Partindo do princípio que a disposição de encarar as coisas pelo seu lado positivo é considerada como otimismo, eu sou um otimista.
Não tenho medo de obstáculos ou desafios, acredito demais em superação e que as coisas mais difíceis sempre terminarão com um desfecho positivo. Mas nem sempre dá pra segurar uma onda...
Precisávamos demais que as coisas dessem certo naquele dia, afinal enfrentaríamos o Taubaté, mais conhecido como "Burro da Central". Um time de futebol complicado e que sempre nos dava um sufoco. Tínhamos um bom histórico contra eles e precisávamos de apenas um empate pra disputar a semifinal do Paulistinha. E foi então que tudo começou...
Primeiro o ônibus que pegamos pra ir ao estádio Bruno Daniel quebrou, mas não me desanimou. Viemos ao jogo pra vencer e venceríamos os vinte minutos de caminhada até o estádio. Estávamos em um número considerável de torcedores e partimos debaixo de um sol maravilhoso. Todos muito confiantes em direção à arena da vitória.
Pra entrar tivemos que enfrentar uma fila quilométrica. Não havia duvida, o estádio estaria lotado naquela tarde de domingo, em que também comemoraríamos a passagem para a semifinal.
Quando estávamos chegando próximo à bilheteria, veio o informe: Acabaram os ingressos. Foi uma bagunça só. O povo reclamando, gente exaltada, revoltada. Mas eu... Hahaha... Era só otimismo e alegria. Fui em direção aos cambistas. Que levaram de mim, o dobro do valor do ingresso. Não sobrou quase nada do meu dinheiro, apenas um pouco pra cervejinha. Um roubo. Mas eu estava dentro, ia ver meu Ramalhão despachar o time do Vale do Paraíba pra casa, isso que importava.
Já dentro do estádio, fui direto para o bar pegar uma cerveja e...
- Acabou a gelada.
Como assim, acabou? Os organizadores estimaram um público bem menor e quem entrou mais cedo limpou tudo. Vai vendo... Mas não tem problema, vai uma cerveja quente mesmo, estamos em festa.
Mal dei uns cinco passos e um distraído trombou comigo. Lá se foi minha cerveja para o chão. Maleditos copos de papel. Mas vamos em frente, logo o jogo começa.
Foi nesse dia que conheci a turma do amendoim. Um grupo de velhinhos que em todos os jogos, se reúnem numa fileira, no meio da arquibancada e comentam os jogos, enquanto comem um monte de amendoim torrado Mania que tenho até hoje. Acho que virei um deles e nem percebi.
Lá estava eu, devorando o meu amendoim com o saquinho do meu lado direito, quando percebi que o velhinho ao meu lado também os comia, o fitei e ele me sorriu dizendo.
- Acredito filho, hoje vamos ganhar de 2x0. Quer um amendoim?
Mas que velhinho folgado. Comendo meus amendoins e ainda me oferecendo como se fosse dele. Nada de stress. Deixei o coitado pensando assim e até aceitei pegar , sem esquecer-me de agradecer, é claro.
Começou o jogo e só dava meu Santo. Foi bola na trave, goleiro salvando gols, fazendo milagres, zagueiros apavorados chutando a bola pra longe e nada deles nos atacar. Seria de goleada, estava na cara.
- “Apita o arbitro. Termina o primeiro tempo.” Anunciou o radinho de um dos velhinhos.
Já no inicio do segundo tempo, domínio total do Glorioso. Mas, de repente, tudo começou a mudar.
Primeiro, foi o tempo. Aquele sol agradável do inicio da partida, deu lugar para nuvens carregadas e começou a desabar uma chuva forte. Como estava na arquibancada, no meio do povo e não tinha pra onde ir, entrei bem.
Os velhinhos? Todos com capas de chuva. Apenas eu estava ali, despreparado, parecendo um pintinho molhado. Mas como o jogo estava bom pra nós, aguentei. Estava...
Naquele segundo tempo encharcado só deu o Taubaté que ao contrario de nós, soube aproveitar as chances que criaram e fizeram 1x0.
Isso foi demais pros velhinhos que sumiram dali, foram embora e deixaram-me só. Eu tremia feito vara verde ao vento, de tanto frio, mas fiquei firme. Conseguiríamos empatar. Somos melhores. Dai pra frente os minutos voaram. Eles nos apertavam, pressionando em busca do segundo gol, mas eu sempre acredito e sabia que sairia um gol logo, logo. E saiu... Pra eles novamente. 2x0.
Aqueles velhinhos sabiam de tudo, foram embora na hora certa.
O juiz apitou o final do jogo.
Todo mundo foi embora e eu fiquei ali sem saber exatamente o que fazer, encharcado, com frio, decepcionado e sem meus amendoins.
Mas não desanimei. Eu sou um otimista. Levantei-me, sacudi feito um cachorro que volta da chuva e fui embora. Ano que vem a gente chega lá.
Era bom de previsões também. E não é que chegamos mesmo.
Acredito sempre.
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