sexta-feira, 29 de julho de 2011

O Hulk laranja

Era uma segunda-feira à noite. Mais uma vez, fui surpreendido.

Trabalhava em casa, já bem tarde, quando me vi parando diante da tela, mergulhado em pensamentos...

Lembrei da infância. De como, naquela época, tudo parecia perfeito. O mundo girava ao nosso redor, como se fosse feito só para nós. As coisas simplesmente aconteciam — bastava sair à rua e a mágica estava lá.

O tempo andava devagar. Cada dia durava um dia inteiro. Cada hora era respeitada em sua hora. Mas o tempo passou. O mundo ganhou velocidade, novos sons, novas cores, e nós crescíamos puxando atrás uma geração inteira.

Para os que estavam chegando, tudo era novidade. Tudo parecia complicado. Por que, por exemplo, a cor era marrom e não “amarrom”? Se temos amarelo, por que não marelo? Para eles, talvez fôssemos nós os responsáveis por complicar o mundo.

Mas criança é criança. Não importa em que época viva — ela sempre vai enxergar a vida com olhos de descobrir.

Hoje, poucos pais param para explicar o porquê das coisas. Somos a enciclopédia mais próxima deles, e mesmo assim nos calamos. Poucos pegam seus filhos pela mão para mostrar que, no fim do arco-íris, não há pote de ouro... mas pode haver uma outra forma de riqueza. A gente diz que não tem tempo. Tudo é rápido. Tudo é urgente.

Não me lembro de ter me oferecido para ler O Pequeno Príncipe ao meu filho. Hoje ele tem 23 anos.

Ainda diante do computador, com os dedos imóveis sobre o teclado, fui puxado de volta ao presente por um toque leve na camisa. Ao virar, encontrei minha filha, com seus olhos brilhando.

Ela me lembrou da promessa: assistir ao Quarteto Fantástico juntos. Mas eu ainda tinha tanto trabalho...

Foi então que ouvi sua voz suave:

— Pai... vamos ver o Hulk Laranja?

Sorri. Como não sorrir? Ela tinha acabado de dar um nome perfeito ao Coisa. “Hulk Laranja” fazia todo o sentido.

Acariciei seus cabelos, desliguei tudo, a peguei no colo e fomos. Fomos ver o Hulk Laranja.

Porque, às vezes, é nesse instante que a vida acontece.
Porque as crianças nos ensinam mais do que muitas escolas desse mundo.



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