sábado, 30 de novembro de 2013

A pipa.

Sábado chegou. Era o meu dia.

Passei a semana inteira me preparando para ele.

Na segunda-feira, ainda bem cedo, já estava na porta do mercadinho do Nagib, esperando abrir. O objetivo era claro: comprar papel azul e branco para fazer a minha pipa. Não era qualquer uma. Era especial. Seria o primeiro sábado das férias, e todos os meninos estariam atrás da escola com suas pipas no ar. Eu também estaria lá, com a minha: a gloriosa “Ramalhina”.

Tinha guardado meu dinheirinho com esforço. Passei a semana sem comprar piruá na escola — aquele milho que não vira pipoca, mas que a gente come assim mesmo —, sem chicletes e sem as maria-moles que vinham entre as bolachas de maizena. Valeu o sacrifício. Saí do mercadinho com as duas folhas nas cores do meu time do coração: o azul e o branco do Ramalhão. Guardei-as com cuidado no alto do guarda-roupa, bem esticadinhas, para não amassar.

Na terça, fui atrás dos gomos de bambu e comecei a preparar as varetas. É um trabalho fino, de paciência. Claro que mamãe apareceu pra reclamar da sujeira. Tive que limpar tudo correndo, mas antes do almoço já estavam prontas. Medi, comparei, pesei. Estavam perfeitas. Saí atrasado para a escola, como sempre. Ainda bem que era a última semana de aula.

Quarta de manhã, montei a armação. Primeiro a vareta vertical, depois a horizontal, formando a cruz. Medi tudo direitinho, ajustei, firmei o centro. Depois enrolei a linha em espiral, contornando a armação e curvando a vareta inferior. Parece complicado? E é mesmo. Levei tempo até aprender. Mas, modéstia à parte, ficou perfeita.

Na quinta, era dia de fazer a rabiola. Cortei metade de cada folha, dobrei uma, duas, três vezes e fui cortando as tiras. Eram muitas — afinal, a rabiola precisava ser vistosa. Estiquei a linha no quintal e comecei a amarrar as fitinhas, uma a uma. Quase me atrasei de novo. Mamãe ameaçou me deixar em casa no sábado, então corri para o banho. Dois minutos. Ela me lançou aquele olhar que dizia “não engana ninguém”, mas já era tarde. Saí em disparada para a escola.

Sexta-feira. O grande dia de encapar a pipa.

Tomei só café com leite, sem tempo pra bolacha de maizena amassada na caneca ou a sopinha de pão — aquele pão francês picadinho com café e açúcar, que só mãe sabe fazer.

Na mesa da cozinha, juntei as duas folhas: metade azul, metade branca. Coloquei a armação por cima e girei para todos os lados, procurando o melhor ângulo. Mamãe deu o palpite final: diagonal. A parte azul embaixo, a branca por cima. Ficou linda. Cortei com cuidado e colei. Enquanto secava, amarrei a rabiola na base da armação e coloquei o estirante — é a linha que usamos pra prender o carretel.

Sim, isso se chama estirante. Não sabiam? Ah, vocês não entendem nada de pipa mesmo... rsrs

Pronto. A mais bela pipa que já fiz estava ali, esperando o céu.

Sábado amanheceu com sol. O céu limpo, perfeito. Os meninos saíam de suas casas com suas pipas e corriam para o morro, atrás da escola. Tinha pipa de tudo quanto é tipo, cor e tamanho. Mas percebi: todos olhavam para a minha. Comentavam. Admiravam.

Começamos a empinar. Nunca vi um céu tão cheio de pipas.

Vieram as brincadeiras: desbicar, perseguir, cortar. Ah, isso vocês sabem, né?

Foi quando apareceu uma pipa vermelha, com uma rabiola branca. E começou a cortar todas as outras.

Como? Como ele conseguia aquilo?

Não... Não! A minha pipa, não...

Mal tive tempo de reagir. A linha foi cortada e ela se foi, voando. Nem corri atrás. Fiquei ali, parado. Bravo. Triste. Fui procurar quem tinha feito isso, saber o porquê.

