Toda segunda-feira, encontro abrigo na rodoviária. É um lugar
que, à primeira vista, poderia parecer frio e impessoal, mas que, para mim, se
tornou um espaço de encontros e reflexões. Os colegas da limpeza e manutenção,
com suas rotinas silenciosas, tornaram-se companheiros de jornada. Enquanto
eles se movem com precisão, eu me encolho em um banco, tentando aquecer o corpo
e a alma.
Numa dessas madrugadas, uma colega se aproximou. Observou o
livro volumoso que eu lia — Operação Cavalo de Troia — e perguntou se eu
lia a Bíblia. Respondi que sim, e ela, com um olhar penetrante, perguntou se eu
era evangélico. Neguei, dizendo que sou apenas crente em Deus. Ela se levantou,
murmurou: "É mais fácil assim, né", e voltou ao trabalho.
Fiquei com aquela frase ecoando na mente. O que ela quis
dizer com "mais fácil"? Será que a fé verdadeira exige rituais
específicos? Ou será que a simplicidade da crença é, de fato, a mais pura?
Decidi procurá-la. A convidei para um chocolate quente, já
que o frio cortante da madrugada fazia o nariz arder. Sentamos e conversamos. Ela
explicou que, ao entregar-se plenamente a Deus, sem questionamentos, a vida se
torna mais leve, mais compreensível. Que a busca por motivos e explicações pode
turvar a visão daquilo que Ele nos oferece.
Voltei ao meu banco, agora com uma sensação de paz. A
rodoviária, antes vazia e silenciosa, parecia agora um santuário. A solidão deu
lugar à companhia divina. Adormeci ali mesmo, com a certeza de que, mesmo nos
lugares mais inusitados, nunca estou verdadeiramente só.
Deus está comigo, sempre.
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