quarta-feira, 1 de maio de 2013

Eu estava lá!


Enquanto tomava um caldinho em casa, numa dessas noites pra lá de gelada, vi um documentário sobre o ex-presidente Lula. Em certa parte da narração, parei congelado. Não pelo frio, mas pelas memórias que, de repente, encheram minha mente.
Apareceu uma cena feita no estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, que reconheci. Era uma assembleia de trabalhadores, uma reunião dos metalúrgicos do ABC, em 1980. Eu estava lá.
Voltou tudo como um filme sendo rebobinado. Sentia-me numa cadeira do tempo, vendo tudo retroagir até aquele dia.
Na véspera de meu aniversário, saí de casa após o almoço, sem avisar aonde ia pra minha mãe que, com certeza, se soubesse não me deixaria ir. Aqueles eram tempos difíceis e até perigosos, principalmente para esse tipo de reunião. Mas para mim, um jovem adolescente que iniciava a vida profissional, trabalhando em uma metalúrgica que fabricava máquinas de lavar industrial,  era apenas mais uma aventura.
Seria a primeira participação em uma assembleia sindical, mas a preocupação não estava em defender a classe. Como todo bom adolescente, o que me interessava era a farra e a diversão. Foi quase assim...
No citado estádio, havia muita gente. Trabalhadores de todo o Grande ABC paulista e no meio dessa muvuca toda, eu, Gerson, conhecido como o pegador de meninas, Tatu, o maluco roqueiro (ele pintou a mão, minha primeira camiseta de rock, da banda Kiss), e o pinguinha, tentem adivinhar o porquê do apelido deste.
Assim que chegamos, vimos um mar de pessoas, milhares. Aprofundamo-nos no meio daquela massa de trabalhadores, na direção do palco montado para os dirigentes do sindicato 
Tudo naquele dia era festa e alegria. Então, através de um megafone, fomos chamados a prestar atenção a um palanque onde se encontrava alguns colegas falando. Estávamos bem próximo do palanque quando um cara barbudo, com a língua presa começou a falar. Confesso que não entendia nada, estava mais a fim de conversar com umas companheiras da Volks.
Sem perceber, separei-me dos meus amigos. Eles ficaram pra trás e meu foco era outro ou outras. Às vezes todos gritavam, sei lá eu o que ou o porquê, mas eu fazia coro com eles. Estava tudo bem até ali, já havia passado um bom tempo e de repente começou a correria e gritos de ordem, vindos do palanque. O tal barbudo sumiu e só então entendi.  Aquela massa toda começava a movimentar-se para sair do estádio. 
Chegaram várias viaturas da polícia e todo mundo começou a correr pra todo lado. Eu, no meio da bagunça, não sabia se ia pra um lado ou para outro. Aliás, nem sabia o porquê eu tinha que ir pra algum lugar, não tinha feito nada.
Bem,  como não sou besta, vi a entrada do estádio e fui para aquela direção, mais arrastado do que andando por vontade própria. Foi quando vi aquele batalhão de policiais vindo em nossa direção. O que fazer? Correr? Quem me conhece sabe que não sou de correr. Bem... É porque não posso mesmo.
O encontro com o batalhão se deu e foi chocante, pra mim, pois levei uma borrachada, que hoje, aqui sentado em minha casa, mais de trinta anos depois, ainda congelado, com a colher imóvel longe da boca, passei a mão sobre as nádegas pra aliviar uma dor que estava na memória.
É claro que nunca mais fui me divertir em assembleias. Meus amigos? Sei lá onde se meteram naquele dia. Porém, dois dias depois, na minha sessão no trabalho, enquanto os colegas contavam vantagens daquele dia, eu era o único que almoçava de pé.
Ainda  tentei identificar alguém no documentário, mas além do barbudo, não reconheci ninguém.
O Gerson deve ter arrumado uma companheira metalúrgica e se mandado dali. Tatu, esperto como ninguém, deve ter se escondido em alguma toca. E o Pinguinha?  Ah! Esse é fácil de saber onde estava na hora da bagunça. Provavelmente em alguma barraquinha, do lado de fora do estádio, tomando uma. Apenas este que escreve mais essa "dolorida aventura", ficou pra conhecer e viver a história, que sem saber, escrevíamos naquele dia.
Ah! O destaque da foto? Até parece comigo, mas creio que não seja eu. Bem... Acreditem se quiser. Eu estava lá.
Feliz dia do trabalho!


Cuide de Sua Saúde!

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