Não encontrei o menino, mas soube como ele fazia aquilo. Usava linha com cerol — uma mistura perigosa que o primo trouxe de Santos. Um menino bobo e feio, que destruiu o meu sábado.

O pior foi ver que, nas semanas seguintes, quase todos começaram a usar esse tal de cerol. E eu...

Nunca mais fiz ou soltei uma pipa.

Até hoje me pergunto:
Por que sempre tem alguém disposto a estragar o que é bonito?

 

 


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Mais um título do meu Santo


Tudo foi planejado... Ou quase.
Eu iria ao estádio ver o meu Santo André ser campeão, mais uma vez. 
Convidei alguns amigos e o Mano véio, mas ninguém quis ir. Ramalhão mesmo, de verdade, só eu. Então, fui sozinho mesmo.
O jogo seria difícil, afinal, o adversário seria o temido XV de Piracicaba, time tradicional do interior paulista. Eu não tinha duvida que seríamos  campeões. O campo da disputa seria no antigo Parque Antártica  do Palmeiras, clube que com o passar dos anos, nos teria como uma pedra no sapato, mas isso é outra história.
Como na época eu participava da torcida uniformizada, iria com o ônibus fretado que partiria da prefeitura municipal, na verdade eram vários ônibus que levariam gratuitamente quem quisesse ver o confronto. O ônibus que entrei, era já um tanto velho de uma empresa da cidade vizinha, Mauá. Mas o que me importava mesmo, era que eu estar dentro dele. Eu iria ver o Ramalhão!
Logo de cara, já dentro do ônibus lotado e sem ninguém que eu conhecesse, apareceu uma garrafa de whisky na minha mão, não sei de onde ela surgiu e muito menos qual era a marca, então começou o coro "Vira, Vira...", e eu virei.
Partimos de Santo André num frenesi tremendo, cantarolando e gritando "`O glorioso é o campeão". Logo outras garrafas começaram dar as caras, cachaça, vinho, mais whisky e sei lá eu, o que mais. Naquela altura já nem sabia mais o que bebia, então comecei a maneirar. Só sei que cheguei ao estádio sem minha camisa e com uma bandeira jogada nas costas.
Fui entrando no estádio levado pela turma. Confesso que nem me lembro da cara do estádio ou de como eu chegará ali no meio da arquibancada. Quem pagara o meu ingresso? Acho que eu não estava muito bem, então resolvi ir ao banheiro lavar o rosto e tentar me recuperar um pouco.
Quando voltei, não sabia mais onde estava a turma do ônibus. Estava perdido naquela imensidão de gente. Mas tudo bem, eu viera para ver o jogo e ele já ia começar. Como não era lá muito alto, mal conseguia ver o jogo e na base do "Dá licença", fui abrindo caminho e cheguei ao gargarejo, na cara do campo.
Era minha noite, até então nunca tinha vibrado tanto, nem mesmo no nosso primeiro título em 1975, na época eu era um garoto que se apaixonava por este clube. Já estava ficando rouco, louco e um pouco de tudo. Meus ídolos eram o Fernandinho e o Lance, um jogador já veterano.
E assim o jogo rolou, fácil para nós.
Faltavam cinco minutos para o final, vencíamos de 3x1. Acho que toda minha agitação com o jogo me fizera transpirar muito, jogando todo aquele excesso de álcool pra fora. Resolvi sair dali e ir para o ônibus antes do jogo terminar. Já que não estava muito bem, pelo menos chegaria logo, sem riscos de ser atropelado pela multidão.
Até que achei o nosso ônibus rapidinho e entrei. Como eu, mais três colegas tiveram a mesma ideia e começamos a conversar e comemorar o título.
De repente o motorista fechou as portas e disse:
- Vamos embora os torcedores do XV estão saindo e vindo pra cá.
Como assim irmos embora? E os outros colegas?
Nem deu tempo para perguntar, logo uma pedra arrebentou um das janelas. O motorista ligou e acelerou o ônibus. Deitamos no chão debaixo dos bancos enquanto mais pedras quebravam outras janelas, jogando vidros por toda parte. Foi assustador.
Ali, encolhidos e quietos, percebemos as manobras do motorista que saia em alta velocidade do estacionamento, onde havia parado.
Foi um grande susto. Fora alguns arranhões e pequenos cortes, tudo ficou bem. Até chegarmos ao centro de Santo André.
Quando passávamos pela prefeitura o motorista parou o ônibus e pediu para descermos. Isso era perto da uma da madrugada, mas descemos sabendo que neste horário não haveria transporte público para casa.
Os colegas, como estavam juntos, foram embora a pé mesmo e lá estava eu, no centro de Santo André, muito longe de casa, sem camisa e enrolado na bandeira do Ramalhão. Numa madrugada fria pra caramba.
Já que não tinha jeito, fiquei por ali mesmo, comemorando com as dezenas de andreenses, que começaram a encher o centro, até circular o primeiro ônibus.
O duro foi explicar em casa a minha condição e trabalhar no outro dia todo dolorido.
Mas com a gente é assim mesmo, uma vez Ramalhão... Sempre campeão.
Valeu todo o sacrifício.


