Tudo na vida tem uma explicação, menos o inexplicável. A vida é assim, ainda que não possamos entender alguns fatos ou causos legítimos, insistimos em acreditar que eles nunca aconteceram, mesmo sabendo que muito provavelmente são verdades.
Aos amigos do Igarapés e demais amigos, que receberão nas próximas 13 sextas-feiras,
contos retratando um pouquinho de mistério e coisa sinistras, que podem ter
acontecido ou que acontecerá, no Igarapés.
Bem-vindo ao bairro
Igarapés
Assim
era e será: narrativas do medo.
Igarapés é um lugar sinistro. Na
verdade, os eventos não ocorrem apenas no bairro; como uma maldição, os
mistérios perseguem pelo mundo aqueles que aqui nasceram ou moraram. Se você já
morou aqui, sabe disso.
Talvez você duvide de cada palavra que
estou prestes a escrever. Afinal, a ficção moderna frequentemente ultrapassa os
limites do crível, tornando tudo mais estranho e inacreditável. Há muito que
ainda não compreendemos. O que desconhecemos, rotulamos como mistério; aquilo
em que não acreditamos, descartamos como fantasia. Já ouvi inúmeros relatos:
devotos religiosos narrando experiências sobrenaturais; trabalhadores noturnos
em locais isolados compartilhando encontros macabros; profissionais de necrotérios,
cemitérios e institutos médico-legais jurando que suas vivências sobrenaturais ao
lado de cadáveres são a mais pura verdade.
Certamente, você já se deparou com
histórias assim, seja ouvindo, lendo ou até vivenciando. E é provável que me
considere insano, desprovido de razão. Mas, meu amigo, asseguro-lhe: nunca
estive tão lúcido.
Desde os recônditos vales de Minas
Gerais, onde ecos de eventos absurdos persistem, até os solitários campos das
chapadas, repletos de narrativas sobre o sobrenatural e a bruxaria, há uma
infinidade de relatos aterrorizantes. Alguns de vocês já ouviram sussurros que
arrepiam a espinha, histórias que perturbam os sentidos e abalam as emoções,
seja na sua rua, no bairro ou na vila próxima.
Quando criança, lembro-me de minha
família, originária das profundezas de Minas Gerais, reunida ao redor de um
fogão a lenha, no rígido inverno, trocavam causos enquanto bebericavam uma
cachaça branquinha. Em suas conversas, emergiam histórias sombrias, ocultas,
que me inquietavam profundamente pela falta de explicação. Algumas dessas
narrativas permanecem vívidas em minha mente até hoje, enraizadas na minha
alma, prontas para ressurgir sempre que sinto algo estranho ao meu redor.
Não afirmo que temo essas histórias.
Muitas eram desprovidas de sentido e careciam de elementos horripilantes. No
entanto, outras que posteriormente vi, ouvi e experimentei neste canto do mundo
fizeram-me refletir sobre o que aqueles velhos parentes devem ter testemunhado
em suas vidas.
O bairro de Igarapés é como qualquer
periferia de uma cidade média. Situado no limiar da zona rural, é um lugar
esquecido por políticos e, talvez, por Deus. Aqui, ocorreram eventos nefastos:
mortes violentas, desaparecimentos inexplicáveis e situações estranhas que
desafiam a realidade climática da região. Relatos que, mesmo parecendo
exagerados ou fictícios, aconteceram de maneira tão surreal que beiram a
loucura ou a fantasia. Deixo a você a decisão sobre o que acreditar.
Naturalmente, contarei tudo através de
personagens fictícios, afinal, alguns dos envolvidos já não estão entre nós...
ou assim pensei. Sempre acreditei que, ao partirem, nos deixavam para criar
nossas próprias histórias e registrar suas experiências. Hoje, sei que não é
bem assim. Sim, é isso mesmo: alguns moradores de Igarapés juram ter visto
pessoas que há muito foram enterradas, carregadas em caixões para suas covas ou
jazigos. Alguns afirmam que eles retornaram. Se é verdade ou mentira, não sei.
Sou um autor de histórias juvenis,
sempre criando contos para entreter. Até que, numa noite, voltando para casa
após o trabalho, notei uma névoa fria descendo rapidamente, cobrindo o final da
minha rua. Aquela cortina semelhante a fumaça avançava em minha direção
justamente quando cheguei ao meu portão. Senti um calafrio diante daquele
avanço rápido que logo me envolveria, enquanto tentava, com mãos trêmulas,
inserir a chave na fechadura. Vindo de outras paragens, terras não muito
distantes, de uma cidade próxima à capital, estabeleci-me neste bairro isolado
e nunca havia presenciado algo assim. Quando finalmente ouvi o clique da
fechadura, uma mão gélida repousou pesadamente em meu ombro, e uma voz rouca
sussurrou ao meu ouvido: "Boa noite, escritor. Estranha essa névoa, não
é?"
Virei-me imediatamente e não havia
ninguém. Nesse instante, a névoa me envolveu e começou a se dissipar. Voltei-me
novamente para o portão e ouvi a mesma voz, agora distante, dizendo:
"Conte nossa história, meu amigo." A voz emergia do meio da escuridão
e da névoa que se desvanecia rapidamente.
Hoje, após anos como morador de
Igarapés, posso afirmar com convicção: o que está escrito aqui pode não ser
semelhante ao que você já ouviu ou viveu, mas, se conhece este lugar,
acreditará em mim. Portanto, se reside por aqui, certifique-se de que sua porta
está bem trancada à noite. Antes de apagar as luzes, coloque um copo de água
pura sobre a geladeira e mantenha uma vela à mão. Um terço ou rosário na
mesinha ao lado da cama também pode ser útil. Agora, se decidir realmente ler
estes contos, que Deus lhe proteja.
Sexta-feira é um dia ideal para leitura.
Você pode relaxar da semana pesada, portanto serão 13 sextas-feiras que
receberá essas histórias, sendo a última uma sexta feira13 e lembre-se foi
alguém quem pediu para escrever e te enviar. Melhor ler... Boa leitura.
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