sábado, 30 de novembro de 2013

A pipa.

Sábado chegou... Era o meu dia.

Passei a semana inteira, me preparando para a chegada deste dia.

Na segunda-feira, ainda muito cedo, lá estava eu na porta do mercadinho do Nagib, esperando o comércio abrir. O objetivo dessa espera, era a compra do papel azul e branco, para fazer minha pipa. Não era para uma pipa qualquer, era para fazer "A minha pipa". Muito especial, sim. Afinal, seria o primeiro sábado das férias e todos os meninos estariam atrás da minha escola, com suas pipas e eu, também estaria lá, com minha pipa “Ramalhina”.

Havia guardado meu escasso dinheirinho, para essa ocasião. Deixei de comer piruá na escola, aquele milho que não estoura na pipoca, por uma semana. Não comprei sequer um chiclete ou aquelas deliciosas maria-mole que vinham entre as bolachas de maizena. Valeu o sacrifício, agora eu saia do Nagib com duas folhas nas cores que mais gosto. Cores do meu querido time, o Ramalhão. Guardei-as com carinho no alto de meu guarda roupa para que não amassassem.

Na terça-feira fui atrás de conseguir gomos de bambu e comecei a preparar as varetas. Logo mamãe apareceu para pegar no meu pé. Essa arte de afinar varetas realmente fazia muita sujeira. Tive que limpar tudo e me mandar dali, mas antes da hora do almoço as varetas estavam prontas. Então as medi, comparei e senti seu peso. Estavam perfeitas. Como sempre sai atrasado para a escola. Sorte a minha, ser a última semana de aula.

Quarta de manhã. Deixei pronta a armação da pipa. Primeiro coloquei a vareta superior, deixando a armação como uma cruz, medi os dois pedaços da vareta, para garantir que estivessem no mesmo tamanho, bem firme e centralizado na cruz. Depois enrolei a linha em espiral, descendo para a segunda vareta. Repeti a mesma operação anterior e contornei a armação deixando a vareta inferior envergada para baixo.

Sei que devem achar meio confuso, mas é uma arte que levei muito tempo para aprender e não posso ir falando assim... Mas ela ficou perfeita.

Restavam apenas dois dias de aula e então estaria de férias. Estávamos na quinta-feira. Comecei fazer a rabiola. O rabo da pipa. Cortei metade de cada folha, dobrei-as uma, duas, três vezes e cortei as tiras. Eram muitas, afinal a rabiola tinha que ser bem grande e vistosa. Estiquei a linha pelo quintal e comecei a amarrá-las, uma a uma. Quase me atrasei novamente para ir à escola e só fui me aprontar, quando mamãe ameaçou não me deixar sair no sábado. Meu banho foi de 2 minutos... E mamãe olhou-me assim, como que não aprovando, mas já era tarde. Sai em disparada rumo a escola.

Quando acordei na sexta-feira, sabia que era o grande dia de encapar a pipa, mal tomei meu café. Geralmente era acompanhado de bolachas maizena, desmanchadas numa caneca de café com leite ou uma deliciosa sopinha de pão. Um pãozinho francês, muito bem picadinho, misturado na caneca de café com leite e um pouco de açúcar. Hum... Era uma deliciosa maneira de se tomar café. Mas não tinha tempo, então foi apenas o café com leite mesmo.

Na mesa da cozinha, juntei as duas folhas de papel, ficando metade azul e metade branca. Coloquei a armação sobre o papel e a virei para todo lado, tentando achar a forma ideal. Mamãe me ajudou a escolher e ficamos com a forma diagonal. A parte azul ficaria em baixo e a branca sobre ele. Ficou legal, então com cuidado cortei e colei na armação. Enquanto secava peguei a rabiola, amarrei na parte inferior da pipa e coloquei o estirante. O que é isso?

Vocês não sabem nada de pipa mesmo... Rsrsrs

Estirante, é onde amarramos a linha para empiná-la.

Pronto! A mais bela pipa que fiz estava pronta para subir aos céus. Sai novamente correndo para escola.

Sábado de manhã. Um lindo sol já se destacava no dia. Seria um dia lindo e os meninos já saiam de suas casas com suas pipas indo em direção ao morro, atrás da escola.

Tinha pipas de tudo quanto é jeito e cores, mas percebi que todos ficavam olhando e comentando sobre a minha. Começamos a empiná-las.

Nunca tinha visto um céu assim... Tão cheio de pipas. E eram muitas. Começamos as brincadeiras de desbicar e perseguir outras pipas...

Ah não! Isso nem precisa explicar, né.

Então apareceu uma pipa vermelha, com a rabiola branca e começou a cortar as linhas de todas as pipas.

Mas como? Como ele conseguia isso?

NÃO! a minha pipa azul e branco, Não!...

Diacho! Lá se foi minha pipa também. Nem corri atrás dela, estava muito bravo. Então fui saber quem fez isso e por quê?

Não achei o tal menino, mas descobri como. Diziam que ele usava uma tal de linha com cerol, que um primo trouxera lá de Santos para ele. Menino feio e bobo. Perdi minha pipa por sua causa.

