Depois de muitos anos, cá estou eu voltando a estudar.
Saí da faculdade e fui acelerado para a parada de ônibus. Sabia que tinha que ser rápido: o ônibus estava para passar a qualquer momento.
Deu certo. Mal cheguei e ele surgiu no começo da avenida. Estava com sorte.
Esse primeiro trecho ia do centro de Jacareí até a rodoviária de São José dos Campos. Uns vinte e cinco, trinta minutos de trajeto. Tempo cravado: se algo acontecesse no caminho, eu perderia o último ônibus para Caçapava, onde moro.
Pois é... aconteceu.
Por cinco minutos, fiquei para trás.
Eram 23h35. O próximo ônibus? Só às cinco e meia da manhã.
Não tinha jeito: teria que dormir na rodoviária.
Ajeitei-me numa poltrona, liguei o MP3 do celular e, ao som de Nirvana, adormeci.
De repente, senti um dedo me cutucar. Assustado, abri os olhos: um homem jovem, barbudo, de boné, estava a menos de um metro de mim. Sorrindo, disse:
— Ô moço! Cê tem dois "reaus" pra eu tomar um café?
Ainda sonolento, olhei para o grande relógio da rodoviária marcando 00h00 e, apertando a mochila contra o peito, disse que não. Acho que fui convincente, porque ele se afastou.
Olhei em volta: tudo calmo, tudo vazio. Nenhum comércio aberto. Onde o cara ia tomar café? Sei lá... fechei os olhos de novo.
Mais um toque. Acordei.
Era ele, de novo:
— Moço, você não tem dois "reaus" pra eu tomar um café?
Neguei outra vez, dizendo que só tinha dinheiro para a passagem. Ele me olhou sério, abriu um sorriso e disse, já se afastando:
— Deixa que eu resolvo.
Achei melhor mudar de lugar. Sentei ao lado do guichê de informações, onde duas pessoas trabalhavam. Mais seguro.
Coloquei a mochila no colo, procurei o relógio: 01h11. Muito estranho... ou talvez nem tanto, para mim. Voltei ao cochilo. Precisava descansar: iria direto para o trabalho depois.
Dormia, quando senti um toque, depois outro.
Inacreditável: o mesmo sujeito.
Pensei: "Vou dar logo o dinheiro pra ver se ele me deixa em paz."
Mas, antes que eu fizesse qualquer coisa, ele me surpreendeu:
— Ô moço... vamos lá tomar um café? Tá muito frio aqui. Consegui quatro "reaus" pra nós.
Sem esperar resposta, estendeu a mão, insistente:
— Vamos lá.
Fiquei paralisado por um segundo, depois o segui.
Eis que, não sei como, havia sim uma lanchonete aberta.
— Moço, me vê dois "café" — disse ele, entregando ao caixa quatro reais amassadíssimos que tirou do bolso.
Seu nome era Willian. Estava desempregado, sem ter onde ficar, tentando juntar uns trocados para pegar um ônibus para Caraguatatuba, onde tinha família.
E mesmo assim fez questão de pagar o meu café.
Conversamos um pouco. No final, convenci-o a aceitar um pão de queijo, como agradecimento. Ele não quis ajuda para a passagem — disse que daria um jeito.
Willian era gente boa. Talvez só precisando de um pouco mais de sorte.
Antes de me despedir, pedi ao meu "Amigo" maior que cuidasse dele. Fiquei tranquilo. Sei que Ele sempre me escuta.
Essa vida é mesmo uma escola.
E eu... um aluno só razoável.
Aprendi mais uma.
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