Sempre saíamos à noite, depois do trabalho, para passar alguns dias tranquilos, curtindo a natureza, com muita paz e sossego.
Era uma hora e meia de estrada até Caçapava/SP.
Depois que deixávamos a rodovia, a estrada que nos levava até lá era completamente às escuras, cercada de árvores enormes. A escuridão era total.
Dirigir por ali exigia atenção redobrada: podíamos ser surpreendidos por um animal atravessando, por galhos caídos ou até por um buraco escondido no breu.
Já vimos de tudo naquela estrada: pássaros noturnos, gambás, cobras... e outras criaturas que nem conseguimos identificar, tamanha era a escuridão.
Às vezes, eu pedia para o mano véio apagar os faróis, só para sentirmos o peso daquela escuridão absoluta. Não se via nada, nada mesmo — um medo gostoso, desses que a gente só sente porque sabe que está protegido.
Com os faróis ligados, enxergávamos só até onde a luz alcançava, como num túnel de sombras.
Quando a noite era de luar, então, era um espetáculo.
Os raios da lua atravessavam os galhos das árvores, desenhando a estrada em sombras prateadas. Cena de filme.
Todos nós amávamos essas noites de viagem.
A chácara era recente. Tínhamos comprado para nossos velhinhos, e ainda precisava de muita reforma.
Naquela noite, como sempre, desci do carro para abrir o portão, enquanto o mano véio manobrava para estacionar.
Fui entrando na frente e destranquei a casa.
Assim que cruzei a porta, percebi: não estávamos sozinhos.
Dei dois passos lentos para dentro, sumindo da visão do mano véio, que ainda iluminava a entrada com os faróis.
Ouvi o carro sendo desligado, a porta batendo.
Enquanto andava no escuro em direção ao interruptor, tropecei na mesa de centro e fiz um barulho enorme.
O mano véio, lá fora, gritou:
— Dê?! (Esse era mais um dos meus apelidos.)
— Acende a luz logo, cara! Tá muito escuro aqui!
Apareci na porta, sério:
— Não estamos sós.
Pensa num cara ficando branco.
Não... Mais branco ainda. Mais que albino!
Ele congelou, sem falar nem se mexer.
Fiz sinal de silêncio e o chamei com a mão para se aproximar.
Quando ele chegou bem na entrada, acendi a luz.
Foi quando começou a gritaria.
Dentro da casa, um barulho enorme, coisa voando pra todo lado.
O mano véio? Sumiu.
— Deixa que eu resolvo! — gritei da porta, rindo por dentro.
Entrei e, depois de alguns minutos, saí triunfante, carregando um embrulho enrolado numa toalha.
Chamei o mano véio, ainda escondido atrás do carro, e, morrendo de rir, mostrei a ele o nosso "invasor": uma coruja.
Fui até o quintal e a soltei na noite.
Depois dessa presepada que armei pra ele, nunca mais me deixou entrar primeiro.
Fazia questão de desligar o carro, descer, abrir o portão, abrir a casa, acender todas as luzes...
Só então me deixava sair.
Veja só que coisa...
Só por causa de uma coruja.
É a primeira vez que visito o seu blog e confesso o que me chamou atenção foi a coruja da história, Eu gosto muito de corujas e sempre que vou para a minha chácara fico tentando observá-las e escutar o seu piado, tanto de dia como de noite!Na cidade vejo a coruja buraqueira, essa da foto, mas não é com certa frequência,
ResponderExcluirabraços,
Marilei-Marília-sp
Olá Marilei! obrigado pelo comentário. Eu quando peque tinha muita corujas, em gesso, chaveiro, brinquedo e como morava em lugares que sempre apareciam, peguei um gosto especial por essa ave.
ResponderExcluirAbraços.