O chato é que nas semanas seguintes, quase todos os meninos começaram a usar esse tal de cerol e eu...

Nunca mais fiz ou soltei uma pipa.

Por que sempre tem alguém fazendo coisas assim, para nos deixar tristes?

 


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Mais um título do meu Santo


Tudo foi planejado... Ou quase.
Eu iria ao estádio ver o meu Santo André ser campeão, mais uma vez. 
Convidei alguns amigos e o Mano véio, mas ninguém quis ir. Ramalhão mesmo, de verdade, só eu. Então, fui sozinho mesmo.
O jogo seria difícil, afinal, o adversário seria o temido XV de Piracicaba, time tradicional do interior paulista. Eu não tinha duvida que seríamos  campeões. O campo da disputa seria no antigo Parque Antártica  do Palmeiras, clube que com o passar dos anos, nos teria como uma pedra no sapato, mas isso é outra história.
Como na época eu participava da torcida uniformizada, iria com o ônibus fretado que partiria da prefeitura municipal, na verdade eram vários ônibus que levariam gratuitamente quem quisesse ver o confronto. O ônibus que entrei, era já um tanto velho de uma empresa da cidade vizinha, Mauá. Mas o que me importava mesmo, era que eu estar dentro dele. Eu iria ver o Ramalhão!
Logo de cara, já dentro do ônibus lotado e sem ninguém que eu conhecesse, apareceu uma garrafa de whisky na minha mão, não sei de onde ela surgiu e muito menos qual era a marca, então começou o coro "Vira, Vira...", e eu virei.
Partimos de Santo André num frenesi tremendo, cantarolando e gritando "`O glorioso é o campeão". Logo outras garrafas começaram dar as caras, cachaça, vinho, mais whisky e sei lá eu, o que mais. Naquela altura já nem sabia mais o que bebia, então comecei a maneirar. Só sei que cheguei ao estádio sem minha camisa e com uma bandeira jogada nas costas.
Fui entrando no estádio levado pela turma. Confesso que nem me lembro da cara do estádio ou de como eu chegará ali no meio da arquibancada. Quem pagara o meu ingresso? Acho que eu não estava muito bem, então resolvi ir ao banheiro lavar o rosto e tentar me recuperar um pouco.
Quando voltei, não sabia mais onde estava a turma do ônibus. Estava perdido naquela imensidão de gente. Mas tudo bem, eu viera para ver o jogo e ele já ia começar. Como não era lá muito alto, mal conseguia ver o jogo e na base do "Dá licença", fui abrindo caminho e cheguei ao gargarejo, na cara do campo.
Era minha noite, até então nunca tinha vibrado tanto, nem mesmo no nosso primeiro título em 1975, na época eu era um garoto que se apaixonava por este clube. Já estava ficando rouco, louco e um pouco de tudo. Meus ídolos eram o Fernandinho e o Lance, um jogador já veterano.
E assim o jogo rolou, fácil para nós.
Faltavam cinco minutos para o final, vencíamos de 3x1. Acho que toda minha agitação com o jogo me fizera transpirar muito, jogando todo aquele excesso de álcool pra fora. Resolvi sair dali e ir para o ônibus antes do jogo terminar. Já que não estava muito bem, pelo menos chegaria logo, sem riscos de ser atropelado pela multidão.
Até que achei o nosso ônibus rapidinho e entrei. Como eu, mais três colegas tiveram a mesma ideia e começamos a conversar e comemorar o título.
De repente o motorista fechou as portas e disse:
- Vamos embora os torcedores do XV estão saindo e vindo pra cá.
Como assim irmos embora? E os outros colegas?
Nem deu tempo para perguntar, logo uma pedra arrebentou um das janelas. O motorista ligou e acelerou o ônibus. Deitamos no chão debaixo dos bancos enquanto mais pedras quebravam outras janelas, jogando vidros por toda parte. Foi assustador.
Ali, encolhidos e quietos, percebemos as manobras do motorista que saia em alta velocidade do estacionamento, onde havia parado.
Foi um grande susto. Fora alguns arranhões e pequenos cortes, tudo ficou bem. Até chegarmos ao centro de Santo André.
Quando passávamos pela prefeitura o motorista parou o ônibus e pediu para descermos. Isso era perto da uma da madrugada, mas descemos sabendo que neste horário não haveria transporte público para casa.
Os colegas, como estavam juntos, foram embora a pé mesmo e lá estava eu, no centro de Santo André, muito longe de casa, sem camisa e enrolado na bandeira do Ramalhão. Numa madrugada fria pra caramba.
Já que não tinha jeito, fiquei por ali mesmo, comemorando com as dezenas de andreenses, que começaram a encher o centro, até circular o primeiro ônibus.
O duro foi explicar em casa a minha condição e trabalhar no outro dia todo dolorido.
Mas com a gente é assim mesmo, uma vez Ramalhão... Sempre campeão.
Valeu todo o sacrifício.