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A Roda Gigante


Saindo do trabalho, Daniel — um colega recém-chegado na empresa — me convidou para ir até a unidade móvel de um grande parque de diversões que estava montado na cidade.

Chegamos lá por volta das 20h. Demos um giro para conhecer os brinquedos: montanha-russa, Paradise, carrinhos de bate-bate e muitos outros. O mini parque estava bem legal e bastante movimentado.

Fomos direto pra montanha-russa. Show de bola! Gostamos tanto que voltamos pra fila. Enquanto eu segurava nosso lugar, Daniel foi comprar umas pipocas. Acho que ele queria me agradar por ter conseguido aquela oportunidade pra ele na empresa.

Eu havia falado com meu chefe, um espanhol, e ele topou colocar o Daniel no laboratório. Precisava de alguém pra me ajudar, e ele estava desempregado fazia tempo, bem apertado nas contas.

Depois de uns 20 minutos (achei até que ele tinha se perdido, já que é meio atrapalhado), Daniel apareceu — acompanhado de duas meninas. Apresentou a dupla e, apesar da chiadeira da galera na fila dizendo que eram nossas namoradas, colocou as duas com a gente.

Fomos de novo na montanha-russa e depois partimos pra outro brinquedo. Tudo estava indo bem. Daniel já abraçava uma das meninas, e eu, do meu lado, só conversava com a outra. Na época, eu namorava sério e não queria enrosco. Mesmo ela sendo muito bonitinha, minha ideia era só me divertir e dar risada. Mantive a fidelidade.

Entramos em mais alguns brinquedos. Enquanto meu amigo já estava aos beijos com a menina dele, a que estava comigo jogava charme. Chegou a segurar minha mão, mas a gente só ria e conversava.

Até que ela teve uma ideia:

— Vamos na Roda-Gigante!

Na hora pensei: Ferrou.

Tentei argumentar, mas fui vencido pelo trio e lá fomos nós. Compramos pipoca e esperamos nossa vez na fila. Todos estavam animados — menos eu, com a cara de quem vai ser demitido da própria vida.

Daniel me puxou de lado e perguntou:

— O que foi? A menina é uma gracinha, bora curtir!

— Daniel, você sabe que eu tô namorando sério. Vai que alguém me vê aqui e conta pra ela…

— Que nada, cara! Quem vai te ver aqui? Essa é a Roda-Gigante! Uns beijinhos não vão te matar. Olha que princesinha…

Sei…

Chegou a nossa vez. Primeiro foi meu colega com a menina dele, depois — uns quatro bancos depois — lá fui eu.

Na primeira volta, passamos tranquilos pelo operador. A fila ainda estava enorme. Na segunda volta, a roda parou umas três vezes pra trocar os passageiros. Quando passamos de novo pelo operador, lá estava ela: uma prima da minha namorada, bem na frente da fila, com mais duas amigas.

Ela me olhou surpresa, enquanto a roda me levava de novo pro alto. Na hora eu soube: Tô ferrado.

Essa prima vivia na casa da minha namorada. Ia contar. Tava escrito.

A Roda-Gigante parou com a gente bem no topo — provavelmente pra ela subir.

A menina ao meu lado se encolheu e disse:

— Tô com frio… me abraça?

Ah, tá.

