Adoro animais de
estimação de todo tipo, só não gosto de aves presas em gaiolas. Aliás,
estou em busca de um cachorro. Só não tenho um ainda, porque não
me identifiquei com nenhum. Pois bem... Adoro cães, menos... O
Traíra.
Traíra é o nome que dei
a um cachorro traiçoeiro, que vive solto na minha rua. Ainda não sei quem é o
seu dono, mas preciso sabe-lo logo.
Quando mudei pra minha
casa nova, em Caçapava, logo veio em mente adotar um cão. Talvez para amenizar
a saudade do Bethoven, o comedor de chinelos. O Beto como o chamava, ficou na
casa antiga com minhas filhotas.
Comecei então a
procurar. Falei com alguns amigos, com Maninho e por mais ofertas que
surgiram, ainda não achei o meu companheiro. Até já planejei seu canil, com um
espaço protegido, agradável e confortável. Como meu quintal é enorme, ele terá
terreno suficiente pra dar uma esticadinha suficiente pra se exercitar.
No caminhar de casa até
o ponto de ônibus, onde pego carona para o trabalho, levo uns dez minutos de
boa, tranquilo e despreocupado. Coloco o fone do celular nos ouvidos,
programo Elvis, System, Aero e companhia no mp3 e, sigo descontraído. Uma
beleza... Era.
De umas semanas pra cá,
comecei a ter problemas.
No meio do percurso,
conheci um cachorro de pequeno porte, mestiço de não sei o que com não sei o que lá, tipo... Vira lata mesmo. Ele é
pretinho e pelo latido rouco e fraco, acredito que já seja um tanto velhinho,
também.
Ele sempre está pelo
meu caminho de manhã, mas passava despercebido pra mim.
Um dia, eu, um tanto
distraído, andando tranquilo, acompanhando o ritmo de Kaine lost, do Rammstein,
com a cabeça, ou seja, não prestando atenção a nada, fui surpreendido por um
cachorro me atacando. Ele saiu sei lá onde e quase mordeu minha canela. Foi
um susto e tanto.
Como reagi rápido ele se
afastou latindo e me intimidando, a distância.
Isso aconteceu por mais
três dias consecutivos. Tanto que tive de deixar os fones de lado, pra
prestar atenção nele.
O bichinho é esperto.
Espera eu passar e quando estou de costas pra ele, corre e tenta me morder. Daí
o simpático nome que lhe dei: Traíra.
Numa dessas tentativas,
tentando me esquivar dele terminei pisando na sujeira de outro. Isso mesmo,
enfiei o pé na mer... Eca! Que ódio. Tive que voltar pra casa e quase
nem fui trabalhar.
Na semana passada... Vai
vendo... Na minha volta pra casa, o vi na calçada a uns 100 metros.
Imediatamente, atravessei a rua e fui pra outra calçada. E não é que o Traíra
fez o mesmo!
Voltei pro outro lado e
o danado também foi e isso naquela distância toda.
Não acreditei.
Preparei-me para o confronto e fui em frente. Passei próximo a ele, preparado
pra um contra ataque, mas o Traíra simplesmente me olhou, deitou-se na calçada
e ignorou-me. Pode isso?
Não sei se fiquei
surpreso ou decepcionado, mas passei lentamente por ele e não aconteceu nada.
Não entendi.
Desse dia em diante nem
o latido fraco, quase falhando, ouço mais.
Não sei se é estratégia
dele para que eu descuide ou se ele acostumou comigo. Como o nome que lhe dei,
faz jus a sua reputação, não abaixo a guarda. Sempre que passo por ele fico em
atenção total, nem o som eu curto mais.
Vai que...
Uma vez Traíra, sempre
Traíra.
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