Depois de uma conversa com um amigo, uma pergunta ficou martelando na minha cabeça:
— Com quem você passaria um dia, se pudesse escolher
qualquer pessoa?
Respondi sem pensar, mas algo naquela pergunta grudou em mim. Fiquei imaginando... e talvez fosse assim:
Simplesmente abri os olhos. E Ele estava ali. Na minha
frente.
Como reconhecê-Lo se nunca O vi?
— Olá. Tudo bem com você? — disse Ele com a voz mais serena
que já ouvi.
— Sim... — respondi, meio zonzo — Onde estou? Quem é você?
— Você queria passar um dia comigo — disse abrindo os braços
com um sorriso calmo.
— Aqui estou.
Olhei ao redor. Estávamos sentados em bancos macios, no meio
de um imenso campo gramado, salpicado de pequenas flores amarelas e brancas. O
lugar transbordava paz.
— Você escolheu esse cenário. Acredito que, no fundo da sua mente, era o que desejava para este momento.
— É lindo... — murmurei, encantado.
— Você tem um gosto maravilhoso. Também adoro lugares assim,
onde reina a calma.
— Você é Ele? Digo, o Senhor?
— Sim, sou — respondeu, com um leve sorriso.
Tudo ali parecia retirado de um sonho. O céu começava a se
tingir de laranja com o nascer do sol. Animais pastavam ao longe, com uma
leveza inacreditável, contornando as flores como se respeitassem a beleza
delas.
— Eu... morri? — perguntei, surpreendentemente tranquilo.
— Não, meu amigo. Você apenas desejou estar aqui. E Eu vim
ao seu encontro.
— É... eu desejei muito. Só nunca imaginei que seria
possível.
— E como você está? Apesar de tudo isso estar acontecendo
agora?
Virei para olhá-Lo de frente. E então percebi algo estranho:
eu O via com nitidez, mas não conseguia descrevê-Lo. Era como se minha mente
não soubesse processar o que via. Não havia cor, idade, raça ou traço
específico. Mas eu sabia, com todo o meu ser, que era Ele.
— Não se preocupe com isso — disse, lendo meus pensamentos.
— Apenas relaxe.
Ele riu levemente, e percebi que estava se divertindo com
minha tentativa frustrada de descrevê-Lo.
— Acho que estou bem. Mas, sinceramente, não sei o que
dizer. O que perguntar. É tudo tão... surreal.
— Tudo bem. Fique à vontade. Podemos apenas conversar, se
quiser.
— Esse lugar... é lindo demais. — Foi só o que consegui
dizer.
— E você ainda não viu tudo. Olhe para a esquerda. Sei que
você gosta de lagos.
E, como se um pintor começasse a desenhar diante de mim,
surgiu um pequeno lago de águas cristalinas. Era mágico.
— Vamos pescar?
Antes que eu respondesse, já estávamos à beira do lago, cada
um com uma vara de pesca na mão.
— Também gosto de pescar. Costumavam me chamar de pescador
de homens. Sou bom nisso — disse Ele, com um sorriso brincalhão.
Olhei surpreso e, antes que pudesse responder, Ele apontou:
— Acho que você pegou um.
Puxei a linha com entusiasmo e vi o peixe deslizar na água, relutante. Sorri. Adoro pescar. Ele sabia.
Conversamos sobre tudo. O lago, o céu, os cachorros que eu amava, os trovões que eu não suportava. Falamos sobre o espaço, o mar, a vida. Nada de perguntas profundas. Apenas conversa. Natural, leve.
Em algum momento, confessei que nunca teria coragem de andar
sobre as águas — só de pensar, me dava arrepios. Ele riu, aquele riso gostoso,
longo.
Ele também fisgou um peixe. Quando olhei o cesto ao lado
Dele, estava cheio.
— Ei, isso não é justo! Você multiplicou seus peixes!
Caímos na risada. Rimos até as lágrimas escorrerem. Foi um
dia perfeito.
O tempo passou devagar. E, quando percebi, já era hora de
ir.
Abracei-O com força. Agradeci, com o coração transbordando. E foi então que percebi: não fiz nenhuma daquelas perguntas importantes que eu sempre quis. Nenhuma. E não senti falta.
Ele colocou a mão no meu rosto, depois em meus ombros, e
disse:
— Nada é mais importante que você. Siga seu caminho com amor
e simplicidade.
Ajude, se puder. E, se não puder, pense com fé: tudo ficará
bem. E ficará.
Uma lágrima escorreu. Ele me abraçou mais uma vez. E eu só
consegui dizer:
— Eu te amo.
Abri os olhos.
Minha família estava reunida ao meu redor, cantando
parabéns. Era meu aniversário.
Obrigado pelo presente.
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