domingo, 25 de novembro de 2012

Andarilho XVIII - Minha Dulcinéia


Passei duas noites horríveis, com sonhos desastrosos, onde Jorge sempre aparecia sorrindo e acenando pra mim. Acordei duas vezes com Marlene e Rodrigo ao meu lado, me acalmando, acho que os assustei falando alto enquanto dormia.
Decidi rapidamente atender ao pedido de Jorge e me livrar daquela situação.
Distribui todo aquele dinheiro em depósitos nas quatro contas que ele informou e que acredito ser de seus familiares. Jorge havia separado uma quinta parte para mim, mas preferi não aceitá-lo e a redistribui entre as mesmas contas.
Com a ajuda de Marlene e Rodrigo, em dois dias consegui ver-me livre dessa história confusa e perigosa. Precisava estar livre pra seguir meu caminho, mesmo sem saber pra onde iria.
Fiquei hospedado na casa deles por quatro dias, dias esses muito reconfortantes e agradáveis. Tive a oportunidade de conhecê-los melhor, em especial Marlene. Mas chegara a hora de retornar a estrada.
Levantei-me cedo naquele sábado meio cinzento, depois de um bom banho e comer algo leve, estava pronto pra partir.
Rodrigo insistiu pra eu ficar mais um tempo, poderia trabalhar com ele na sua agência de viagens, ele precisava de alguém para auxiliá-lo, mas eu sabia que já era hora de partir.
Confesso que fiquei tentado, estava me dando muito bem com eles e havia me aproximado muito de Marlene, talvez esse até fosse o motivo pra eu partir logo. Senti que ficamos muito envolvidos com toda essa história e ainda teria que deixar meu escudeiro, Dingo Pança, pra trás. Pedi uma carona até a rodovia para Rodrigo e pedi também pra não contar a Marlene de minha partida, apenas após que eu tivesse partido. Nem mesmo de do meu escudeiro quis me despedir, bem... Ele não estava por lá mesmo, com certeza estava dormindo em algum canto da casa.
Já começava a garoar bem fracamente quando entramos no acesso a rodovia, antes de alcança-la Rodrigo parou e perguntou-me mais uma vez se era aquilo que eu queria fazer e se não seria melhor pelo menos pensar por mais uns dias, que pelo menos devia me despedir pessoalmente de Marlene e Tobi.
Não, eu sabia que já trouxera confusões demais pra dupla de irmãos e que de repente eu poderia estar enganado com o que vinha me incomodando muito nos últimos dias, minha aproximação a Marlene. Tinha que partir. Rodrigo parou o carro e disse:
- A rodovia fica depois dessa curva, não posso ir além, pois não tem retorno para carro, estamos muito longe da cidade. Ainda dá tempo de voltar, mas me permita dizer uma coisa. Para um Quixote que busca de sua Dulcinéia, você faz muito bem seu papel. Realmente como ele, não enxerga e não compreende nada que está a sua frente. Meu amigo, nem um bando de bois ou um moinho são seus inimigos, não vista sua armadura ou corra. 
Enquanto eu sorria balançando a cabeça em negativa a suas palavras, abri a porta do carro, agradeci e sai.
- Boa sorte pra vocês Quixote.
Rodrigo retornou o carro e foi embora. O que ele quis dizer com aquilo?
Ajeitei a mochila com a rede de Jorge nas costas e fui em direção à curva. Realmente rodamos muito pra chegar a rodovia, talvez até tivesse outro caminho mais perto, mas como ele deu-me carona e conhece a região, nada disse.
Quando terminei de fazer a curva dei de cara com uma cena inesperada, sentada na mureta de acesso a rodovia, estavam Marlene e Dingo a me esperar. Olhei para trás e Rodrigo sumira na estrada de terra.
Ao me aproximar, Marlene levantou-se e veio em minha direção, estendeu-me a mão e disse:
- Está atrasado Quixote, eu e Tobi, digo Dingo Pança, estávamos pensando que desistira de ir. Vamos indo, a estrada é longa e a garoa está chegando.
Ainda estático, me deixando levar por sua mão suave, sorri.
O que dizer...
Ela tinha razão, à garoa chegou.


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