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A Roda Gigante


A ideia era divertir-me um pouco, mas quase deu confusão.
Saindo do trabalho, Daniel, um colega recém-chegado na empresa, convidou-me para ir à unidade móvel de um grande parque de diversões, que estava instalado na cidade.
Chegamos lá, perto das 20h00 e demos um giro, para conhecer os brinquedos. Montanha russa, Paradise, carrinhos de bater e muitos outros. Muito legal o mini parque e estava bastante movimentado.
Seguimos direto para montanha russa. Show de bola, tanto que voltamos a fila para repetir. Enquanto eu aguardava na fila, segurando a vez, Daniel foi comprar umas pipocas. Acho que ele estava querendo me agradar, por eu ter conseguido aquela oportunidade para ele na empresa.
Eu havia conseguido junto ao meu chefe, um espanhol, uma oportunidade para ele no laboratório da empresa. Precisava de alguém que me ajudasse e o chefe aceitou. Daniel estava sem emprego já há algum tempo e andava muito apertado com suas contas.
Enfim, após aguardar por uns 20 minutos, até achei que ele tinha se perdido, por ser meio atrapalhado, então, eis que surge o colega acompanhado por duas meninas. Apresentou-nos e as colocou na fila conosco, apesar da chiadeira do pessoal, dizendo que eram nossas namoradas.
Andamos novamente naquele brinquedo e partimos para outro. Tudo estava indo bem, Daniel, já abraçava uma das meninas e eu ali na minha, andando ao lado da outra, apenas conversando.
Naquela época, eu estava namorando sério e não queria enrosco, apesar da menina ser muito bonitinha. Eu apenas queria me divertir e rir um pouco. Mantive-me fiel.
Entramos num brinquedo, em outro, enquanto meu amigo já estava nos beijos e abraços com a menina dele. A outra, que estava comigo, jogou um charminho por duas vezes e até segurou minha mão. Estávamos bem. Conversávamos e ríamos muito. até que ela teve uma ideia.
- Vamos à Roda Gigante!
Na hora pensei... Ferrou.
Tentei argumentar, mas fui vencido pelo trio e lá fomos nós para o brinquedo. Compramos pipoca e esperamos nossa vez na fila. Todos os demais, estavam animados e eu, com a cara de preocupado. Meu amigo chamou-me de lado e perguntou:
- O que acontece? A menina é uma gracinha, vamos lá cara!
- Daniel, você sabe que estou namorando sério, não quero estragar tudo. Vai que alguém aparece e conta pra ela...
- Que nada, achar você aqui? Sem chance... Esta é a “Roda Gigante” meu amigo, só uns beijinhos não vai te causar mal algum. Olha só que princesinha ela é...
Sei.
Chegou a nossa vez. Primeiro foi meu colega com a menina dele e depois de uns quatro bancos, lá foi eu.
Na primeira volta passamos pelo operador, tranquilos. A fila para o brinquedo continuava grande. Na segunda volta, a Roda Gigante parou umas três vezes, para o pessoal dar lugar a outros e voltou a girar. Quando passamos pelo operador dessa vez, ali no primeiro lugar da fila, com mais duas colegas, estava uma prima da minha namorada. Ela olhou-me surpresa, enquanto via a roda levar-me para o alto novamente.
Eu sabia que ia entrar bem. Essa prima dela sempre estava na casa da minha namorada e com certeza me entregaria. Então a Roda Gigante parou, com nós dois lá no ponto mais alto, provavelmente para a prima subir. Eu estava ferrado. Teria que descer rápido e sumir dali. Então a menina sentada ao meu lado, aproximou mais de mim e disse:
- Estou com frio, me abraça.
Ah! Tá. Olhei sério para ela e respondi:
- Minha querida fecha a blusa, porque não vou te abraçar não.
Isso. Simples e direto, feito um cavalo chucro.
Assim que descemos da Roda Gigante, a menina simplesmente sumiu e levou a amiga com ela, mas a prima, não sumiu não. Bastou dar alguns passos e ouvi:
- Oi primo. Não fuja de mim não.
- Que isso prima, só ia comprar um refrigerante.
- Tá. Nem vem com conversas, fica comigo ou então conto para a prima sobre sua namoradinha.
De queixo caído e ainda tonto, sem entender nada, fui arrastado pelo braço de volta para a Roda Gigante e nem encontrei mais meu colega, que a essa altura tinha ficado na mão, enquanto eu estava de novo na Roda Gigante, agora com outra menina.
O que aconteceu no restante da noite?
Deixo por conta da imaginação de vocês.
Primas... Vai vendo.


domingo, 24 de novembro de 2013

# 197 - Fernando Pessoa

Pensamento Vivo - 197


“E assim escrevo, ora bem ora mal, Ora acertando com o que quero dizer ora errando,
Caindo aqui, levantando-me acolá, Mas indo sempre no meu caminho, como um cego teimoso.” 

Fernando Pessoa

sábado, 23 de novembro de 2013

Sonhei... com meu pai.


