quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Uma noite do barulho

Estava tão distraído com meus escritos, que quando percebi já havia escurecido.
Até ai, sem problemas. Pelo menos eu achava que não tinha, até perceber que esqueci a porta da sala aberta até àquela hora.
Resmungando comigo mesmo pelo esquecimento, fechei-a imaginando a invasão de pernilongos e de como a noite seria difícil.
Como sempre tomei um bom banho, comi algo bem leve e fui pra cama. Dormir? Não escrever mais um pouco, as ideias estavam brotando e não queria perder o ânimo.
Preparei minha vodca gelada, acertei minha mesinha de cama improvisada. Na verdade ela consiste de uma placa de eucatex, onde se lê: "Aluga-se". É a mesma placa que estava dependurada no portão quando aluguei esta casa. Pequena, muito leve e prática para se colocar o note, até que crie vergonha e compre algo melhor, ela resolve.
Estava chovendo, refrescando a noite e fiquei até as 23h00, entre escrevendo e vendo o Dr. House. Quando o sono apertou, desliguei e guardei tudo e preparei-me para dormir. Pensei que teria uma noite tranquila e justa de bons sonhos. Quase...
Bastou eu apagar a luz e começou a cantoria.
Cri, cri,cri... Essa não um grilo entrou no meu quarto. Provavelmente o infeliz aproveitou meu esquecimento da porta aberta e achou algum cantinho para se acomodar.
Cri,cri, cri... Não tinha jeito, teria que levantar-me e expulsar o cantor invasor.
O problema foi que quando acendi a luz, ele parou de fazer barulho. Como parecia vir da sala fui até lá e comecei a procurar o inseto. Olhei pelos cantos, debaixo dos móveis e nada. Será que minha busca assustou-o e ele se mandou? Voltei pra cama e apaguei a luz.
Cri, cri, cri... Ele ainda estava por aqui.
Acendi a lâmpada novamente e ele calou-se. Assim ficava difícil, se acendia ele ficava quieto, se apagava ela cantarolava, mas eu não conseguia acha-lo.
Comecei a apagar e acender, para ir chegando perto do local. Fiquei que bem uns vinte minutos nessa caçada, tirando moveis do lugar, mexendo em tudo quando era canto, até dentro de meus tênis procurei, mas parecia que ele ia trocando de esconderijo.
Depois de mais outros vinte minutos, com a cabeça estourando de tantos cri, cri, cri, cheguei finalmente ao grilo tagarelador. Cerquei-o no banheiro. Não tinha como fugir mais de mim. Vitória, enfim voltaria para cama. Estava um caco de gente de tanto arrastar móveis e com muito sono. Então acendi o que seria a última vez naquela noite... Quer dizer tentei acender. Acabara queimando a lâmpada.
Só me faltava essa, como o acharia agora? Fui buscar outra lâmpada para substituir a queimada, mas quando a estava  rosqueando no soquete, acho que fiz algo errado, pois escutei um "tuff" e apagaram-se as demais lâmpadas da casa. Havia feito algum curto  e desarmara o disjuntor, teria que ir até o relógio de energia, próximo ao portão, debaixo de chuva e armá-lo novamente.
Ainda de pijama, bastou eu colocar os pés para fora da sala e lá veio o Twoo, com as patas sujas de barro pulando sobre mim. Lá foi eu para o chão com guarda chuva tudo. Entre meus gritos para ele se afastar e suas lambidas, consegui chegar ao relógio e armá-lo novamente.
Voltei para dentro de casa, molhado, sujo e pra lá de bravo. Coitado desse tal grilo vai pedir pra ter nascido uma joaninha.
Recoloquei a lâmpada, agora com mais cuidado, enquanto esse grilo safado berrava como se estivesse conectado em um amplificador. Na verdade fiquei até desconfiado que ele ri de mim. Assim que acendi a lâmpada novamente o vi. Lá estava aquele tagarela, de boa, olhando para mim, sobre a janelinha do banheiro. Ao  ver-me dar o primeiro passo em sua direção, ele se mandou pra fora. Covarde!
Bem, pelo menos poderia voltar a dormir. Tomei um banho, troquei de roupa e voltei pra cama.
Apaguei a luz para meu merecido sono e começou tudo de novo. Agora era os "zuns" dos pernilongos. Milhares, milhões...
- Meu Deus! Vocês combinaram um revezamento?
Levantei-me novamente e acendi as luzes. Nada.
Como eles conseguem se esconder tão rapidamente assim. Não pensei duas vezes, fui buscar o inseticida, já meio cambaleando de sono.
Pronto, descarreguei tudo e acabei com esses micros helicópteros barulhento, sem silencioso nas turbinas. Porém, o quarto ficou num cheiro medonho, mal conseguia respirar direito. Resultado:
São duas e meia da manhã e cá estou eu escrevendo mais esse texto.

Vai vendo...






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