio apareceu a porta imediatamente virei-me e fui cumprimentá-lo, ManoVéio me seguiu, depois de pedir desculpas pelo transtorno e a demora, chamou-me pra mais uma cerveja. Quando íamos em direção ao bar, ele olhou do lado e viu o velhinho. Antes mesmo que eu pudesse apresentá-lo, Laércio sorriu e abriu os braços,deixando-nos de lado e indo em direção ao sofá.
- Seu Orlando! - e seguiu em sua direção.
Eu e Mano Véio ficamos pasmos ao ver a alegria de Laércio e o entusiasmado abraço no Velhinho.
- Como está o senhor?
Como assim? Eles se conheciam? da onde? Será que o Velhinho... Não.
- Meninas, cuidem do seu Orlando que eu vou acertar umas coisas no escritório com meus amigos aqui. - Disse apontando para nós.
É lógico que fomos para o escritório boquiabertos e sem tirar os olhos do Velhinho. Após receber o dinheiro e na pressa de sair e ver como estava o Velhinho, despedi-me de Laércio e voltei para a sala ao lado. Lá estava ele no sentado sofá e de conversa com uma morenaça, sentada no braço do sofá mexendo em seus cabelos brancos.
- Bora Pai. - Saímos.
- O Laércio era meu cliente no posto de gasolina que eu gerenciava.
Eu e o Mano Véio, nos olhamos e dissemos.
- Seu Orlando! - Caímos os três na risada.
O duro foi explicar o atraso e essa história quando chegamos. Acho que a Velhinha não gostou muito e eu levei a fama de ter levado ele para um bordel em comemoração de seu aniversário. Sei...
- Seu Orlando!
Cliente do posto... Sei sim...
Vai vendo...

Parabéns pelos 90 anos Pai!