Mais um...
Sei que estava dormindo e que era um sonho. 
Eu estava andando e quando percebi, havia chego ao cemitério, tudo estava silencioso, quieto,. mas não havia nenhum túmulo ou jazigo.
Entrei pelo portão já aberto. Não havia ninguém para me receber ou cruzando meu caminho. Tudo muito estranho. Porém nada me afligia, até estranhei minha tremenda tranquilidade e paz, como se estivesse num lugar que eu realmente queria estar e me sentia muito bem.
Em sonho, sempre sinto que há alguém caminhando comigo, igual a esse que agora me acompanhava, mas não conseguia enxergá-lo. Não que eu não o visse, eu sabia que estava ali, conversava com ele, mas sua imagem não vinha até meu cérebro para identificar e reconhece-lo.
Ainda assim, continuei caminhando e enfim, comecei a encontrar algumas pessoas pelo caminho. Todas elas eram cinza. Cinza como se estivessem saindo de uma chuva de pó, daquelas que os vulcões expelem. Vi essa cenas em diversos filmes, mas não me lembro de ter visto algo ou comentado sobre isso nos últimos dias, assim essas imagens, não poderiam ser criações de meu subconsciente.
Os cumprimentava com acenos e eles, respondiam normalmente da mesma forma.
Entrei em um salão enorme, como um interior de uma pirâmide, sustentada por colunas feitas com pedras enormes. Cheguei em frente a um monte de lápides.
No chão, havia túmulos vazios e então, quem me acompanhava explicou-me que todas aquelas pessoas que encontramos, eram os mortos que estavam enterrados ali e saíram para irem embora. Então entendi o porquê de eu estar ali. Vim buscar meu pai.
Perdi meu pai aos quatro anos de idade e não tenho nenhuma recordação dele. Nada mesmo. Sabia que era por ele que eu estava ali.
Comecei então a andar, olhando para todos os túmulos. Então percebi já não estava mais naquele lugar e sim em outro.
Agora me encontrava numa casinha, tipo aquelas cabanas feitas de madeira, muito comum nas montanhas do Canadá.
Parei algumas pessoas, todas sorrindo, perguntei por meu pai e nenhumas delas souberam responder. Eu sabia que ele estava ou deveria estar por ali. Continuei procurando.
Então ouvi meu nome, não consegui definir se vinha do meu acompanhante ou se era meu pai. Virei rapidamente e dei de cara com meu note. Dormira mais uma vez com ele ligado, com o cursor parado piscando no meio de um texto que devia estar escrevendo. Percebi então... Eu apaguei enquanto escrevia.
Levantei com um sentimento bom no peito, mas com uma certa tristeza de não ter encontrado papai.
Seria uma boa oportunidade para falar ele.
Fica pra próxima meu velho.
Saudades.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Vida

Sofrida
de amargas feridas
e feias cicatrizes.
Mártires em amores, 
de encanto ou desencantos, 
e de amargos momentos.
Compreendida, mas não amada,
alegre, sorridente ( com vestido transparente),
mas que por dentro, sofre tristemente.
Procura solução...
em cada ser que encontra. 
Vendendo seu corpo, sua razão.
Vida em bares,
onde se despe pra viver,
onde só poderá obter, 
de todos os seres amados, 
que seu corpo quer ter...
Um sorriso, 
um convite.
Ela sente nesse momento
a falta de todo o seu ser.
Também pode ver, 
o anseio de alguém perdido,
a alegria sufocante... Mas que,
para ela, só o gosto do dinheiro
para sustentar na mesma noite...
Outro amante.


Sou Freitas 11/01/1980

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O mar


Quando a vi ali na praia, sozinha, sentada num tronco que um dia deve ter sido um belo coqueiro, com o olhar perdido em direção ao mar, pensei ser minha oportunidade de deixá-la bem e afastar sua tristeza.
Sempre nos demos muito bem. 
Lembro-me de nossos passeios no parque, de mãos dadas, comentando algo sobre as enormes  e frondosas árvores que nos cercavam. quando chegávamos próximo ao lago, estendíamos nossa toalha no gramado e sentávamos vendo o ir e vir das aves do parque ou competíamos jogando pedrinhas na água, vendo quem a fazia quicar mais na superfície.
Ela ajeitava meus cabelos, que insistiam em cair sobre meus olhos. Contornava meus olhos, nariz, meus lábios, e ficava como que hipnotizada, sem tirar seus olhos de mim. Eu a amava.
Era muito bom sentir seu perfume, doce e suave. Tocar suas mãos macias, sentir sua pulsação acelerada nas pontas de meus dedos. Sentir seus suspiros quando me aproximava e a beijava levemente no pescoço.
Quando no cinema, sempre abraçados, disputávamos a última pipoca do copo, brincando e gargalhando. Muitas vezes éramos "convidados" a ficarmos quietos, as demais pessoas queriam assistir ao filme.
O despedir no final da noite e o dormir ansioso pela chegada da manhã seguinte, era como uma tortura ou castigo. Precisávamos estar juntos.
Mesmo nas discussões, por motivos sérios ou triviais, até mesmo pelo celular, sabíamos o final, um dizia ao o outro que ele era seu amor e riríamos de tudo. Querer o bem do outro, às vezes nos faziam exceder, mas era muito bom saber que estava sob o cuidado de alguém.
Tudo conosco, sempre fora muito intenso e verdadeiro. Por que teve que acabar?
Adorávamos passar horas olhando para aquele mar, ouvindo seus sons, sentados na praia, no mesmo tronco de coqueiro em que ela está.
Agora mesmo, aqui, vendo seus cabelos ser balançados pela brisa, lembrou-me de quando nos conhecemos e revelamos o interesse um pelo outro. Ela disse que gostava de meu sorriso e eu de seus cabelos longos. Imediatamente disse não ser justo isso.
- Você pode esconder seu sorriso de mim, deixando-me sem ele e eu nunca ficarei sem meus cabelos. Com certeza sofrerei primeiro.
Sofrer... Jamais pensaríamos que essa palavra tivesse tanta força entre nós.
Aproximei-me devagar por suas costas e a chamei pelo nome. Ela não se mexeu.
Chamei-a novamente pelo nome e ela levantou sua cabeça, olhou para os lados e depois para o mar, como que procurando algo ou por alguém. Percebi ela enxugar uma lágrima e respirar fundo. 
Pensei em aproximar-me mais.
Dei alguns passos em sua direção e chamei-a novamente. Dessa vez tenho certeza que me ouviu. Ficou de pé, enxugou outras lágrimas, virou-se e ficou de frente para mim. Veio andando lentamente em minha direção, de cabeça baixa.
Abri meus braços para recebê-la e então ela passou por através de mim, como se eu não estivesse ali. Assustei-me.
De repente virou-se para ver o mar, ficou de frente a mim e disse:
- Te amo muito... Adeus.
Ela foi embora, sem olhar para trás. Olhei para o mar e chorei... Nunca deveria tê-la contrariado indo nadar tão longe da praia.
Aquele mesmo mar que tanto amávamos, tirou-me muito mais do que a vida... Ele tirou-me o meu grande amor.
Adeus minha querida.



