sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A coruja da chácara



Adorávamos ir para nossa chácara nos feriados. 
Sempre íamos à noite, depois do trabalho, para passar uns dias tranquilos, curtindo um pouco a natureza, com muita paz e sossego. Era uma hora e meia de carro, de casa até a chácara, em Caçapava/SP.
A estrada que nos levava até lá, depois que saíamos da rodovia, não tinha iluminação alguma e como era cercada de árvores enormes, a escuridão era total. Por ela, era necessário seguirmos com muita atenção, para não sermos surpreendidos por algum animal, possíveis galhos de árvores caídos no caminho ou um inesperado buraco. Por lá, vimos de tudo: pássaros noturnos, gambás, cobras e outros animais que não identificávamos pela tremenda escuridão.
Às vezes eu pedia ao mano véio para diminuir a velocidade e apagar os faróis, só para sentirmos a escuridão. Realmente não se via absolutamente nada e era muito assustador. Com os faróis acesos, enxergávamos apenas onde sua luz alcançava. 
Essa escuridão toda, só era quebrada em noite de luar. Simplesmente lindo ver os raios da lua passar por entre os galhos e iluminar a estrada. Coisa de filme, uma fotografia incrível.
Todos nós adorávamos admirar o trajeto em noites de luar.
Havíamos comprado a chácara recentemente para meus velhinhos e ainda estava meio largada, precisando de uma boa reforma.
Certa vez, quando chegamos, como sempre desci do carro para abrir o portão e o mano véio entrou com o carro, manobrando para melhor estacionar. Fui entrando na frente e abri a casa.
Assim que entrei, percebi que não estávamos sozinhos. Dei dois passos bem devagar para dentro da casa sumindo da visão do mano véio, que havia deixado o farol do carro acesso, até que eu acendesse a luz da casa. 
Enquanto ouvia o mano véio sair do carro, batendo a porta, fui andando em direção ao interruptor da lâmpada, do outro lado da sala e fiz um barulho enorme tropeçando na mesa de centro. Ele sem me enxergar, parou e gritou:
- Dê? - Esse era mais um de meus apelidos na família.
- Acenda a luz logo cara, está muito escuro aqui.
Sai devagar e seriamente lhe disse:
- Não estamos sós.
Pensem num cara branco. Não, não... Mais ainda, mais que albino.
Ele parou imediatamente de falar e ficou imóvel. Fiz sinal de silêncio e o chamei para se aproximar, entrando novamente na sala. Quando chegou bem perto da porta, acendi a luz e começou então um barulho enorme na casa. O mano véio sumiu.
Então gritei-lhe da porta.
 - Deixa que eu resolvo! E entrei.
Após alguns minutos sai da casa já toda iluminada, com um volume enrolado numa toalha. Rindo muito, o chamei. Quando se aproximou, mostrei-lhe o invasor... Uma coruja.
Sai para a noite e a soltei.
Depois dessa presepada que armei pra ele, nunca mais me deixou entrar primeiro. Fazia questão de desligar o carro, descer, abrir o portão e a casa, e só então me deixar sair do carro.
Veja só que coisa...
Só por causa de uma coruja.



2 comentários:

  1. É a primeira vez que visito o seu blog e confesso o que me chamou atenção foi a coruja da história, Eu gosto muito de corujas e sempre que vou para a minha chácara fico tentando observá-las e escutar o seu piado, tanto de dia como de noite!Na cidade vejo a coruja buraqueira, essa da foto, mas não é com certa frequência,
    abraços,
    Marilei-Marília-sp

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  2. Olá Marilei! obrigado pelo comentário. Eu quando peque tinha muita corujas, em gesso, chaveiro, brinquedo e como morava em lugares que sempre apareciam, peguei um gosto especial por essa ave.
    Abraços.

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