Eu estava na segunda fila, é claro. Não era
assim experiente pra puxar a turma toda.
Mas quando eu bati no
meu tambor... Aquele “tum” incendiou todos e o ritmo ficou alucinante. Foi
INCRÍVEL. Um após o outro, os bumbos produziram outros “tuns” e tambores
repicavam “tum, tum, tum”. O som parecia invadir meu sangue, correndo
desesperadamente rumo ao coração. Sentia seu desespero ao acelerar em minhas
veias, derrapando e espirrando nas curvas, contornando órgãos e
disparando rumo ao meu coração.
E então, de repente...
Um “TUM” maior se fez e meu coração explodiu de alegria...
Eu estava tocando com o
Olodum... Era demais!
Éramos cerca de quarenta
pessoas, todas com camisas brancas, com o símbolo do Olodum estampado no peito.
Era um frenesi incomum, todos sorrindo e batendo forte nos instrumentos,
acompanhando num ritmo perfeito. Impossível ficar parado seja com o corpo ou
com as batidas do coração.
Lembrei-me imediatamente
do clipe do Michael Jackson. Conseguia vê-lo subindo a ladeira do Olodum, se
dirigindo para a praça cercado pela multidão. Então me senti mais forte e
feliz. Era incrível, eu estava vivendo uma magia.
As pessoas nos cercaram
e acompanharam com o balançar do corpo, com palmas e gritos enlouquecidos.
Gritos como o do Michael... “Oh!”
Os colegas, como numa
coreografia ensaiada, começaram a levantar os tambores acima da cabeça, num
efeito dominó, até que chegou a minha vez e pensei: - “Como vou consegui-lo,
vou cair”.
Na verdade, não sei
como, mas quando percebi, estava com o braço esticado ao máximo e com meu
tambor no alto, seguro e firme, enquanto a outra mão o batia com força, repetindo
mais “tuns”. Olhei assustado para o alto e para baixo. Como consegui? E cadê a
minha ben...
Foi então que escutei
uma voz familiar.
- Filho, segura o
pandeiro direito, mas para o alto... Não vá deixar cair!
Pandeiro? Que pandeiro?
Olhei para minhas mãos e
só então voltei à realidade.
Realmente eu estava em
Salvador, no Pelourinho, próximo ao quarteirão do Olodum, mas, não
havia Michael Jackson e nem multidões. A não ser... As pessoas da
longa fila de espera, reclamando minha demora. Também queriam tirar uma foto
como esta minha.
Suspirei fundo... E dei
a vez para o próximo da fila.
Eu quase consegui...
Olodum...
Vai vendo...
Cadê o homem que acorda escutando rock? O que a Bahia não faz, hein?
ResponderExcluirAcho que tomei demais o sol forte de Salvador na cabeça... Mas até que fiquei bonitinho, não acha?
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