Ouvi essa frase tantas vezes na rodoviária
de São José dos campos que inconscientemente, acompanhava repetindo todas as
palavras junto com a autora delas. Aliás, autora que, pela voz tranquila e até
sensual, deveria ser um espetáculo.
A noite não tinha sido muito tranquila.
Primeiro peguei uma tremenda chuva até a faculdade em Jacareí, depois passei
por uma prova de matemática financeira um tanto conturbada e confusa, mas acho
que me dei bem. Para completar a noite perdi o último ônibus para Caçapava e teria
que dormir na rodoviária, de novo.
Mas voltando a aquela voz macia e
sensível. Comecei a imaginar como seria sua dona. Deveria ser uma mulher
bonita, alta e toda delicada... ou não.
Lembrei-me de repente, de uma matéria
sobre ligações eróticas, daquela que os caras ligam e ficam bobos só com a voz
das meninas. Bem as donas das vozes, que se mostravam incrivelmente lindas, não
correspondiam a beleza da voz.
Curioso como sou, perguntei a uma colega
que trabalha lá todas as noites, quem era a dona dessa voz.
- Sei lá. Acho que deve ser uma gravação.
Acho que ela tinha razão. Bobeira minha,
com certeza era uma gravação. Uma linda voz que repetia três ou quatro frases
repetidamente. Enfim... Terminei cochilando.
Acordei com aquela voz sensual dizendo
muito próximo a mim.
- Senhor, posso sentar-me ao seu lado?
Imediatamente dei espaço, educado como
sou, para que aquela loira, de cabelos longos, olhos verdes, um sorriso
encantador, que trazia nos lábios um batom vermelho com um doce cheiro de
morango, alta e com um vestido preto colado ao corpo.
Sorrindo virou-se novamente para mim e
disse:
- Senhor sua mala está caindo do banco.
Como que hipnotizado por aquela imagem o
máximo que consegui responder, foi um... - Hum?
- Senhor sua mala está caindo.
Com as palavras saiam lindas de sua boca,
com um suave sotaque nordestino. Então, ouvi o som de minha mochila caindo no
chão e despertei. Eu estava dormindo ainda e sonhando com aquela voz.
- Tá vendo, eu te avisei que ia cair.
Ouvindo aquela voz totalmente diferente
virei-me em sua direção e gritei:
- Ahhhhhhh!
E ao mesmo tempo a pessoa também gritou:
- Ahhhhhhh!
E ouvi mais um grito:
- Ahhhhhhh!
- O senhor tá louco é? Quer me matar do
coração?
Era a mesma colega, que fazia naquele
momento a limpeza do piso da rodoviária e estava á minha frente, alertando
sobre a mochila que caia. Como ainda estava com o sonho na cabeça e meio
adormecido, levei o maior susto ao vê-la, ela assustou-se com meu grito e sua
colega de trabalho, que estava próxima, também se assustou. Logo apareceram
várias pessoas sei lá de onde, para ver o que acontecia.
Rapidamente me desculpei e abafei o
incidente e as pessoas foram voltando cada um pro seu lugar. Alguns saiam
balbuciando algo incompreensível e balançavam a cabeça negativamente,
desaprovando o acontecido.
A verdade é que realmente me assustei com a colega.
Tive que ir atrás dela para me desculpar novamente, pois achei que
ela havia ficado ofendida com o meu susto.
No final tudo se resolveu e ela já rindo
da situação desculpou-me de verdade, mas antes de voltar para o meu lugar, pude
ouvir mais uma vez aquela voz...
"Senhores passageiros..."
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