Depois de vagar entre escarpas e trilhas pedregosas,
ela estava cansada.
Precisava de um lugar tranquilo, seguro. Havia percorrido muito... E precisava
parar.
Seu corpo pedia descanso. Mas mais do que isso, era a alma que se sentia
exausta.
Já fazia tempo desde que começou sua
busca.
Procurava por um companheiro.
Vivia triste.
Na verdade, até havia encontrado um,
alguns meses atrás.
Era insistente, determinado — não lhe
deu sossego até que ela cedeu.
Ela o considerava bom. Gentil.
Ele morava mais ao norte e sempre
tentava agradá-la, trazendo coisas de que ela gostava.
Mas ainda assim… ela partiu. Sabia que
faltava algo.
Seguiu caminhando, esgueirando-se entre
sombras e silêncios, sempre ocultando parte de si.
Nunca mostrava o rosto por inteiro —
não se sabia ao certo se por timidez, desconfiança… ou proteção.
Sabia que era bonita, e que seus olhos
exerciam atração.
Mas sempre que alguém tentava vê-la…
ela sumia.
Escondia-se.
Naquela tarde, deitou-se desanimada sob
duas rochas que formavam um arco, protegida entre arbustos.
Apoiou a cabeça nas patas e olhou para
o céu, num gesto de puro cansaço.
Foi então que viu algo.
Lá no alto, algo prateado deslizava
entre as nuvens, em movimentos suaves.
Piscou, forçou os olhos — queria entender o que era.
De repente, aquilo começou a descer.
Rápido demais.
Levantou-se num pulo, atenta.
O brilho tentava retomar o voo...
Conseguiu por um momento...
Mas logo começou a cair de novo. E
caiu.
Desabou na copa de uma árvore enorme,
desaparecendo entre as folhas.
Sem hesitar, ela correu em direção à
queda.
Se aproximava quando viu algo se mexer
entre os galhos partidos.
Parou. Observou.
Estava atrás de uma galhada, caída como
consequência do impacto.
Não conseguia ver bem — o que quer que fosse, ainda estava oculto.
Precisava atravessar os arbustos para
enxergar melhor.
Foi então que se assustou — algo saltou
do chão para o alto com rapidez felina.
Ela recuou instintivamente.
Esperou. E recomeçou a se mover, dessa
vez com mais cautela.
Com o focinho, foi abrindo espaço entre
a folhagem.
Como era de seu feitio, revelou apenas
um quarto de sua face, o suficiente para espiar.
E então, a Loba o viu.
Era uma Águia.
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