sexta-feira, 21 de março de 2025

2ª Sexta-feira - Não olhe na lixeira

 

Não olhe na lixeira

 

Essa rua sem saída, a primeira a direita após passar pelo postinho de saúde, era um problema.

No bairro periférico de Igarapés, onde ficava, as luzes da cidade mal alcançavam. Tudo era precário, e a linha de ônibus mais próxima passava apenas duas vezes ao dia — um pela manhã e outro já tarde da noite. A rua era isolada, esquecida por todos. Nem o caminhão de lixo se aventurava por ali. Por isso, causou espanto a aparição repentina de uma lixeira grande, robusta, na esquina do primeiro terreno na entrada da rua.

O proprietário do terreno, tomado pela fúria, destruiu a lixeira diante de todos, seus pedaços espalhados pelo chão de terra batida. Mas, ao amanhecer, lá estava ela, intacta, como se jamais tivesse sido tocada. As pessoas, incrédulas, sussurravam teorias nervosas, tentando racionalizar o impossível. Era só uma lixeira. Não podia ser mais do que isso. Certo?

Os primeiros desaparecidos foram os catadores de recicláveis. De tempos em tempos, eles passavam pela rua recolhendo materiais para vender. Era sempre uma troca amigável, mas, de repente, o carrinho vazio ficou abandonado na calçada, suas rodinhas ainda girando. Quem depositava o lixo parecia seguro, mas abria sua tampa e olhavam para o fundo da lixeira — especialmente ao cair da noite — eram sugados por uma escuridão espessa. Sumiam. E ninguém via.

Ninguém, exceto um passageiro de ônibus. Tarde da noite, ao olhar pela janela suja quando passava por ali, viu uma sombra se contorcendo, sendo tragada pela lixeira.

— Vocês viram isso? — gritou, o dedo trêmulo apontando para a rua.

Os outros passageiros se acotovelaram para ver, mas era tarde demais. A rua estava deserta. Apenas dois que confirmaram ter visto algo. Dias depois reconheceram a vítima por uma foto como o catador que sempre passava ali. Mas as autoridades não deram crédito. Para elas, era apenas mais uma lenda urbana.

A prefeitura, para acalmar os ânimos, destruiu a lixeira e colocou uma caçamba no lugar. No dia seguinte, a lixeira estava de volta. A caçamba havia desaparecido sem deixar rastro. O silêncio pairou pesado sobre a rua. As sombras pareciam mais longas, os ruídos mais altos. Todos temiam abrir e desafiar a lixeira.

Uma noite, um morador antigo também desapareceu. Ninguém ouviu gritos, apenas o som metálico de algo se fechando. Os vizinhos, aterrorizados, colaram cartazes feitos à mão: “Não se aproximem dessa lixeira. Perigo de morte!”

Mas a curiosidade é uma praga. Sempre há alguém disposto a desafiar o desconhecido.

Desta vez, a destruição foi acompanhada pela vigília de dois policiais. Na manhã seguinte, os policiais haviam sumido. A lixeira permanecia. As portas das casas trancaram-se cedo naquela noite. O medo tinha dentes, e todos sentiam a mordida.

Falaram em chamar o padre, pedir uma bênção. Mas a vergonha superou o pavor. Quem chamaria um padre para uma lixeira? Ninguém. E outro morador se foi.

A lixeira então desapareceu, tão abruptamente quanto surgiu. Ninguém ousava falar sobre o que aconteceu. Alguns diziam que era um portal para outra dimensão. Outros, que era uma manifestação do mal, uma boca faminta, esperando ser alimentada. Mas todos sabiam: aqueles que olharam para o fundo dela nunca mais voltaram.

Se um dia você encontrar uma lixeira solitária em uma rua deserta, resista ao impulso de espiar seu interior. Às vezes, o lixo não é o pior que ela pode guardar

No bairro periférico de Igarapés, onde ficava, as luzes da cidade mal alcançavam, esgoto encanado não tinha. Linha de ônibus só no asfalto a uma certa distância dali e eram só dois por dia, ou melhor, um de dia e outro no final da noite. A rua era isolada de tudo e nem o coletor de lixo passava ali. Os moradores, acostumados ao abandono das autoridades, estranharam a aparição repentina de uma lixeira grande, na esquina do primeiro terreno na entrada da rua.

O proprietário do terreno, indignado pela ousadia da construção e por não ter autorizado a instalação, destruiu a lixeira diante de todos, reduzindo-a a pedaços.

No entanto, ao amanhecer de um novo dia, a lixeira estava intacta, sem qualquer sinal de dano. Os vizinhos, incrédulos, especulavam sobre o ocorrido, atribuindo-o a brincadeiras de mau gosto ou loucura do destruidor dela. Mas a realidade se mostraria mais sombria.

Os primeiros a desaparecer foram catadores de recicláveis que sempre recolhia produtos dos moradores da rua sem saída. Relatos surgiram de que aqueles que abriam a lixeira e depositavam seu saco de lixo, nada acontecia, mas os que olhavam em seu interior no horário tarde da noite, eram sugados para dentro, sumindo sem deixar vestígios.

Um único transeunte, ao passar tarde da noite pela janela de um ônibus, testemunhou uma sombra sendo engolida pela lixeira.

 

— Vocês viram isso! — Gritou apontando para o início da rua, fazendo com que várias pessoas corressem a sua janela.

 

Apesar de só dois passageiros afirmarem terem visto e reconhecerem por fotos que a pessoa devorada pela lixeira como um catador conhecido, seus relatos foram recebidos com descrença e escárnio.

A versão do caso cresceu e chegou até a cidade.

As autoridades locais, céticas, desconsideraram as denúncias, tratando-as como lendas urbanas ou histórias fantasiosas para chamar a atenção.

Para acalmar os moradores, no final da tarde seguinte, a prefeitura destruiu outra vez a sinistra lixeira e colocou uma caçamba grande em seu lugar, mas no dia seguinte a lixeira estava novamente lá e a caçamba havia desaparecido. E assim ficou por mais uns dias.

Certa noite, um antigo morador conhecido por todos na rua, também desapareceu. A comunidade, tomada pelo medo, evitava a lixeira e colocaram cartazes feito a mão com os dizeres:

 

“Não se aproximem dessa lixeira, perigo de morte!”

 

Mas a curiosidade humana é uma força poderosa.

Nova destruição ocorreu, nova caçamba colocada no local e uma dupla de policiais foi colocada em vigia. No dia seguinte os policiais haviam desaparecidos e a lixeira estava novamente lá.

Pensaram no padre local, talvez uma benção especial resolvesse, porém o ridículo de benzer uma lixeira deixou a ideia de lado. Antes tivessem tentado. Houve um novo desaparecimento.

O mistério da lixeira amaldiçoada permaneceu por dias, até que misteriosamente ela desapareceu.

 Alguns dizem que era um portal para outra dimensão; outros acreditam que é uma manifestação do mal. Mas uma coisa é certa: aqueles que ousaram olhar em seu interior nunca mais foram vistos.

Se um dia você se deparar com uma lixeira solitária em uma rua deserta, lembre-se desta história e resista à tentação de espiar seu conteúdo. A curiosidade pode ser irresistível, mas no bairro Igarapés, ela pode custar sua vida.

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