terça-feira, 22 de setembro de 2020

Está parado por que?



Pensei que com essa história de pandemia, ia ficar injuriado e desestimulado com tudo. Fiquei mesmo.

Mas por outro lado, fui reagindo e as coisa foram acontecendo...

Decidi que já era hora de escrever um livro que desejava há muito tempo, consegui e escrevi até que rapidamente.

Depois disso, achei que já era hora de publicar meu quarto livro: Billy e as coisas continuaram acontecendo... Fiz toda a revisão, ganhei do nada uma capa e enfim publiquei.

Já devia bastar tudo isso, para alguém que tem dedos tagarelas, que insistem em escrever, mas não.

Veio um convite para participar de um concurso sobre a pandemia. Acho que estava tão p da vida com ela, que resolvi aceitar e marcar meu ponto contra essa situação. E não foi que deu certo? Consegui com uma crônica, ficar entre os felizardos que tiveram seu texto publicado. Acabou???

Nãooooooooo!

Fui premiado mais uma vez, agora com um conto que estimo muito. E olha que a disputa foi apertadíssima, já que segundo as regras do concurso, metade com ganhadores deveriam ser da cidade que patrocinou o evento, Presidente Prudente.

Pois é, e ainda tem gente que acha que nada de bom acontece com essa pandemia.

E aí eu pergunto, será que tentou algo ou ficaram sentados reclamando de tudo e de todos.

Eu fui a luta.

domingo, 20 de setembro de 2020

Meus pais



Não dei muita sorte com pai. Digo isso porque tive três.

O primeiro, Joaquim, não deu tempo de amá-lo. O perdi quando ainda estava tentando saber o que estou fazendo por aqui, nesse mundo louco, aos quatro anos de idade. Então acredito que um parágrafo o define, mas não diminui a saudade.

O segundo, Nelson, chegou quando estava achando que já sabia o que vim fazer nesse mundo, na minha pré-adolescência. As coisas eram complicadas demais. Ele trabalhava muito e não tinha muito tempo para mim. Acredito que ele até tenha tentado ser um bom pai, da forma dele.

Não havia carinhos ou atenção, só cobranças de resultados. Você fez isso? Fez aquilo? Claro que não tinha abuso algum, era apenas o jeito dele, meio distante.

Passamos muitos anos juntos, houve muitas alegrias, passeios, festas e viagens, até que resolvi casar e sair de casa. Ele se esforçou e ajudou muito em tudo, mas a distância que já era grande se agigantou ainda mais.

Claro que um filho precisa de um pai, apesar de sair de casa para construir sua própria vida. Mesmo com o jeito duro e distante dele, posso dizer que foi um bom pai.

Essa distância não impediu de andarmos juntos, ele na dele e eu na minha. As vezes saia umas faíscas que mamãe rapidamente dava um jeito de isolar.

Chegou seu dia e partiu dessa vida. O interessante, que ele se foi da mesma forma que o primeiro. O coração parou e acabou.

Virei pai e comecei a perceber a falta que os meus dois pais fazia. Como tratar com meus filhos?

Comecei com afagos na cabeça, uma proteção um pouco acima do necessário, tentando fazer o que não recebi, portanto, também não sabia fazer. Talvez, como eles, eu tenha errado também.

O terceiro pai, Orlando, veio com o meu casamento. O que os outros chamam de sogro, eu aprendi a chamar de pai. Também foi um relacionamento complicado, ao ponto de achar ser eu o problema, mas passou. Aprendi muito, copiei posturas e dividi com ele minha maior riqueza, os filhos. Junto com sua esposa, nos seguiu por onde fomos. Incansavelmente, nos ajudou. Um dia chegou o momento de nos juntarmos na mesma casa, ele acabara de perder a esposa, que eu também chamava de mãe.

Nesse ponto, já era o mais presente dos meu três pais. Fizemos uma parceria silenciosa, disfarçada, onde apenas nós sabíamos como fazer as coisas acontecerem. Não houve uma aproximação de afeto, não física, apenas de respeito que era mais forte e verdadeira.

Seguimos firmes, até que resolvi sair de casa novamente, ao contrário de me culpar de abandono, mostrou sua grandeza adotando minha nova família. Meus filhos ganharam ainda mais, tiveram um pai e um avô-pai. E eu reafirmei a conquista de sogro-pai, que deixou de ser sogro e tornou-se um pai ainda mais amado. Ainda me apoiando e entendendo o porque de toda aquela mudança.



Agora, quando estamos no nosso auge do nosso relacionamento, ele também está me deixando. Vejo-me novamente com o coração na mão e os olhos umedecidos pelas lágrimas. Sua velhice foi enfática em cobrar sua presença. Aquele alegre e divertido, sério homem, está se despedindo para ir ao encontro de sua companheira. A dor da perda, até conseguirei entender e superar, mas o amor por ele, meu pai, vai me fazer sentir pela terceira vez o adeus.

Te amo pai.