quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Onde está o menino Jesus?

Eram muito marcantes os Natais naqueles dias...
Começava dezembro e lá íamos nós, preparar a montagem do presépio da capela. 
Capela São Francisco de Assis, na Vila Guarani, minha segunda casa na época.
Como as celebrações sempre aconteciam aos domingos, tínhamos que montar o presépio no sábado para que todos o vissem na manhã seguinte. Essa tarefa era responsabilidade do grupo jovem da capela, a CJSFA-Comunidade Jovem São Francisco de Assis.
Como todos os anos, a expectativa era sempre grande. Todos queriam ver o que aprontaríamos, o quanto a montagem do presépio seria diferente do ano anterior, então eu e mais alguns amigos nos trancávamos na capela e começava o trabalho.
Já há alguns anos atrás, comecei uma novidade, esconder o menino Jesus no presépio. Eu entendia que, como Ele só nasceria na meia noite do dia 24, não poderia ficar exposto no presépio, então o escondia. Achava um cantinho, ali mesmo no presépio, entre alguns detalhes da montagem, sempre em lugar que um bom observador o encontraria, e o deixava aguardando sua hora. Depois da celebração de Natal, geralmente acontecia depois das 20:00, todos se cumprimentavam e iam para casa. No meio daqueles abraços, cumprimentos e movimentações, saia sorrateiramente até o presépio e colocava o menino Jesus na manjedoura.
Depois de alguns anos, começou a busca ao menino Jesus oculto. Sempre quando terminávamos a montagem do presépio, só escondia o menino Jesus depois que todos saíssem da daquele espaço. Cinco minutos depois, estavam todos em volta do presépio procurando onde eu o havia escondido. Mas naquele que seria o último ano...
Passamos a tarde e o começo da noite daquele sábado concentrados na montagem. Como sempre fazíamos algo diferente, naquele ano alguém sugeriu fazer um céu suspenso sobre o presépio. Com muita criatividade conseguimos realizar tal façanha. Ficou muito bonito com nuvens de algodão e muitas estrelas tendo ao fundo um céu azul marinho.
Ao terminar a montagem, com todos bastante cansados, afastei uns dez passos para apreciar o todo. Na verdade buscava um local para repousar o menino Jesus. Percebi que todos me observavam, já esperando o sinal para saírem, mas os surpreendi.
- Muito lindo. Vamos embora descansar, amanhã o dia promete.
- Mas e o menino Jesus?
- Já o coloquei. - Disse sentindo-o com as pontas dos dedos em meu bolso.
Todos se voltaram para o presépio e começaram a busca. É claro, neste ano ninguém o achou. Fomos embora.
Na manhã seguinte enquanto preparávamos a capela para a celebração da noite de Natal e ensaiávamos as canções, sempre um dos amigos aproximava-se e perguntava: 
- Cadê Ele? - A resposta sempre era a mesma...
- Ainda não nasceu.
Meu saudoso e querido amigo Julião, um senhor guardião da capela, dos jovens e de tudo que cercava aquele templo, era o mais curioso e constantemente me cercava com a mesma pergunta e ouvia a mesma resposta.
- Não sei, afinal, Ele ainda não nasceu. - Dizia pensando naquela pequena imagem de um menino Jesus criança, muito bem guardado na minha caixa de segredos, no fundo da minha gaveta de roupas.
Chegou a noite e nos encontramos na capela.
Já no meio da celebração, sabia que fora uma das mais lindas que participei. As pessoas, as canções, tudo estava perfeito. Sem duvida foi uma linda celebração de Natal. Podia-se sentir a alegria, felicidade, o Natal, a presença do menino Jesus... Meu Deus o menino Jesus!
Havia esquecido de traze-lo. O menino Jesus não estaria presente quando tudo terminasse.
Minha casa era muito longe, não dava para buscá-lo. Comecei a suar. Já não conseguia me concentrar nas canções ou na própria celebração. Sabia que quando terminasse, muitos iriam ver o menino Jesus na manjedoura e não o encontrariam, automaticamente me procurariam. O que eu iria dizer? Esqueci-me de Jesus?
Julião passava por mim e silenciosamente perguntava: - Onde você o colocou? - nervosamente só contorcia o rosto.
A cada canção que terminava colocava o violão ao lado, olhava para o presépio, depois para o Julião, ele sempre sorrindo, sabia que Ele não estaria lá quando tudo terminasse. Então a celebração terminou.
Depois de cumprimentos e abraços lá foram todos ver o menino Jesus. Todos, menos eu.
Lá do presépio alguns me olhavam e sorriam. Alguns vieram em minha direção e sorrindo perguntaram:
- Quando você o colocou lá? Estávamos de olho em você.
- Coloquei? - Surpreso larguei do violão e fui ver o presépio. 
Lá estava Ele. Entre Maria e José, cercado pelas ovelhas, pastores e Reis Magos. O menino Jesus. Não era o mesmo, mas era Ele.
Como foi parar ali? Quem o colocou?
Olhei em volta e vi o Juliano, meu amigo Julião, ainda sorrindo. Como ele sabia? Como era possível?
Saudades meu amigo. 
Obrigado e Feliz Natal.


