Trabalhava em casa, já bem tarde, quando me vi parando diante da tela, mergulhado em pensamentos...
Lembrei da infância. De como, naquela época, tudo parecia perfeito. O mundo girava ao nosso redor, como se fosse feito só para nós. As coisas simplesmente aconteciam — bastava sair à rua e a mágica estava lá.
O tempo andava devagar. Cada dia durava um dia inteiro. Cada hora era respeitada em sua hora. Mas o tempo passou. O mundo ganhou velocidade, novos sons, novas cores, e nós crescíamos puxando atrás uma geração inteira.
Para os que estavam chegando, tudo era novidade. Tudo parecia complicado. Por que, por exemplo, a cor era marrom e não “amarrom”? Se temos amarelo, por que não marelo? Para eles, talvez fôssemos nós os responsáveis por complicar o mundo.
Mas criança é criança. Não importa em que época viva — ela sempre vai enxergar a vida com olhos de descobrir.
Hoje, poucos pais param para explicar o porquê das coisas. Somos a enciclopédia mais próxima deles, e mesmo assim nos calamos. Poucos pegam seus filhos pela mão para mostrar que, no fim do arco-íris, não há pote de ouro... mas pode haver uma outra forma de riqueza. A gente diz que não tem tempo. Tudo é rápido. Tudo é urgente.
Não me lembro de ter me oferecido para ler O Pequeno Príncipe ao meu filho. Hoje ele tem 23 anos.
Ainda diante do computador, com os dedos imóveis sobre o teclado, fui puxado de volta ao presente por um toque leve na camisa. Ao virar, encontrei minha filha, com seus olhos brilhando.
Ela me lembrou da promessa: assistir ao Quarteto Fantástico juntos. Mas eu ainda tinha tanto trabalho...
Foi então que ouvi sua voz suave:
— Pai... vamos ver o Hulk Laranja?
Sorri. Como não sorrir? Ela tinha acabado de dar um nome perfeito ao Coisa. “Hulk Laranja” fazia todo o sentido.
Acariciei seus cabelos, desliguei tudo, a peguei no colo e fomos. Fomos ver o Hulk Laranja.
Porque, às vezes, é nesse instante que a vida acontece.
Porque as crianças nos ensinam mais do que muitas escolas desse mundo.
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