terça-feira, 19 de novembro de 2013

Santa ingenuidade.

bardeferreirinha.blogspot.com.br

Ele estava nervoso, era domingo e ele teria que ir a missa.
Na verdade, ir a missa não era o problema, ele até gostava muito. Ele adorava ouvir os cânticos harmoniosos, tranquilos, mas adorava principalmente a hora da consagração. Dizia sentir-se leve nessa hora.
Enquanto se arrumava, pra sair, ainda nervoso e relutante, pensava em ter que falar com o padre Maurício, novamente no confessionário.
Confessar-se aos domingos, era uma prática que vinha desde o tempo da vovó Matilde. Domingo era dia de assistir missa e se confessar, claro, com o padre Maurício. Um velhinho muito esperto e agradável. Isso tudo até duas semanas atrás, era tranquilo. Além das artes que aprontava na escola, no máximo que confessava eram as brigas em casa, com sua irmã. Agora não mais.
Na semana retrasada, confessou ao padre Maurício, um pecado feio. O padre além de um sermão sem fim deu a ele uma penitência pesada: 
- 10 Pais nosso e 50 Ave-Maria... e não me peque mais.
Ele então achou que não deveria ter confessado ao padre, talvez não daquele jeito.
- Padre Maurício, eu pequei... Fiz sexo oral com meus amigos.
Foi fácil perceber o tamanho susto do padre e o quanto ele enxugava sua testa, pelos pequenos furos do confessionário, antes dele começar o sermão.
Na semana passada quando repetiu a confissão, achou que o padre teria uma parada cardíaca. Ficou vendo o padre Maurício fazer o sinal da cruz uma dezena de vez falando:
- Meu Deus! Meu Deus!
Além do sermão e da penitência, agora 20 Pais Nosso e 100 Ave-maria, quis saber mais detalhes, ele então falou que foi com o Manézinho, aquele do cabelo mais liso que a escadaria da igreja e com o Pedrinho, filho da dona Cecília. Menino este pra lá de levado.
E agora, uma semana depois de tudo isso, lá está ele novamente na fila pra se confessar ao padre Maurício os mesmos pecados.
Já estava preparado para mais um sermão daqueles e outra penitência mais pesada que a última, mas também viera para jurar que nunca mais faria isso de novo. Então chegou sua vez...
- Padre Maurício eu pequei, pela terceira vez fiz sexo oral com meus amigos.
O padre agora aparentemente tranquilo e muito calmo disse:
- Meu filho, falei com seus amigos e eles me contaram tudo. Falar sobre sexo com eles, não é fazer sexo oral, é apenas meninos falando de sexo. Está perdoado, vai pra casa, pode continuar com seus amigos, isso não é pecado, mas controlem-se.
Esse é o problema do mundo, falta de comunicação mais clara, falta de uma orientação correta.
Foi assim que Marquinho, menino ligeiro e esperto, hoje mais conhecido no bairro como Verônica Passa Vinte, aprendeu sobre sexo.
Santa ingenuidade...


sábado, 16 de novembro de 2013

# 195 - Ralph Waldo Emerson

Pensamento Vivo - 195


A glória da amizade não é a mão estendida, nem o sorriso carinhoso, nem mesmo a delícia da companhia. É a inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e confia em você. - 