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Twoo e o Sapão

Olha a fera ai... Coitadinho. Culpa do Sapão da Vila.
Amo futebol e o meu EC Santo André, porém, confesso que esse amor demasiado a um clube, é sempre complicado. Digo isso pela rivalidade absurda que alguns criam e vivem em torno do futebol e clubes. Sou desafeto de quem torce pelo São Caetano, São José ou Argentina, mas tudo termina quando o jogo acaba. Agora...
Bem, mudei de casa no inicio do ano passado e vim parar próximo ao campo do time do bairro, o Vila Garcia, conhecido como o Sapão. 
Como gosto de futebol, beleza, até fui assistir o time do bairro jogar em duas oportunidades e como sou pé quente, eu ganhou as partidas. O problema é que da mesma forma que o Sapão ganhou mais um torcedor, também ganhou 3 desafetos.
Nunca entendi o porque, do Twoo agitar-se tanto no portão nos domingos de manhã. Ele fica inquieto e late pra todos que passam na rua, assustando realmente até quem está do outro lado da rua. Por seu porte grande, é comum vermos pessoas desviarem de nossa calçada para evitá-lo.
Ele é valente e muito corajoso, até que começa os fogos.
O Sapão da Vila da inveja a muitos times por ai. A cada domingo que joga em casa, é acompanhado de uma torcida apaixonada e muito barulhenta. Os batuques, as canções de exaltação ao Sapo, tudo é muito bonito de se ver. A animação dos torcedores locais é incrível, coisa que não se vê em outros bairros. 
É claro que torço pelo Sapão também. Dá-lhe Sapão. Mas aqui em casa...
Assim que começa  a movimentação para o  jogo,  Twoo fica agitado. Parece reconhecer cada jogador do time, pois, de longe vê um passando na rua e corre em direção ao portão para assustar o distraído.
Os preparativos vão iniciando no campo. Primeiro vem a cantoria e os batuques, gente chegando de toda parte do bairro e ai então começa os fogos. 
Muito barulho mesmo, ai a torcida contraria também começa a parecer, Jackie, Guila e Two, todos torcendo para o Vila Garcia não marcar gols ou então perder o jogo, assim não tem mais fogos de comemorações.
Nesse último jogo as coisas ficaram complicadas.
Estava eu tranquilamente sentado em minha cama, Jackie perfumando a casa com o cheiro da delicia que seria servido no almoço e Guila no video game. Começava a escrever mais uma das minhas sandices quando começaram os fogos. Em minutos, começaria mais um jogo do Sapão da Vila.
Antes que pudesse fazer algo, Twoo entrou correndo no quarto e enfiou-se debaixo da cama. Não me importo, pois sei o quanto seus ouvidos são sensíveis, mas tudo tem limite.
Na final do Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil, sofremos até de madrugada com os fogos e a farra dos torcedores mais apaixonados.
Nesse domingo o time da Vila estava inspirado, logo de cara marcou. Twoo já deitado embaixo da cama, se mexeu e balançou tudo. Que susto! O danado é enorme e mal cabe ali.
Mais um tempo e outro gol. Outro sacolejo e agora com um xororô do Twoo. Coitado.
Quando saiu o terceiro gol, já estava todo torto com o notebook caindo ao lado e as almofadas no chão. Parecia um terremoto. A cada gol ele mudava de posição e balançava a cama.
Confesso que torci para acabar o jogo, mas o Vila fez mais dois gols. Um caos no quarto. A essa altura eu também estava todo torto. Minha cama parecia ter vida própria e estava desesperada para me jogar longe. Na hora veio aquela imagem de o exorcista, a cama pulando e levitando. Tô fora.
O jeito foi descer da cama e acalmar o filhote.
Não vou afirmar que também torço contra o time da Vila, mas se ele ganhar de 1x0 ou empatar de 0x0, pra nós daqui de casa já é goleada. Está bom.
E viva o Sapão da Vila Garcia.
Pobre Twoo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Tudo muito bem planejado.