Olhei sério pra ela e respondi, direto como um cavalo chucro:

— Minha querida, fecha a blusa, porque não vou te abraçar, não.

Assim que descemos, as duas meninas sumiram — literalmente. Mas a prima? Ah, essa não sumiu, não. Bastaram alguns passos e ouvi:

— Oi, primo. Não foge de mim, não.

— Que isso, prima… Só ia comprar um refrigerante.

— Tá. Nem vem com conversinha. Fica comigo ou conto tudo pra tua namoradinha.

De queixo caído e ainda tonto, fui puxado pelo braço de volta pra Roda-Gigante. Nem achei mais o Daniel. A essa altura, ele deve ter ficado na mão… enquanto eu subia de novo, agora com outra menina.

O que aconteceu no restante da noite?

Ah… deixo por conta da imaginação de vocês.

Primas… vai vendo.


domingo, 24 de novembro de 2013

# 197 - Fernando Pessoa

Pensamento Vivo - 197


“E assim escrevo, ora bem ora mal, Ora acertando com o que quero dizer ora errando,
Caindo aqui, levantando-me acolá, Mas indo sempre no meu caminho, como um cego teimoso.” 

Fernando Pessoa

sábado, 23 de novembro de 2013

Sonhei... com meu pai.


Eu andava sem rumo, e quando percebi, havia chegado a um cemitério. Tudo estava silencioso, quieto. Mas não havia nenhum túmulo ou jazigo.
Entrei pelo portão, que já estava aberto. Não havia ninguém para me receber, ninguém cruzava meu caminho. Tudo era muito estranho. Ainda assim, nada me afligia.
Pelo contrário: estranhei a tranquilidade e a paz que sentia, como se estivesse num lugar onde eu realmente queria estar. Um lugar bom.

Nos sonhos, quase sempre sinto que alguém caminha comigo — e ali estava ele de novo.
Não conseguia enxergá-lo. Não é que não o visse… eu sabia que estava ali. Conversávamos. Mas sua imagem não vinha até meu cérebro, não conseguia reconhecê-lo.

Continuei andando. Aos poucos, comecei a encontrar algumas pessoas pelo caminho. Todas eram cinzentas — como se tivessem passado por uma chuva de poeira, daquelas expelidas por vulcões.
Vi cenas assim em filmes, claro. Mas não me lembrava de nada parecido nos últimos dias. Essas imagens não poderiam ser meras criações do meu subconsciente.

Cumprimentei-as com acenos, e elas me retribuíam do mesmo modo, com naturalidade.

Entrei em um salão enorme, parecido com o interior de uma pirâmide. Era sustentado por colunas feitas de pedras gigantescas. Diante de mim, um monte de lápides.
No chão, túmulos vazios.

Foi então que quem me acompanhava explicou: todas aquelas pessoas que vimos pelo caminho eram os mortos ali enterrados, que haviam saído... para ir embora.

Então entendi. Eu estava ali para buscar meu pai.

Perdi meu pai aos quatro anos. Não tenho lembrança alguma dele. Nada. Mas sabia que era por ele que eu estava ali.

Continuei andando, olhando cada túmulo.
E, de repente, não estava mais naquele lugar. Agora me encontrava numa casinha de madeira, como aquelas cabanas de montanha no Canadá.

Havia algumas pessoas sorridentes. Parei algumas delas e perguntei sobre meu pai, mas nenhuma soube me responder. Ainda assim, eu sabia — ele estava por ali.

Continuei procurando.

Então ouvi meu nome.
Não consegui distinguir se vinha do meu acompanhante ou se era meu pai.
Virei-me depressa...

...e dei de cara com meu notebook.

Dormira com ele ligado, o cursor piscando no meio de um texto. Apaguei enquanto escrevia.

Levantei com um sentimento bom no peito, mas uma pontinha de tristeza. Não consegui encontrá-lo.

Teria sido uma boa oportunidade para falar com ele.