Ralph Waldo Emerson






sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Sementinha

Não sabia por que estava ali
Só sei que de repente jogaram-me no chão. 
Enterraram-me, achando que eu estava morta.
Mesmo assim, toda torta e suja,
não estava morta, não.
Senti muito frio e ainda mais,
quando me senti molhada. 
Dê uma olhada! Agora morro mesmo e afogada.
Ali, enterrada, sozinha, com frio
veio-me um arrepio...
Fui enterrada viva!
Não sei quantos dias ali fiquei
mas sei que é muito ruim.
Mas não pensem que foi meu fim...
Não. Comecei a desenvolver perninhas
Muito fininhas e me firmei na terra.
De um dia a outro, no sufoco,
apareceu meus bracinhos e com mãos verdinhas.
Não tinha dedos, e nem mais tinha medo,
então comecei a mexer-me e subir.
Estava difícil, mas não desisti.
E foi então que eu vi... O dia.
Estava lindo, com sol e nuvem.
Esforcei-me o que pude e enfim pude respirar.
Por mais que me esforçasse, sem parar,
minhas perninhas não saiam do fundo.
Pensei, seria o fim do mundo?
Depois de tanto sacrifício?
Veio então a chuva.
Eu ali parada, sem chapéu ou luva,
podia me resfriar.
A chuva passou e me senti mais forte.
Sorte, porque chegou alguém esquisito.
Veio muito perto, e por certo com medo de mim.
Chegou com muito cuidado, e
mexeu na terra ao meu redor.
Era de supor que me mataria novamente,
mas somente me acariciou. Era uma menina.
Para meu espanto, regou-me e colocou num canto.
Cheirou-me e me chamou de "Minha flôr".
Foi a primeira vez que senti o amor,
e então esforcei-me a crescer, mais e mais
um pouquinho a cada dia se preciso.
Só pra ver aquela menina,
me regar com seu sorriso.
Acariciando minhas pétalas, como cabelos.
Limpando meu corpo nu, sem pelos só com espinhos.
Passou um tempinho mais e carregou-me.
Deixou-me próximo no vaso que por acaso,
ficava ao lado de seu leito.
Senti então no meu peito de flor, toda encantada,
Que estava feliz e apaixonada,

pela pequena criança, meu verdadeiro amor.


Sou Freitas

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Conheci um campeão!


Esse, não foi um encontro qualquer...

Ontem estive na semana de segurança do trabalho, organizado pela empresa em que trabalho e quando esperava apenas ouvir o de  sempre, estatísticas e regras, fui surpreso com a narrativa triste, sobre a perda de uma colega que nem conheci e nunca vi. Ela foi vítima de um acidente, por não estar com o cinto de segurança. Ah, se as pessoas ouvissem mais os técnicos de segurança...
Foi um estranho sentimento de perda, nem ao menos vi sua imagem ou como era, mas doeu.
Como todo pisciano que se preze, senti que os sentimentos e emoções reservados para aquele dia, estavam apenas começando.
Na sequência, tive também o enorme prazer de conhecer neste dia, o campeão mundial de embaixadinhas, aquele negócio de ficar quicando a bola com os pés. Foi meu primeiro contato direto com um campeão verdadeiro. Incrível!
Por que foi incrível? Já devem ter percebido pela imagem, esse cara é fera.
De início imaginei que fosse um campeão da categoria, como um paralímpico. Estava enganado. Ele é recordista de fazer mais de 90.000 embaixadinhas (esse número não está errado, é isso mesmo) em mais de oito horas controlando a bola, mas para mim, essa não foi a sua melhor marca. Nunca vi ninguém “normal”  fazer tal marca. Agora... Se não considerei esse absurdo de 90.000 embaixadinhas sua melhor marca, acho já deve imaginar qual foi então.
Vamos a ela.
O tempo todo sorridente e agradecendo a Deus pela condição que lhe deu, fez com que Edgard, tirasse lágrimas de muitos dos presentes com a narrativa de sua história.
Num tempo aonde a inclusão vem por força de lei, ele simplesmente abriu seu coração e despejou em nossos ouvidos tudo o que achávamos não ser possível. 
Ser feliz, sorrir, brincar, morar sozinho, esforçar-se por formar em administração, trabalhar e viver a vida que escolheu, foi a melhor marca que esse amigo nos mostrou. 
Sua determinação, coragem, desprendimento e simplicidade, mostraram a mim e a quem quis enxergar, que a vida é bela sim, basta vermos tudo de maravilhoso que nos cerca e deixar de lado o que não vale ser destacado. Mostrou-nos que os momentos difíceis vêm para nos fazer crescer e mostrar que podemos muito mais. O limite somos nós quem fazemos.
Foi o melhor encontro de segurança que já tivemos e acredito que foi o que mais os colegas de trabalho aprenderam, não só apenas sobre segurança, mas sobre a importância de saber que a pessoa ao seu lado também é sua responsabilidade.

Parabéns aos organizadores pela iniciativa, por como tudo foi conduzido e obrigado por mais essa oportunidade de aprender mais uma lição de vida.
Valeu mesmo, campeão!

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Dá pra cantar calado?

