quarta-feira, 13 de março de 2013

O Traíra


Adoro animais de estimação de todo tipo, só não gosto de aves presas em gaiolas. Aliás, estou em busca de um cachorro. Só não tenho um ainda, porque não me identifiquei com nenhum. Pois bem... Adoro cães, menos... O Traíra.
Traíra é o nome que dei a um cachorro traiçoeiro, que vive solto na minha rua. Ainda não sei quem é o seu dono, mas preciso sabe-lo logo.
Quando mudei pra minha casa nova, em Caçapava, logo veio em mente adotar um cão. Talvez para amenizar a saudade do Bethoven, o comedor de chinelos. O Beto como o chamava, ficou na casa antiga com minhas filhotas.
Comecei então a procurar. Falei com alguns amigos, com Maninho e por mais ofertas que surgiram, ainda não achei o meu companheiro. Até já planejei seu canil, com um espaço protegido, agradável e confortável. Como meu quintal é enorme, ele terá terreno suficiente pra dar uma esticadinha suficiente pra se exercitar.
No caminhar de casa até o ponto de ônibus, onde pego carona para o trabalho, levo uns dez minutos de boa, tranquilo e despreocupado. Coloco o fone do celular nos ouvidos, programo Elvis, System, Aero e companhia no mp3 e, sigo descontraído. Uma beleza... Era.
De umas semanas pra cá, comecei a ter problemas.
No meio do percurso, conheci um cachorro de pequeno porte, mestiço de não sei o que com não sei  o que lá, tipo... Vira lata mesmo. Ele é pretinho e pelo latido rouco e fraco, acredito que já seja um tanto velhinho, também.
Ele sempre está pelo meu caminho de manhã, mas passava despercebido pra mim.
Um dia, eu, um tanto distraído, andando tranquilo, acompanhando o ritmo de Kaine lost, do Rammstein, com a cabeça, ou seja, não prestando atenção a nada, fui surpreendido por um cachorro me atacando. Ele saiu sei lá onde e quase mordeu minha canela. Foi um susto e tanto.
Como reagi rápido ele se afastou latindo e me intimidando, a distância.
Isso aconteceu por mais três dias consecutivos. Tanto que tive de deixar os fones de lado, pra prestar atenção nele.
O bichinho é esperto. Espera eu passar e quando estou de costas pra ele, corre e tenta me morder. Daí o simpático nome que lhe dei: Traíra.
Numa dessas tentativas, tentando me esquivar dele terminei pisando na sujeira de outro. Isso mesmo, enfiei o pé na mer... Eca! Que ódio. Tive que voltar pra casa e quase nem fui trabalhar.
Na semana passada... Vai vendo... Na minha volta pra casa, o vi na calçada a uns 100 metros. Imediatamente, atravessei a rua e fui pra outra calçada. E não é que o Traíra fez o mesmo!
Voltei pro outro lado e o danado também foi e isso naquela distância toda.
Não acreditei. Preparei-me para o confronto e fui em frente. Passei próximo a ele, preparado pra um contra ataque, mas o Traíra simplesmente me olhou, deitou-se na calçada e ignorou-me. Pode isso?
Não sei se fiquei surpreso ou decepcionado, mas passei lentamente por ele e não aconteceu nada. Não entendi.
Desse dia em diante nem o latido fraco, quase falhando, ouço mais.
Não sei se é estratégia dele para que eu descuide ou se ele acostumou comigo. Como o nome que lhe dei, faz jus a sua reputação, não abaixo a guarda. Sempre que passo por ele fico em atenção total, nem o som eu curto mais.
Vai que...
Uma vez Traíra, sempre Traíra.

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