Fica pra próxima, meu velho.
Saudades.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Vida

Sofrida
de amargas feridas
e feias cicatrizes.
Mártires em amores, 
de encanto ou desencantos, 
e de amargos momentos.
Compreendida, mas não amada,
alegre, sorridente ( com vestido transparente),
mas que por dentro, sofre tristemente.
Procura solução...
em cada ser que encontra. 
Vendendo seu corpo, sua razão.
Vida em bares,
onde se despe pra viver,
onde só poderá obter, 
de todos os seres amados, 
que seu corpo quer ter...
Um sorriso, 
um convite.
Ela sente nesse momento
a falta de todo o seu ser.
Também pode ver, 
o anseio de alguém perdido,
a alegria sufocante... Mas que,
para ela, só o gosto do dinheiro
para sustentar na mesma noite...
Outro amante.


Sou Freitas 11/01/1980

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O mar


Quando a vi ali na praia, sozinha, sentada num tronco que um dia deve ter sido um belo coqueiro, com o olhar perdido em direção ao mar, pensei ser minha oportunidade de deixá-la bem. De afastar sua tristeza.

Sempre nos demos muito bem.

Lembro dos nossos passeios no parque, de mãos dadas, comentando sobre as enormes e frondosas árvores que nos cercavam. Quando chegávamos perto do lago, estendíamos nossa toalha no gramado e nos sentávamos, observando o vai e vem das aves ou competindo ao jogar pedrinhas na água, vendo qual delas quicava mais vezes na superfície.

Ela ajeitava meus cabelos, que insistiam em cair sobre meus olhos. Contornava meu rosto com os dedos — olhos, nariz, lábios — e ficava como hipnotizada, sem desviar o olhar de mim. Eu a amava.

Era muito bom sentir seu perfume doce e suave. Tocar suas mãos macias, perceber sua pulsação acelerada na ponta dos meus dedos. Ouvir seus suspiros quando me aproximava e a beijava levemente no pescoço.

No cinema, sempre abraçados, disputávamos a última pipoca do copo, brincando e gargalhando. Muitas vezes éramos "convidados" a ficarmos quietos — os outros queriam assistir ao filme.

O momento de nos despedir à noite era uma pequena tortura. Dormíamos ansiosos pela manhã seguinte. Precisávamos estar juntos.

Mesmo nas discussões — por motivos sérios ou triviais, até mesmo pelo celular — sabíamos como tudo terminava: um dizia ao outro "você é o meu amor", e então ríamos de tudo. Querer o bem do outro, às vezes, nos fazia exagerar, mas era bom saber que estávamos sob o cuidado de alguém.

Tudo entre nós sempre foi intenso e verdadeiro. Por que teve que acabar?

Adorávamos passar horas olhando o mar, ouvindo seus sons, sentados na praia — exatamente no mesmo tronco em que ela está agora.

Agora mesmo, vendo seus cabelos sendo balançados pela brisa, lembrei do momento em que nos conhecemos e revelamos nosso interesse. Ela disse que gostava do meu sorriso, e eu, dos seus cabelos longos. Ela respondeu imediatamente:

— Não é justo. Você pode esconder seu sorriso de mim, me deixando sem ele. Eu, porém, nunca ficarei sem meus cabelos. Com certeza, sofrerei primeiro.

Sofrer. Jamais imaginaríamos que essa palavra teria tanta força entre nós.

Aproximei-me devagar por trás dela e a chamei pelo nome. Ela não se mexeu.

Chamei novamente. Ela levantou a cabeça, olhou para os lados, depois para o mar — como se procurasse algo... ou alguém. Percebi que enxugou uma lágrima e respirou fundo.

Pensei em me aproximar mais.

Dei alguns passos em sua direção e chamei-a outra vez. Tenho certeza de que me ouviu. Ela se levantou, enxugou novas lágrimas, virou-se e ficou de frente para mim. Caminhou lentamente, de cabeça baixa.

Abri os braços para recebê-la... e então ela passou por mim. Atravessou meu corpo, como se eu não estivesse ali.

Assustei-me.

Ela virou-se de novo para o mar, agora de frente para mim, e disse:

— Te amo muito... Adeus.

E foi embora, sem olhar para trás.

Olhei para o mar e chorei.

Nunca deveria tê-la contrariado, insistindo em nadar tão longe da praia.

Aquele mesmo mar que tanto amávamos tirou de mim muito mais do que a vida... Tirou o meu grande amor.