- Oh... Elvis... Dá pra cantar calado?
Não pensem que foi uma menção ao rei do rock, foi pra mim mesmo que falaram isso.
Ontem voltando da faculdade, depois de uma prova instantânea respondida em 10 minutos, estava eu curtindo meu mp3, presente de um colega do trabalho, quando senti um tocar em meu ombro.
- O colega, tudo bem?
Era o cobrador, acho que me empolguei e estava cantando a música junto com John Lennon. Sorte a minha o Ônibus já estar chegando à rodoviária, estava vazio. Sem graça fiz um positivo para o "cara" e desliguei o som até descer.
Mas essa não foi a primeira vez, me empolgo mesmo com minhas músicas prediletas e termino fazendo duetos.
Fui pescar com meu sobrinho em Taiaçupeba, pra relaxar um pouco. O local é no fundo de um sítio que dá para uma represa. O proprietário montou uma plataforma em "T" e ceva todos os dias para atrair as tilápias, carás, lambari e outros peixes. Muito aconchegante e agradável.
Como chegamos no final da tarde, com a intensão de virar a noite pescando, pegamos um bom lugar na plataforma, pois muito pescadores já estavam indo embora. Conosco ficaram mais uns cinco pescadores e três a esquerda de base de pesca e dois na direita, ou seja, ficamos bem no meio deles.
O final da tarde se foi e começamos a pescar, estava um início de noite muito agradável  Lá pelas oito horas paramos para um pouco para lanchar e para dar uma esticada de pernas e lavar as mãos, não posso dizer que foi para dar uma mij..., a Jack diz que é feio falar assim. Pois bem, relaxamos um pouco, comentamos sobre a noite linda e voltamos para a pescaria.
Até perto das dez da noite todos estávamos ali, firmes na pescaria e então alguns começaram a se recolher nos carros pra descansar. Meu sobrinho, um dos pescadores do lado direito e outro do lado esquerdo, dormiram na cadeira de pesca, ali mesmo. Apenas eu fiquei acordado.
Quando olhei de um lado e depois do outro e todos dormiam, peguei meu mp3, liguei, coloquei o capuz da blusa, pois a noite anunciava uma madrugada fria, ajeitei-me e fiquei de olho na boinha.
Algum tempo depois, acho que por volta da meia noite, percebi meu sobrinho acordando. Ele se ajeitou na cadeira e perguntou:
- O tio, não vai dormir?
Estranhei sua pergunta e sinalizei que não.
Ele virou de lado, encolheu-se e dormiu. Fechei mais um pouco o capuz em torna da cabeça e continuei minha pescaria.
Passado mais um tempo, meu sobrinho chamou-me novamente. Escutei uma voz, mas não identifiquei, continuei a pescaria, até que ele bateu em meu ombro.
- Tio, canta mais baixo que tá acordando todo mundo.
Cantar mais baixo?
É claro... Num silêncio daqueles, uma lua linda, peixes saltando e eu ouvindo Elvis, sem perceber eu estava cantando suas canções em dueto. Ai sempre tem um engraçadinho...
- Oh Elvis, dá pra cantar calado, por favor!
Quem conseguiu dormir depois dessa. Foi só gargalhas e brincadeiras...
Pescador é bom por isso, leva tudo de boa.

Oh saudades dessas pescarias.

domingo, 10 de novembro de 2013

Uma noite de Natal - Parte II

Chico carregava uma pequena caixa e logo atrás dele vinha uma mulher que trazia apertado junto ao peito, algo embrulhado em uma manta. 
Ele nos apresentou a Airam. Ela era uma andarilha como nós que chegara à cidade já há alguns anos e por ali ficou, andando de um canto a outro da cidade.
Com um olhar desconfiado, nos olhou um a um e apertou mais o volume contra o peito. Não estendeu a mão ou sorriu apenas nos cumprimentou com um balançar da cabeça. Chico pediu permissão a Airam e retirou da caixa uma linda toalha vermelha com estampas de flores e frutas.
Leon sorriu e se aproximou de Airam.
- Olá Airam. Sejam bem vindos à nossa noite de Natal.
- Sejam bem vindos? - Perguntei meio surpreso.
- Sim. Temos mais dois convidados, Airam e seu filho.
Filho? Aquilo que ela apertava contra o peito, era uma criança?
No mesmo momento Airam agradeceu com um pequeno sorriso e disse ter algumas coisas na caixa pra contribuir. 
Leon pegou a caixa e retirou uma caixa retangular. Sorridente mostrou pra mim e disse:
- Amigo pode retirar da nossa listinha o bolo de nozes, ele chegou.
Era um daqueles bolos prontos para comer, mais tarde naquela noite Airam nos contaria que ganhou de um senhor, gordinho e barbudo, parecido com Leon, só que mais velho.
Leon e Chico estenderam a toalha sobre a mureta e começaram a colocar as coisas sobre ele. 
Enquanto eles iam preparando tudo, Airam se aproximou de mim, meio sem jeito e perguntou-me:
- Quer ver meu filho?
Um pouco surpreso confirmei que gostaria e ela tirou um pouco da manta que cobria a criança. Era uma boneca, daquelas que parece mesmo um bebê. Estava um pouco degastado e manchado, mas o carinho e o cuidado que ela tomou para descobri-lo e mostrar-me, deu-me realmente a impressão de ser um menininho de verdade. Tanto que me surpreendi ao verme tocá-lo e sentindo que realmente ser uma boneca.
Airam sorriu-me e cobriu novamente seu filho após beijar aquela cabecinha plástica, praticamente sem fios de cabelos, todos já perdidos ou estragados.
Quando soube da história de Airam, entendi o porquê de tudo. Ela perdera o filho em um acidente de carro há muito há anos atrás e não conseguiu absorver esta perda. Deixou seu marido numa manhã de domingo, véspera do Dia das Mães, e começou a sua caminhada pelas estradas e caminhos que se apresentavam a sua frente. Chegara até aquela cidade, quando ganhou a boneca e nunca mais partiu dali. O que a marcou, foi que ela dirigia o carro quando aconteceu o acidente. Por um momento de descuido, num dia de chuva, numa curva, derrapou e capotou seu carro e nunca mais se perdoou.
Agora, olhando ela de longe, eu pensei: “como aquela mãe, carinhosa e cuidadosa, devia sofrer ao sentir-se culpada de algo, que já devia estar escrito a acontecer”, e entendi o porquê ela transferiu todo o carinho que tinha com seu filho, para aquela boneca.
Após Leon e Chico organizarem tudo, eu aproximei e perguntei o que eu poderia colaborar naquele momento. Leon apenas colocou suas mãos em meu ombro e pediu-me para relaxar, pois logo estaríamos recebendo mais visitas e precisaria de minha ajuda.
É claro que não entendi nada, mas então Chico apontando para um lado, nos alertou da chegada de alguém.
Leon sorridente disse indo em direção ao recém-chegado:

- Pronto, um já chegou. Vamos recebê-lo.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

domingo, 3 de novembro de 2013

Uma noite de Natal - Parte I

Gosto demais do Natal e ele sempre me traz surpresas...

As luzes coloridas já começaram aparecer nas lojas.
É muito lindo ver aquele pisca-pisca colorido, apagando e acendendo as lampadinhas, amarelas, vermelhas, azuis e verdes.
Ainda estamos no início de novembro, mas todos parecem já animados com o Natal. Muito legal isso,
As pessoas sorriem mais, cumprimentam-me mesmo passando com pressa, sem tempo para conversar.
Pra mim deveria ser apenas mais um Natal, mas sinto que este será especial. Por quê? Não sei, mas sinto isso.
No ano passado passei com a turma da rodoviária. Pessoas que como eu não tem aonde ir ou com quem ficar. Uns nos chamam de andarilhos outros, infelizmente, de vagabundos.
Na verdade ninguém sabe nada sobre nós. Apenas nos veem andando para um lado ou outro, sem entender o que buscamos, o porque estamos vivendo assim. Mas não faz mal... Sou feliz sendo um andarilho.
Sorte minha estar num país tropical e não na Europa ou na América do norte, com certeza nessa época estaria congelado ou com alguma doença devido à friagem excessiva vivida naqueles lugares.
No ano passado, ganhamos algumas coisas deliciosas pra comer na noite de Natal. Estávamos em sete pessoas e não nos conhecíamos. Foram aparecendo no estacionamento da rodoviária, apareceu, depois o outro e assim foi, sem combinar nada.
Desculpe se não me lembrar de todos os nomes, mas um dos que marcou muito foi Leon. Ele apareceu logo depois de mim, estávamos apenas eu e o Chico, conversando, quando ele apareceu.
- Boa noite! Nada de choramingos, Papai Noel chegou e trouxe presentes.
Mostrou-nos uma pequena caixa de Natal. Ganhara de uma senhora da Assistência Social.
- Vamos preparar nossa ceia, já são nove horas.
Aquele estranho, de barba espessa, e um tanto gordinho, logo nos contagiou. 
Apresentamo-nos e começamos a discutir como faríamos. Chico foi logo se oferecendo pra arrumar onde comermos. Sugeriu a mureta que dividia o estacionamento com a rodoviária, era da altura de uma mesa. Não ficou só nisso disse que sabia onde arrumar uma toalha bonita, se não nos importássemos de mais uma convidada. É claro que aceitamos, mas percebemos sua cara de preocupado. Não saiu do lugar olhando para suas coisas e olhar pra nós. Deve ter pensado, "irão roubar tudo". Leon imediatamente percebeu e disse:
- Vá tranquilo meu amigo, é Natal, ninguém mexerá nas suas coisas, eu prometo.
E lá foi o desconfiado Chico atrás da toalha, sempre andando e olhando pra trás.
Eu juntei o pouco de comida que tinha com o que Leon trouxe e ele avaliou a situação:
-Hum... Precisamos de uma champanhe e um bolo de nozes. Precisamos providenciar.
Não sei o que ele quis dizer com isso, mas... Concordei.
Mas as surpresas daquela noite estavam apenas começando. 

Logo Chico retornou com sua convidada... Seu nome era Airam.
Mas o que era aquilo que ela trazia apertado junto ao peito?...