Primeiramente, mil desculpas. 
Sei que me perdi e larguei de lado minhas crônicas, em pró de uma situação inusitada. Passou. 
Quero relatar as artimanhas e engenhosidade de Alguém muito superior e que teima em me surpreender. Não sei se para me mostrar que Ele tudo pode, quem sabe assim eu para de reclamar ou, para que eu veja que, quando coloquei minha vida em suas mãos e esqueci do mundo, fiz a coisa certa. 
Um certo dia, há muitos anos atrás,fui para São Paulo comprar material para a loja que eu trabalhava. Era pra ser uma coisa rápida e voltar logo para Jacareí. Não aconteceu bem assim. Depois de uma dezenas de lojas visitadas, me atrasei e terminei fazendo tudo num horário muito mais tardio que esperava. Peguei o metrô na Estação República em direção ao terminal rodoviário do Tietê, forma que nunca o fiz e até sábado passado não entendia o porque aconteceu assim. 
Entrei rapidamente e sentei, sem olhar para os lados. Como havia comprado o jornal para leitura durante o retorno a Jacareí, resolvi passar os olhos nele. Abri e comecei a revirar suas páginas. 
Na estação seguinte, pessoas entraram e saíram e eu nem desviei os olhos da leitura, até que uma pessoa incomoda começou a amassar meu jornal com seu corpo. No inicio apenas ajeitei as página em minhas mãos sem levantar os olhos, mas a tal pessoa foi insistente. Fechei e baixei calmamente o jornal e só então fui olhar para o dono daquele incomodo corpo. Congelei. Era a minha mada amiga Mirian que há anos não via. Ele estava num canto do vagão lendo um livro e mais perspicaz que eu, levantou os olhos da leitura olhando o movimento do entrar e sair de pessoas, então me identificou. Após um longo, apertado e saudoso abraço, descemos na estação seguinte. Ela me confessou que pegara o metrô no sentido errado e não sabia o porque, já que fazia essa rotina diariamente. Agora pegando no sentido correto fomos até sua casa para conversarmos e matar a saudade. Percebi então que meu atraso e o erro do sentido no metrô que ela pegara, estava aliado ao mais uma "coincidência". Ela estava ali naquele horário, porque saíra de férias e estava preparando uma viagem para fora do país. Quer dizer que se não estivesse de férias, naquele horário estaria no escritório trabalhando. 
Na época, burrinho que sou, achei tudo uma tremenda coincidência e ponto. de lá pra cá, nos vimos várias vezes e não deixamos mais a distância nos separar. Acabou essa história. Agora vamos a outra que aconteceu nesse fim de semana. Assim meio que do nada, Jackie sentiu tantas saudades da minha Tia Odete, que propôs irmos ve-la em Santo André. Adorei a ideia e chamei mamãe para ir conosco ver sua irmã. Tudo planejado, organizado, revisamos o carro para irmos mais tranquilos e aguardamos a chegada do sábado. Na noite da quinta-feira que antecedia nossa viagem, Mano Véio me ligou para informar que no sábado aconteceria uma missa com o grupo jovem CJU, agora Grupo de velhinhos, que participamos há mais de 30 anos atrás. Confesso que não me interessei. Primeiro porque tinha combinado um churrasco na casa de minha doce prima Sueli, também no sábado, então não daria tempo. Depois, também porque a "minha turma" daquela época, nunca participava. Os demais colega eu ainda mantinha algum contato, apesar de adorar abraçá-los não me animei. Ai Ele mexe os pauzinhos... Mano Véio voltou a me ligar no dia seguinte, na sexta-feita, quando eu já me preparava para dormir, afinal teria que acordar cedo pra viagem, e me passou o horário da missa. Como disse, já tinha combinado outro compromisso naquele horário e não queria faltar, então simplesmente disse: "Se der passo lá". No sábado acordei com uma estranha vontade de ir naquela missa e ver o pessoal. Isso ficou martelando em minha cabeça, então combinei de deixar mamãe na casa da Tia, dar uma passada rápida na missa, cumprimentar o pessoal, voltar rapinho para pegar as velhinhas e ir para o churrasco da prima. Como sou bobinho, Ele já tinha tudo preparado. 
Pra começar fiquei espantado de como chegamos rápido em Santo André, depois chegando na casa da Tia, ela me incentivou por demais a ir na missa, então fomos. Ai, tudo se deu. Quando entrei na igreja, vi os amigos que esperava ver e nos abraçamos muito matando as saudades, mas nada de tão excepcional. Então apareceu um que não tinha noticias há mais de 30 anos, foi difícil conter o aceleramento do coração. 
Recuperando desse baque, veio outro e outro, minha amada amiga Mirian, mais um amigo outro... A essa altura as lágrimas já não fugia pelos olhos, saltavam numa sequência sem fim. Então veio o desfecho dessa armadilha preparada em detalhes. Uma amada amiga, Ângela, que jamais pensei em ver novamente depois desses 30 anos de distância e silêncio, estava ali me olhando e sorrindo. Não posso dizer que corri, mas acho que até tentei, indo ao seu encontro. Quantas saudades. Ao seu lado outra e outra. Naquela altura meu problema não eram mais minhas fracas pernas e sim meu velho coração. Fatima, Cida, todas ali... Depois de abraça-las muito e matar saudades, achei que havia sobrevivido a tudo e voltava ao meu lugar. 
Já estava atrasando o inicio da missa. Tome mais emoções, Tia Vilma, agora Irmã Vilma, outra grande e amada amiga, que imaginava nunca mais ter a oportunidade de ver, já que era missionária na Africa, surgiu na minha frente. Bambiei mais uma vez, firmei e soltei-me de seus braços e dei de cara com outra, Zilda. Tive que pedir um basta. Estava em frangalhos. Voltei para o lado de Jackie todo decomposto e frágil. 
Assim que enxuguei as lágrimas e me recompus, respirei fundo e levantei meus olhos... Dei de cara com Ele sorrindo pra mim. Acreditem, Jesus me sorria. 
Toma Freitas! Homem de pouca fé.

GANHE DINHEIRO EXTRA!