segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O sabor da memória

Uma das delicias culinárias mais saborosas que já experimentei, foi a comida da tia Dinha, quando passei uns dias com ela, quando eu ainda era uma pequena criança. Isso aconteceu aproximadamente, há 42 anos. Fico pensando que, pra guardar esse sabor de uma comida simples por tanto tempo no subconsciente, é porque realmente tinha um sabor excepcional. Concordam?
Quando lembro-me da comida, começo a salivar e vem logo o seu gostinho em minha boca. Incrível, isso. Sinto até o cheirinho bom. Fecho os olhos e lá está ela, a tia Dinha. De cabelos encaracolados, branquinhos, perguntando-me:
- Mimiu, quer mais?
É bom esclarecer que "Mimiu", é o diminutivo do diminutivo de Ademirzinho. Além da tia Dinha, apenas algumas primas me chamava assim quando criança. E até hoje quando nos encontramos me chamam, às vezes, até diminuindo mais: "Miu".
Ainda de olhos fechados, vou vendo a cena que insiste em acompanhar-me por esse tempo todo, tão nítido que parece ter acontecido no almoço de ontem.
Tia Dinha pegava meu prato de plástico, um aparte, desde pequeno eu já tinha a mania de quebrar coisas. E, apesar de não ser de descendência grega, pratos era minha especialidade. Depois me aperfeiçoei em copos. Mas, voltando ao almoço... Ela destampava a panela preta de ferro e liberava o vapor cheiroso do feijão, retirando meia concha de uma substância cremosa.
Em seguida, ela ia à panela de arroz e eu a olhava atentamente a distância, da mesa, longe do fogão. O arroz, vinha de uma panela branca, esmaltada, com a borda da boca preta. Ele, o arroz, era de uma cor amarela para vermelha, feito com coloral, muito soltinho. Ah... Se os chineses e japoneses tivessem conhecido o arroz de tia Dinha, com certeza não seriam tão magrinhos.
Chegou a hora da mistura...
A mistura era aquela parte mais gostosa da refeição, separada no canto do prato, para ser comida por último. A que a lembrança trás é a linguicinha  cortada em pequenos pedaços, do tamanho do meu dedo mínimo, frita, muito sequinha. Tudo isso acompanhado de um copo, também de plástico, de "Q-suco".
Talvez não esteja sendo tão fiel com as palavras, quanto à lembrança exige, mas... Hummm... Acreditem, sinto o gosto na boca, muito bom.
Mas não parava por ai. Depois das minhas estripulias e olha que eu dava trabalho, ainda tinha o café da tarde... Mas isso ainda dará outro texto.
Eu poderia até passar aqui a receita e segredos dessas delícias, mas ficou no tempo em que vivi tudo isso. De toda forma, o principal ingrediente já não está mais aqui...
Minha tia Dinha.

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