terça-feira, 18 de março de 2014

Fantasma na garupa

Meu Tio era abusado... Abusado e valente são as palavras certa para ele.

Quando pequeno, gostava de ir a casa da Tia porque sempre tinha um causo novo para ouvir. Recentemente perdemos a Tia, mas tanto ela como os causos sobre o Tio jamais serão esquecidos.
Conta-se na família que ele sempre foi de sair casa pra visitar os amigos e só voltava tarde da noite. Naquela redondeza e naquela época, diziam ser muito perigoso. Não como hoje, por causa da violência, mas pelos perigosos e misteriosos  acontecimentos que rondavam a região.
Numa dessas noites um dos amigos de meu Tio, companheiro de prosas e causos, o lembrou para não ir embora muito tarde, afinal a mulher da estrada estava aparecendo na trilha que ele pegava para voltar, sempre depois das zero hora. Como a cidade ficava um pouco longe, era recomendado que saísse mais cedo e assim evitar qualquer encontro.
Foi só o amigo falar e o Tio, valente ou abusado como diziam, levantou-se dizendo que não acreditava naquilo e que essa história era bobagem, exagero.
Os amigos se entre olharam e disseram;
- Amigo, não zombe não. Lá naquela trilha, perto da cruz que marca onde a mulher foi morta, muitos já a viram e se molharam todo.
- Dizem que ela sobe nas carcundas dos cavalos e faz os coitados sentá de tanto peso. - Disse outro.
- Fantasma pesado? Nunca ouvi falar disso. Pois eu vou lá hoje e quero ver isso de perto.
O homem era abusado mesmo e muito corajoso. Naquela noite, ele fez como havia falado. Ficou de prosa com os amigos e ignorou seus conselhos. Quando viu que já chegava o horário que devia sair, para chegar ao tal lugar perto da meia noite, lá foi ele montado em seu cavalo.
Já andava há algum tempo pelo caminho, que tinha como companhia só a lua bonita, cheia e os grilos barulhentos, quando percebeu que já chegava perto da cruz, onde a mulher aparecia. Parou o cavalo, retirou o relógio do bolso e viu as horas. Era quase meia noite. 
Afroxou as rédeas, soltou o cavalo e seguiu em frente.
De repente seu cavalo começou a relinchar e sair de traseira. Parecia que alguém estava puxando ele para baixo, pelo rabo. Quando voltou sua cabeça para trás, pra ver o que acontecia, deu de cara com uma mulher toda de branco e pálida, feito um fantasma. Ela estava sentada em sua garupa e sorria. 
O Tio não perdeu tempo. Rapidamente sacou seu punhal e o atravessou na boca, prendendo-o com os dentes.
Naquele mesmo momento o cavalo conseguiu se recompor e ele saiu em disparada pela estrada, sem olhar pra trás.
Se meu Tio se molhou como os outros que a viram, eu duvido. O homem era valente mesmo.
Hoje fico pensando como ficou a cara dos seus amigos, quando ele voltou à cidade no dia seguinte e contou sua aventura.
Ah! Aqueles sim, devem ter se molhado todo, só de ouvir a história e até imagino meu Tio, sentado num banco, rindo enquanto contava essa aventura.
Eita Tio valente.

E se a Tia contou, eu acredito.


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