Algumas pessoas que conhecemos por nossa passagem neste mundo, por muitas vezes nos impressionam muito assim foi esse casal especial, que conheci há muito tempo atrás..
Aquela criança quando chorou ao chegar no mundo, jamais poderia imaginar ser protagonista de uma história de amor, no mínimo diferente.
Aquela criança quando chorou ao chegar no mundo, jamais poderia imaginar ser protagonista de uma história de amor, no mínimo diferente.
A família estava
alvoroçada, acabara de nascer ali, naquele seco sertão nordestino, uma linda
menina que soltava um choro comovente, a pleno pulmões. Seu choro misturava-se com o de sua mãe, mulher forte, de fibra e ao mesmo tempo frágil, com um corpo pequeno fraco. Era um cenário de
alegria e felicidade. Seu nome foi escolhido por um jovem, filho de um amigo e
vizinho da família. Ele sempre ajudava aquela família com as criações. Seria
Cecília, como aquela música que ouvira na capital, em um pequeno radio a
pilha. Era um sucesso de uma dupla estrangeira, que lhe agradou demais.
O jovem rapaz, nos
seus 16 anos, deu também a Cecília, o apelido que ela levaria por toda sua
vida, Ciça.
Ele era conhecido
por todos os moradores da região como Lelé, apelido que ganhou quando criança,
depois de tanta peraltice. Diziam os mais velhos, que ele era meio lelé da
cabeça, e assim ficou.
Depois de um mês, do nascimento de Ciça, Lelé, que todos os dias ia ver a menina, foi pego de
surpresa por um convite do pai da pequenina.
- Lelé, eu mais a
Dona Senhora, minha esposa, queremos que você batize Ciça, lá igreja de São
Francisco. Você vai ser o padrinho de Ciça.
Foi um choque para
Lelé, jamais esperava algo assim, até porque geralmente quem batizava era
alguém mais velho e da família. Todos sorriam e aguardavam a resposta, quando a
surpresa se inverteu.
- Obrigado seu
Geraldo e dona Senhora, mais não posso não.
Ninguém entendeu
nada, e ficaram boquiabertos quando o rapaz pegou seu velho chapéu de
palha, que estava sobre a cômoda da sala, pediu licença e saiu da casa.
Daquele dia em
diante, a família de Ciça foi se afastando da de Lelé e este nunca mais foi
visitar Ciça. Parecia diariamente no trabalho com as criações, ajudando seu
Geraldo, mas não voltou a casa para ver a menina. Seu Geraldo, algumas vezes até tentou
puxar prosa, para entender o que aconteceu, mas Lelé desconversava e fugia do
assunto.
Assim foi por
muitos anos. Enquanto Ciça ia crescendo, Lelé se transformava em um homem e foi
viver na capital. Por lá ele estudou e progrediu. Trabalhava numa empresa estrangeira,
que exportava grãos para o mundo todo. Começou como carregador de sacas e aos
poucos foi melhorando, até chegar a supervisor de sua área. Não voltou mais para sua cidade, todo mês enviava algum dinheiro para seus pais e até chegou mandar buscá-los para conhecerem sua casa e a capital.
Há quase 400 km
dali, a imagem que se via, era de uma menina vistosa e cheia de energia, que
crescia dia após dia, cuidando de cabras e de seus pais, já velhinhos. Começara
também, a ir à escola da cidade vizinha e para isso andava quase 3 km toda
tarde, voltando só no início da noite, sempre de carona com o homem do carro
pipa, aquele que trazia água pra região.
Então, numa tarde
de sexta-feira, Lelé recebeu uma ligação. Seu pai falecera. Preparou-se e
voltou para sua cidade, para despedir-se do velho pai. Lelé agora era um homem
maduro, com quase quarenta anos, não casou ou constituiu família, sua vida era apenas trabalhar e
enviar dinheiro aos pais.
Quando chegou, viu que quase nada mudará na sua pequena cidade, tudo estava exatamente igual à antes. Ou quase tudo.
Quando chegou, viu que quase nada mudará na sua pequena cidade, tudo estava exatamente igual à antes. Ou quase tudo.
No velório de seu
pai, recebeu os pêsames de muitos amigos de sua família. Até que
entrou seu Geraldo. Ao seu lado vinha uma moça muito bonita, de cabelos longos e vestido, discreto num tom marrom. Era
Cecília. Ele não a reconheceu de imediato, mas se interessou pela moça. Quando
seu Geraldo veio em sua direção para cumprimentá-lo, percebeu que apesar de
tanto tempo o homem não havia perdoado da desfeita que ele lhe fizera,
mas apertou sua mão firmemente dando-lhe pêsames e o convidou a visitá-lo e jantar em sua casa depois do enterro.
Tudo ocorreu como
esperado, Lelé enterrou seu pai, levou sua mãe até a velha casinha, agora
reformada com o dinheiro que enviara, e deixou-a com a tia, que ainda ficaria
por ali alguns dias para consola-la.
Antes de ir embora para capital, Lelé tinha que ir até a casa de seu Geraldo jantar, como prometera e assim o fez.
Chegando lá foi recebido sem muita cerimonia e antes de sentar a mesa para o
jantar, ficou na varando conversando com seu Geraldo e sua filha. Seu Geraldo contou-lhe da morte de Dona Senhora e de quanto tinha sofrido com isso, que até perderá as forças e sua filha é quem cuidava de tudo. Ali nasceu um
encanto sem fim, da menina por aquele homem e parecia ser o mesmo, da parte dele também.
Aquela não foi à única noite que Lelé foi jantar na casa de seu Geraldo, a
partir daquele primeiro jantar vários convites foram feitos a Lelé que
compareceu a todos. Todos os meses vinha da capital para ver sua mãezinha, que a morta também a levou cinco meses depois, até aquela noite de verão...
- Seu Geraldo,
queria te pedir a permissão para namorar Ciça.
O espanto foi
geral, até a moça não esperava por essa. Seu Geraldo o olhou fixamente e disse:
- Seu Lelé, o
senhor rejeitou batizar a minha menina e acho que é um tanto velho para ela,
então eu te digo que não. Não faria gosto de ver isso acontecer, mas é ela quem
decide e se ela quiser, farei gosto.
Diante de tanta
firmeza na maneira de falar do velho senhor, os presentes viraram a atenção para a
moça, que ainda sem jeito pela surpresa respondeu:
- Aceito.
Quando os conheci,
eu era apenas um jovem rapaz, que ficou encantado com essa história toda e que,
a partir daquele dia, acreditou que o amor era possível, independente de
qualquer condição, e é Deus, que cuida de nosso destino. Lelé e Ciça viveram felizes e contentes, sempre divulgando
sua história a quem estivesse disposto a ouvir. O carinho entre eles era coisa bonita demais de se ver.
Lelé já partiu
deste mundo e Ciça não sei por onde anda, mas deixaram saudades.
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