Não olhe na lixeira
A rua Paresi era sem saída, ao lado da minha casa, era um
problema.
No bairro periférico de Igarapés, onde ficava, as luzes da
cidade mal
alcançavam, esgoto encanado quase não tinha. Linha de ônibus
só no asfalto e
a uma certa distância dali. Eram só dois por dia, ou melhor,
um de dia e outro no
Final da noite.
Essa rua era isolada de tudo e nem o coletor de lixo passava
ali. Os moradores,
acostumados ao abandono das autoridades, estranharam a
aparição repentina
de uma lixeira grande, na esquina do primeiro terreno na
entrada da rua.
O proprietário do terreno, indignado pela ousadia da
construção e por não ter
autorizado a instalação, destruiu a lixeira diante de todos,
reduzindo-a a
pedaços.
No entanto, ao amanhecer de um novo dia, a lixeira estava
lá, intacta, sem
qualquer sinal de dano.
Os vizinhos, incrédulos, especulavam sobre o ocorrido,
atribuindo-o a
brincadeiras de mau gosto ou loucura do destruidor dela. Mas
a realidade se
mostraria mais sombria.
Os primeiros a desaparecer foram catadores de recicláveis
que sempre
recolhiam produtos dos moradores da rua sem saída. Relatos
surgiram de que
aqueles que abriam a lixeira e depositavam seu saco de lixo,
nada acontecia,
mas os que olhavam em seu interior no horário tarde da
noite, eram sugados
para dentro, sumindo sem deixar vestígios.
Um único transeunte, ao passar tarde da noite pela janela de
um ônibus,
testemunhou uma sombra sendo engolida pela lixeira.
— Vocês viram isso! — Gritou apontando para o início da rua,
fazendo com
que várias pessoas corressem a sua janela.
Apesar de só dois passageiros afirmarem terem visto e
reconhecerem por
fotos que a pessoa devorada pela lixeira como um catador
conhecido, seus
relatos foram recebidos com descrença e escárnio.
A versão do caso cresceu e chegou até a cidade.
As autoridades locais, céticas, desconsideraram as
denúncias, tratando-as
como lendas urbanas ou histórias fantasiosas para chamar a
atenção.
Para acalmar os moradores, no final da tarde seguinte, a
prefeitura destruiu outra
vez a sinistra lixeira e colocou uma caçamba de recolher
entulhos em seu lugar,
mas no dia seguinte a lixeira estava novamente lá e a
caçamba havia
desaparecido. E assim ficou por mais uns dias.
Certa noite, um antigo morador conhecido por todos na rua,
também
desapareceu. A comunidade, tomada pelo medo, evitava a
lixeira e colocaram
cartazes feito a mão com os dizeres:
“Não se aproximem dessa lixeira, perigo de morte!”
Mas a curiosidade humana é uma força poderosa.
Nova destruição ocorreu, nova caçamba colocada no local e
uma dupla de
policiais foi colocada em vigia. No dia seguinte os
policiais haviam desaparecidos
e a lixeira estava novamente lá.
Pensaram no padre local, talvez uma benção especial
resolvesse, porém o
ridículo de benzer uma lixeira deixou a ideia de lado. Antes
tivessem tentado.
Houve um novo desaparecimento.
O mistério da lixeira amaldiçoada permaneceu por dias, até
que misteriosamente
ela desapareceu.
Alguns dizem que era um portal para outra dimensão; outros
acreditam que é
uma manifestação do mal. Mas uma coisa é certa: aqueles que
ousaram olhar
em seu interior nunca mais foram vistos.
Se um dia você se deparar com uma lixeira solitária em uma
rua deserta,
lembre-se desta história e resista à tentação de espiar seu
conteúdo.
A curiosidade pode ser irresistível, mas no bairro Igarapés,
ela pode custar sua
vida.
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