Adeus, minha querida.




sábado, 16 de novembro de 2013

# 195 - Ralph Waldo Emerson

Pensamento Vivo - 195


A glória da amizade não é a mão estendida, nem o sorriso carinhoso, nem mesmo a delícia da companhia. É a inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e confia em você. - 


Ralph Waldo Emerson






sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Sementinha

Não sabia por que estava ali
Só sei que de repente jogaram-me no chão. 
Enterraram-me, achando que eu estava morta.
Mesmo assim, toda torta e suja,
não estava morta, não.
Senti muito frio e ainda mais,
quando me senti molhada. 
Dê uma olhada! Agora morro mesmo e afogada.
Ali, enterrada, sozinha, com frio
veio-me um arrepio...
Fui enterrada viva!
Não sei quantos dias ali fiquei
mas sei que é muito ruim.
Mas não pensem que foi meu fim...
Não. Comecei a desenvolver perninhas
Muito fininhas e me firmei na terra.
De um dia a outro, no sufoco,
apareceu meus bracinhos e com mãos verdinhas.
Não tinha dedos, e nem mais tinha medo,
então comecei a mexer-me e subir.
Estava difícil, mas não desisti.
E foi então que eu vi... O dia.
Estava lindo, com sol e nuvem.
Esforcei-me o que pude e enfim pude respirar.
Por mais que me esforçasse, sem parar,
minhas perninhas não saiam do fundo.
Pensei, seria o fim do mundo?
Depois de tanto sacrifício?
Veio então a chuva.
Eu ali parada, sem chapéu ou luva,
podia me resfriar.
A chuva passou e me senti mais forte.
Sorte, porque chegou alguém esquisito.
Veio muito perto, e por certo com medo de mim.
Chegou com muito cuidado, e
mexeu na terra ao meu redor.
Era de supor que me mataria novamente,
mas somente me acariciou. Era uma menina.
Para meu espanto, regou-me e colocou num canto.
Cheirou-me e me chamou de "Minha flôr".
Foi a primeira vez que senti o amor,
e então esforcei-me a crescer, mais e mais
um pouquinho a cada dia se preciso.
Só pra ver aquela menina,
me regar com seu sorriso.
Acariciando minhas pétalas, como cabelos.
Limpando meu corpo nu, sem pelos só com espinhos.
Passou um tempinho mais e carregou-me.
Deixou-me próximo no vaso que por acaso,
ficava ao lado de seu leito.
Senti então no meu peito de flor, toda encantada,
Que estava feliz e apaixonada,

pela pequena criança, meu verdadeiro amor.


Sou Freitas

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Conheci um campeão!


Esse, não foi um encontro qualquer...

Ontem estive na semana de segurança do trabalho, organizado pela empresa em que trabalho e quando esperava apenas ouvir o de  sempre, estatísticas e regras, fui surpreso com a narrativa triste, sobre a perda de uma colega que nem conheci e nunca vi. Ela foi vítima de um acidente, por não estar com o cinto de segurança. Ah, se as pessoas ouvissem mais os técnicos de segurança...
Foi um estranho sentimento de perda, nem ao menos vi sua imagem ou como era, mas doeu.
Como todo pisciano que se preze, senti que os sentimentos e emoções reservados para aquele dia, estavam apenas começando.
Na sequência, tive também o enorme prazer de conhecer neste dia, o campeão mundial de embaixadinhas, aquele negócio de ficar quicando a bola com os pés. Foi meu primeiro contato direto com um campeão verdadeiro. Incrível!
Por que foi incrível? Já devem ter percebido pela imagem, esse cara é fera.
De início imaginei que fosse um campeão da categoria, como um paralímpico. Estava enganado. Ele é recordista de fazer mais de 90.000 embaixadinhas (esse número não está errado, é isso mesmo) em mais de oito horas controlando a bola, mas para mim, essa não foi a sua melhor marca. Nunca vi ninguém “normal”  fazer tal marca. Agora... Se não considerei esse absurdo de 90.000 embaixadinhas sua melhor marca, acho já deve imaginar qual foi então.
Vamos a ela.
O tempo todo sorridente e agradecendo a Deus pela condição que lhe deu, fez com que Edgard, tirasse lágrimas de muitos dos presentes com a narrativa de sua história.
Num tempo aonde a inclusão vem por força de lei, ele simplesmente abriu seu coração e despejou em nossos ouvidos tudo o que achávamos não ser possível. 
Ser feliz, sorrir, brincar, morar sozinho, esforçar-se por formar em administração, trabalhar e viver a vida que escolheu, foi a melhor marca que esse amigo nos mostrou. 
Sua determinação, coragem, desprendimento e simplicidade, mostraram a mim e a quem quis enxergar, que a vida é bela sim, basta vermos tudo de maravilhoso que nos cerca e deixar de lado o que não vale ser destacado. Mostrou-nos que os momentos difíceis vêm para nos fazer crescer e mostrar que podemos muito mais. O limite somos nós quem fazemos.
Foi o melhor encontro de segurança que já tivemos e acredito que foi o que mais os colegas de trabalho aprenderam, não só apenas sobre segurança, mas sobre a importância de saber que a pessoa ao seu lado também é sua responsabilidade.

