A noite estava bem escura naquele dia. Não havia lua. Devia ser por volta de uma da manhã quando eu regressava pra casa. O dia tinha sido difícil e terminava ali, comigo voltando da faculdade.
Um vento forte e gelado soprava quando desci do ônibus. Junto comigo, apenas mais três pessoas desceram.
Não era comum o ônibus estar tão vazio naquele horário. É verdade que estávamos uns 45 minutos atrasados por causa de um acidente no centro. Levaram pelo menos meia hora pra liberar a rua e nos deixarem passar.
No caminho até o bairro afastado onde moro, passamos pelo cemitério municipal. Foi ali que vi, encostado no muro, um homem de terno e chapéu brancos. Como sempre estou lendo no ônibus, só o percebi de relance e voltei à leitura.
O trajeto até o bairro lembra uma serra, com iluminação parcial — visibilidade quase nula. Escuridão por todo lado. Mas enfim, chegamos.
Desci e me pus a caminhar depressa. São quatro quadras da praça até minha casa. Mal comecei a andar naquela rua deserta, senti uma presença.
Parei.
Virei-me.
Do outro lado da praça, lá estava ele: o homem de terno branco. Caminhava devagar, atravessando a rua, vindo na minha direção.
Lembrei imediatamente de tê-lo visto em frente ao cemitério. Seria o mesmo?
Não esperei confirmação. Acelerei os passos.
Não olhei mais pra trás. Enquanto caminhava, tentei ouvir qualquer som naquela madrugada silenciosa.
Foi então que, ao chegar à segunda quadra, algo estranho aconteceu.
A luz do poste, logo na primeira casa, apagou-se subitamente.
Assustei-me.
Parei.
Olhei para a luminária escura. E continuei, agora mais rápido.
Venci a segunda quadra o mais rápido que pude.
Na terceira, a mesma coisa: a luz também se apagou.
Parei outra vez. Lentamente, virei-me para trás.
Ninguém.
Mas aí, me veio à mente aquelas cenas de filme, quando o cara vira de novo pra frente e... BU!
Meu coração acelerou. Virei bruscamente, já esperando o susto.
Nada.
Correr não é bem minha especialidade... mas acho que comecei a flutuar.
Já perto de casa, com apenas três casas faltando, enfiei a mão no bolso pra pegar as chaves.
As encontrei, mas ao puxá-las... caíram no chão.
Sem iluminação, levei preciosos segundos pra achá-las. E com a sensação de que alguém podia se aproveitar daquele momento, mal recuperei as chaves e segui adiante, sem olhar pra trás, com a certeza de que os passos que vinham distantes estavam agora perigosamente perto.
Cheguei.
Enfiei a chave no cadeado do portão. Foi quando BUM! — uma pancada forte me fez quase ter um enfarte.
Era o Twoo.
Como sempre, me recepcionando com aquele entusiasmo canino.
Provavelmente minha mãe, ao alimentá-lo, esqueceu-se de acender as luzes. Tudo estava escuro.
Abri o portão o mais rápido que pude e entrei. Enfim em casa. São e salvo.
Então você me pergunta...
E o homem de branco?
Bem...
Sei lá. Talvez tenha sido só coincidência.
Claro...
Pra quem acredita em coincidências.
Eu?
Eu não.
Credo!! Acho que essas coincidências acontecem muito com vc.
ResponderExcluir