Meu Tio era abusado... Abusado e valente
são as palavras certa para ele.
Quando pequeno, gostava de ir a casa da
Tia porque sempre tinha um causo novo para ouvir. Recentemente perdemos a Tia,
mas tanto ela como os causos sobre o Tio jamais serão esquecidos.
Conta-se na família que ele sempre foi de
sair casa pra visitar os amigos e só voltava tarde da noite. Naquela redondeza
e naquela época, diziam ser muito perigoso. Não como hoje, por causa da
violência, mas pelos perigosos e misteriosos acontecimentos que rondavam
a região.
Numa dessas noites um dos amigos de meu
Tio, companheiro de prosas e causos, o lembrou para não ir embora muito tarde,
afinal a mulher da estrada estava aparecendo na trilha que ele pegava para
voltar, sempre depois das zero hora. Como a cidade ficava um pouco longe, era
recomendado que saísse mais cedo e assim evitar qualquer encontro.
Foi só o amigo falar e o Tio, valente ou
abusado como diziam, levantou-se dizendo que não acreditava naquilo e que essa
história era bobagem, exagero.
Os amigos se entre olharam e disseram;
- Amigo, não zombe não. Lá naquela trilha,
perto da cruz que marca onde a mulher foi morta, muitos já a viram e se
molharam todo.
- Dizem que ela sobe nas carcundas dos
cavalos e faz os coitados sentá de tanto peso. - Disse outro.
- Fantasma pesado? Nunca ouvi falar disso.
Pois eu vou lá hoje e quero ver isso de perto.
O homem era abusado mesmo e muito corajoso.
Naquela noite, ele fez como havia falado. Ficou de prosa com os amigos e
ignorou seus conselhos. Quando viu que já chegava o horário que devia sair,
para chegar ao tal lugar perto da meia noite, lá foi ele montado em seu cavalo.
Já andava há algum tempo pelo caminho, que
tinha como companhia só a lua bonita, cheia e os grilos barulhentos, quando
percebeu que já chegava perto da cruz, onde a mulher aparecia. Parou o cavalo,
retirou o relógio do bolso e viu as horas. Era quase meia noite.
Afroxou as rédeas, soltou o cavalo e
seguiu em frente.
De repente seu cavalo começou a relinchar
e sair de traseira. Parecia que alguém estava puxando ele para baixo, pelo
rabo. Quando voltou sua cabeça para trás, pra ver o que acontecia, deu de cara
com uma mulher toda de branco e pálida, feito um fantasma. Ela estava sentada
em sua garupa e sorria.
O Tio não perdeu tempo. Rapidamente sacou
seu punhal e o atravessou na boca, prendendo-o com os dentes.
Naquele mesmo momento o cavalo conseguiu
se recompor e ele saiu em disparada pela estrada, sem olhar pra trás.
Se meu Tio se molhou como os outros que a
viram, eu duvido. O homem era valente mesmo.
Hoje fico pensando como ficou a cara dos seus
amigos, quando ele voltou à cidade no dia seguinte e contou sua aventura.
Ah! Aqueles sim, devem ter se molhado
todo, só de ouvir a história e até imagino meu Tio, sentado num banco, rindo
enquanto contava essa aventura.
Eita Tio valente.
E se a Tia contou, eu acredito.
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