sexta-feira, 7 de março de 2025

Contos do Igarapés

 


T
udo na vida tem uma explicação, menos o inexplicável. A vida é assim, ainda que não possamos entender alguns fatos ou causos legítimos, insistimos em acreditar que eles nunca aconteceram, mesmo sabendo que muito provavelmente são verdades.

Aos amigos do Igarapés e demais amigos, que receberão nas próximas 13 sextas-feiras, contos retratando um pouquinho de mistério e coisa sinistras, que podem ter acontecido ou que acontecerá, no Igarapés.



Bem-vindo ao bairro Igarapés

Assim era e será: narrativas do medo.

 

Igarapés é um lugar sinistro. Na verdade, os eventos não ocorrem apenas no bairro; como uma maldição, os mistérios perseguem pelo mundo aqueles que aqui nasceram ou moraram. Se você já morou aqui, sabe disso.

 

Talvez você duvide de cada palavra que estou prestes a escrever. Afinal, a ficção moderna frequentemente ultrapassa os limites do crível, tornando tudo mais estranho e inacreditável. Há muito que ainda não compreendemos. O que desconhecemos, rotulamos como mistério; aquilo em que não acreditamos, descartamos como fantasia. Já ouvi inúmeros relatos: devotos religiosos narrando experiências sobrenaturais; trabalhadores noturnos em locais isolados compartilhando encontros macabros; profissionais de necrotérios, cemitérios e institutos médico-legais jurando que suas vivências sobrenaturais ao lado de cadáveres são a mais pura verdade.

Certamente, você já se deparou com histórias assim, seja ouvindo, lendo ou até vivenciando. E é provável que me considere insano, desprovido de razão. Mas, meu amigo, asseguro-lhe: nunca estive tão lúcido.

Desde os recônditos vales de Minas Gerais, onde ecos de eventos absurdos persistem, até os solitários campos das chapadas, repletos de narrativas sobre o sobrenatural e a bruxaria, há uma infinidade de relatos aterrorizantes. Alguns de vocês já ouviram sussurros que arrepiam a espinha, histórias que perturbam os sentidos e abalam as emoções, seja na sua rua, no bairro ou na vila próxima.

Quando criança, lembro-me de minha família, originária das profundezas de Minas Gerais, reunida ao redor de um fogão a lenha, no rígido inverno, trocavam causos enquanto bebericavam uma cachaça branquinha. Em suas conversas, emergiam histórias sombrias, ocultas, que me inquietavam profundamente pela falta de explicação. Algumas dessas narrativas permanecem vívidas em minha mente até hoje, enraizadas na minha alma, prontas para ressurgir sempre que sinto algo estranho ao meu redor.

Não afirmo que temo essas histórias. Muitas eram desprovidas de sentido e careciam de elementos horripilantes. No entanto, outras que posteriormente vi, ouvi e experimentei neste canto do mundo fizeram-me refletir sobre o que aqueles velhos parentes devem ter testemunhado em suas vidas.

O bairro de Igarapés é como qualquer periferia de uma cidade média. Situado no limiar da zona rural, é um lugar esquecido por políticos e, talvez, por Deus. Aqui, ocorreram eventos nefastos: mortes violentas, desaparecimentos inexplicáveis e situações estranhas que desafiam a realidade climática da região. Relatos que, mesmo parecendo exagerados ou fictícios, aconteceram de maneira tão surreal que beiram a loucura ou a fantasia. Deixo a você a decisão sobre o que acreditar.

Naturalmente, contarei tudo através de personagens fictícios, afinal, alguns dos envolvidos já não estão entre nós... ou assim pensei. Sempre acreditei que, ao partirem, nos deixavam para criar nossas próprias histórias e registrar suas experiências. Hoje, sei que não é bem assim. Sim, é isso mesmo: alguns moradores de Igarapés juram ter visto pessoas que há muito foram enterradas, carregadas em caixões para suas covas ou jazigos. Alguns afirmam que eles retornaram. Se é verdade ou mentira, não sei.

Sou um autor de histórias juvenis, sempre criando contos para entreter. Até que, numa noite, voltando para casa após o trabalho, notei uma névoa fria descendo rapidamente, cobrindo o final da minha rua. Aquela cortina semelhante a fumaça avançava em minha direção justamente quando cheguei ao meu portão. Senti um calafrio diante daquele avanço rápido que logo me envolveria, enquanto tentava, com mãos trêmulas, inserir a chave na fechadura. Vindo de outras paragens, terras não muito distantes, de uma cidade próxima à capital, estabeleci-me neste bairro isolado e nunca havia presenciado algo assim. Quando finalmente ouvi o clique da fechadura, uma mão gélida repousou pesadamente em meu ombro, e uma voz rouca sussurrou ao meu ouvido: "Boa noite, escritor. Estranha essa névoa, não é?"

Virei-me imediatamente e não havia ninguém. Nesse instante, a névoa me envolveu e começou a se dissipar. Voltei-me novamente para o portão e ouvi a mesma voz, agora distante, dizendo: "Conte nossa história, meu amigo." A voz emergia do meio da escuridão e da névoa que se desvanecia rapidamente.

Hoje, após anos como morador de Igarapés, posso afirmar com convicção: o que está escrito aqui pode não ser semelhante ao que você já ouviu ou viveu, mas, se conhece este lugar, acreditará em mim. Portanto, se reside por aqui, certifique-se de que sua porta está bem trancada à noite. Antes de apagar as luzes, coloque um copo de água pura sobre a geladeira e mantenha uma vela à mão. Um terço ou rosário na mesinha ao lado da cama também pode ser útil. Agora, se decidir realmente ler estes contos, que Deus lhe proteja.

Sexta-feira é um dia ideal para leitura. Você pode relaxar da semana pesada, portanto serão 13 sextas-feiras que receberá essas histórias, sendo a última uma sexta feira13 e lembre-se foi alguém quem pediu para escrever e te enviar. Melhor ler... Boa leitura.

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