Quando
ele entrou no ônibus, o que pensaram foi: Lá vem mais um caipira... Mas, nem
sempre as coisas são como se mostram.
Genésio,
quando subiu no ônibus “Germana”, com roupas simples e seu jeito
matuto, logo chamou a atenção. Carregava nos ombros uma mochila, já surrada e
velha, onde se via a ponta de duas varas de pesca telescópicas.
Nunca
pegara aquela linha que partia do Paiol, um bairro rural num extremo da cidade
e ia até Germana, bairro também rural, no outro extremo da cidade.
Ele
chamava atenção pelo falar, com um sotaque bem caipira e muito alegre. Isso
ficou bem evidente quando perguntou ao motorista, confirmando o destino
do ônibus.
—
Dia seu motorista. O você vai até a Germana? Perto do pesqueiro Trutão? Que
bom, então é nesse mesmo que eu vou.
Algumas
pessoas distraídas despertaram a atenção para aquele senhor,
enquanto outros começaram a sorrir, vendo o jeito do matuto.
—
Dia seu trocador, quanto custa essa viagem? Vixe sô! Num tenho trocado, não.
Mais
algumas risadas se ouviu, enquanto o motorista colocava a condução para rodar.
—
O senhor tem mais de 65 anos? Então não precisa pagar, desce pela frente.
—
É mesmo... Dia povo de trás.
—
Licença, licença... Obrigado. Vou me acomodar aqui mesmo, do lado desta linda
jovem.
Mais
risadas. Sentou-se ao lado de uma jovem, que vestia uma camiseta preta com
motivo de rock estampada com seu conjunto preferido. Tinha os cabelos
vermelhos, como na moda e na mão um mangá japonês.
—
Ô moça, desculpe... É que esse ônibus sacode demais da conta.
—
Não foi nada senhor.
—
Bonita sua blusa, moça.
—
Obrigada.
Alguns
rapazes que estavam próximo ao cobrador, começaram a rir e fazer piadinhas,
sobre o jeito de Genésio, imitando seu jeito de falar. Enquanto isso, os demais
passageiros riam. Mas ele nem ligou e continuou falando.
—
Dia bonito pra pesca, né. Quero pegar um tilapão hoje.
A
menina apenas sorriu e baixou a cabeça.
Os
rapazes começaram a falar do casal, dizendo que formavam um belo par, "o
caipira e a maluca".
A
menina toda envergonhada, se encolheu. Genésio continuava tranquilo, até que
todos ouviram um galo cantar.
—
Opa! Meu celular...
Foi
uma gargalhada geral no ônibus. Todos riam de Genésio, enquanto ele abria a
mochila para procurar o aparelho.
— Ah! Seu danado, está aqui... Alô?
Seu
aparelho era um Ipod de última geração e deixou muitos de boca aberta, enquanto
atendia a ligação.
—
Espera aí, que eu vou ver se pode negociar. – Falou com o aparelho ao ouvido.
Vasculhou
novamente dentro da mochila e sacou um tablet, diante do olhar pasmo de todos.
Conectou um molden 4G e começou a navegar pela internet.
—
Alô Ricardo, pode vender uns 50, mas você avisa pro pessoal do frigorífico que
os “otros” 150, só vendo se me pagarem a diferença do dólar. Tá certo, pro cê
também.
Na
tela do tablet, apareceu a mensagem "Negócio fechado". No instante
seguinte, abriu-se a janela do Skipe e apareceu um homem todo engravatado.
—
Sr. Genésio, consertaram o carro, vou mandar te buscar. Onde está?
—
Carece não, meu filho. Estou indo pescar com o Haroldo e ele me traz mais
tarde. Abraço.
Desligou
tudo, meio sem jeito pelo chacoalhar da condução, e guardou os pertences na
velha mochila. Conectou fones no celular e os ajeitou no ouvido.
—
Essa sua banda é muito boa moça, mas eu prefiro o Nirvana.
O
silêncio ficou presente, até que Genésio desceu em frente ao pesqueiro, onde um
grande carro importado o esperava. Ainda no último degrau, virou-se e disse.
—
Obrigado motorista e trocador. Ô gente boa, vão com Deus.
https://www.facebook.com/LivrosAdemirdeFreitas
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar. Seu comentário e opiniões são muito importante para melhorar o blog.Se não quiser deixar... Fazer o que...