domingo, 22 de abril de 2012

A águia e a Loba - Parte I

Ele, a Águia.

Dá do alto, onde surfava nas correntes quentes do ar, ele se deixava levar. O vento ascendia por baixo das asas, sustentando seu voo com suavidade. Sem precisar bater uma só vez as asas, ele deslizava, sereno, em sua zona de conforto.

Foi então que algo o desconcertou.

Um brilho verde.

Discreto, mas intenso. Surgia lá embaixo, entre as copas das árvores, escondido entre rochas e arbustos. A visão o distraiu por um instante — um instante apenas —, mas foi o suficiente.

A mesma corrente que o sustentava bateu contra seu peito com força inesperada, desequilibrando-o. Começou a despencar.

Perdendo altura em velocidade absurda, ele sacudiu a cabeça, tentando recuperar a concentração no voo. Forçou o alinhamento das asas, mas o brilho voltou a atingir seus olhos. Os olhos que enxergavam uma presa a quilômetros de distância agora estavam ofuscados.

Caiu novamente.

Ele sabia que não devia estar naquela altitude. Nenhuma águia de sua espécie ousava ir tão alto. Estava além da natureza que herdara. Mas, após alguns sustos, havia descoberto que podia ir. E adorava esse desafio.

Desesperado, girou em parafuso. Abriu a asa direita para o sul, a esquerda no sentido oposto, tentando planar... Era tarde. O brilho verde o desorientou por completo. Cego, perdeu o controle.

Rasgou as folhas de uma árvore enorme e foi ricocheteando pelos galhos até despencar no chão.

Não sabia quanto tempo havia se passado. Ainda zonzo, tentou se recompor. O impacto havia sido forte. Estava no chão, vulnerável, mas vivo. Esticou as asas: nada quebrado. Olhou em volta: nenhum predador à vista.

Então ouviu.

Passos.

Lentos, cautelosos. A aproximação ativou seu instinto. Num impulso, voou até um galho alto. Ali teria vantagem.

Silêncio.

Permaneceu imóvel, atento.

O som voltou, vindo de um ponto específico. Preparou-se para alçar novo voo, se necessário. Mas quando seus olhos focaram a direção do movimento, seu corpo congelou.

Ali, entre a folhagem, ele viu de novo. O brilho verde.

Ele se movia suavemente, como se deslizasse pelo chão. Quando percebeu que havia sido visto... parou.

A Águia tentou voar, mas não conseguiu. Seu sistema de defesa falhou. Ficou ali, paralisado, como se uma força invisível o mantivesse no lugar. O brilho continuava, hipnotizante.

Veio se aproximando. Mais... e mais...

Parou. Ainda escondido. Apenas um fragmento do rosto se revelou por entre os arbustos.

E então ele viu.

Era uma Loba.

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