Essa
história de eu dormir, ou quase, na rodoviária todas as segundas, tem
suas vantagens.
Primeiro, porque estou ganhando novos e diversificados amigos, os
colegas que passam a noite trabalhando na limpeza e manutenção. Também consigo me dedicar mais a leitura. Apesar da última
noite termos compartilhado um clima de 17 graus, parece que eles não sentem o frio.
Enquanto me encolho num banco para esquentar-me e cochilar um pouco, sob o
olhar cuidadoso dos colegas, eles não param de se movimentar.
Numa dessas, uma dessas colegas deu uma pausa no trabalho e sentou-se ao
meu lado. Olhou o volumoso livro, Operação Cavalo de Troia, mais de 1000
páginas, que estou lendo e perguntou-me se eu lia a bíblia. Parando com a
leitura para dar-lhe atenção, respondi positivamente.
A segunda pergunta seguiu a mesma linha. Se eu era evangélico.
Disse que não. Falei que era crente. Crente em Deus.
Olhou-me atentamente e fulminou. - É mais fácil assim, né.
Levantou-se e voltou ao trabalho.
É claro que não mais consegui ler. Fiquei pensando naquilo. Por que seria mais fácil?
Mil coisas passaram por minha cabeça, mas não consegui formular
uma resposta para aquela pergunta. Fechei e guardei o livro. Peguei agora o
Sudoku e tentei me concentrar numa coisa lógica para calar a mente, dando-lhe
com o que se ocupar.
Não deu certo. Então, lá vou eu atrás da colega.
Convidei-a para tomar um chocolate quente, afinal os 17 graus
dava uma sensação de pelo menos 10 e um leve vento me deixava com o nariz de
esquimó, vermelho e gelado.
Questionei-a pelo pensamento e ela gentilmente respondeu:
- É mais fácil, porque quando se crê Nele e deixa que
Ele cuide de sua vida, as coisas se resolvem sozinhas. Quando se busca através
de motivos, a crença é mais fraca, assim confundimos e não entendemos o que Ele
nos dá.
Retornando ao gélido banco e olhando em torno, percebi que a
rodoviária, nessa noite, estava completamente vazia. Havia apenas eu e os colegas
da manutenção, não tinha sequer uma pessoa na espera do amanhecer, aguardando o
primeiro ônibus do dia, nem ao menos um policial, que é
muito comum nas madrugadas da rodoviária. Foi a primeira vez que me senti só,
ali na enormidade de vazios em torno de mim.
Assustei-me? Não.
A colega tinha razão. Quando se entrega sem
questionamento, é tudo muito mais simples, tudo parece normal e tranquilo.
Qualquer mal estar, desconfiança ou desconforto some.
Debrucei-me sobre a mochila e cochilei como se estivesse em
minha cama.
Quando o alarme do celular tocou, já estava acordado e meu bom dia saiu
mais leve.
O ônibus encostou e voltei pra casa mais animado que
nunca.
No meu caminho, seja qual for, ainda que fora do alcance dos olhos, sei que tem mais alguém comigo.
Obrigado por estar eternamente ao meu lado e me encaminhar pessoas que sempre me alertem que somos mais que um.
Ele sempre está comigo.
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