Parado, olhando para minha mala.
Em pé, de braços cruzados e o celular na mão, como se estivesse esperando para fazer o check-in no aeroporto.
Estático.
Aguardando que algo aconteça.
Imagino pessoas passando por mim como se eu não existisse — cada uma com sua pressa, com suas malas.
E eu, cá estou... sozinho, tentando ordenar algo na cabeça que simplesmente não faz sentido.
Hoje, não me vejo sem esse aparelho.
É ele que faz com que, mesmo distante, você pareça estar aqui do meu lado.
Então olho para o celular, e ele insiste em permanecer quieto.
Logo ele, que sempre me incomoda nas horas mais impróprias.
Hoje, na minha mão, teima em seu mutismo.
Na verdade, parece mais um sinal luminoso de SOS em pleno oceano.
Mas apagado.
Sem vida.
Sem intenção alguma de me salvar.
Conto com ele tocando a música que me alertaria da sua chamada...
Mas não há música.
Apenas silêncio.
Mal percebo, e olho novamente para ver as horas.
São as mesmas de um minuto atrás...
Teria parado?
Ou sou eu?
Levanto os olhos.
Ao meu redor: vazio.
Sumiram todos.
Estou só.
As horas, no visor, ainda se arrastam — minuto a minuto.
Mas no meu coração, a esperança vai se esvaziando aos poucos.
Como o pulsar dos aparelhos nas UTIs:
um pulso... uma pausa...
um novo pulso... uma pausa maior...
Ele vai parar.
Eu sei que vai.
Escuto uma música ao longe — me parece ser Adele.
De novo ela...
Parece ter o prazer de me fazer lembrar de você.
Adora obrigar-me a ouvi-la, mesmo quando não está cantando.
Já está instalada no meu subconsciente.
Tentei mais uma vez.
Olhei de novo para o celular.
Agora, nem sei mais quanto tempo passou...
Enfim...
Desliguei-o.
Desfiz as malas.
Liguei a TV.
O maledito não tocará mais.
Mesmo que queira.
Preciso lembrar de jogá-lo fora amanhã.
O celular?
Não.
O seu número.
Em tempo:
Ele terminou jogando fora o número.
E o celular.
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