Parabéns aos organizadores pela iniciativa, por como tudo foi conduzido e obrigado por mais essa oportunidade de aprender mais uma lição de vida.
Valeu mesmo, campeão!

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Dá pra cantar calado?

Oh... Elvis... Dá pra cantar calado?

Não pensem que foi uma menção ao rei do rock — foi pra mim mesmo que falaram isso.

Ontem, voltando da faculdade, depois de uma prova instantânea respondida em 10 minutos, estava eu curtindo meu MP3, presente de um colega de trabalho, quando senti um toque no ombro.

— Ô colega, tudo bem?

Era o cobrador. Acho que me empolguei e estava cantando junto com o John Lennon. Sorte a minha que o ônibus já estava chegando à rodoviária e estava quase vazio. Sem graça, fiz um sinal positivo pro cara e desliguei o som até descer.

Mas essa não foi a primeira vez... Me empolgo mesmo com minhas músicas prediletas e acabo fazendo duetos involuntários.

Fui pescar com meu sobrinho em Taiaçupeba, pra relaxar um pouco. O local fica nos fundos de um sítio que dá para uma represa. O proprietário montou uma plataforma em “T” e ceva todos os dias para atrair tilápias, carás, lambarís e outros peixes. Muito aconchegante e agradável.

Chegamos no fim da tarde com a intenção de virar a noite pescando. Pegamos um bom lugar na plataforma, já que muitos pescadores estavam indo embora. Ficamos ali com mais cinco pessoas: três à esquerda, dois à direita, ou seja, bem no meio.

O entardecer passou e começamos a pescar. A noite estava linda. Lá pelas oito, paramos um pouco para lanchar, esticar as pernas e lavar as mãos — não posso dizer que foi pra "dar uma mij...", a Jack diz que é feio falar assim. Pois bem, relaxamos um pouco, comentamos sobre o céu estrelado e voltamos à pescaria.

Até perto das dez, todos estavam firmes com as varas na mão. Depois, alguns começaram a se recolher nos carros para descansar. Meu sobrinho, um pescador à direita e outro à esquerda acabaram dormindo nas próprias cadeiras de pesca. Só eu fiquei acordado.

Olhei de um lado, do outro... Todos dormiam.

Peguei meu MP3, liguei, coloquei o capuz da blusa — a madrugada prometia ser fria — ajeitei-me e fiquei ali, de olho na boinha.

Algum tempo depois, por volta da meia-noite, percebi meu sobrinho acordando. Ele se remexeu na cadeira e perguntou:

— Ô tio, não vai dormir?

Achei estranha a pergunta, balancei a cabeça e sinalizei que não.

Ele virou de lado, se encolheu e voltou a dormir. Fechei mais um pouco o capuz em volta da cabeça e continuei com a pescaria.

Passado um tempo, ele me chamou de novo. Ouvi a voz, mas não entendi direito. Só percebi mesmo quando ele bateu no meu ombro:

— Tio, canta mais baixo, tá acordando todo mundo...

Cantar mais baixo?

Claro! Num silêncio daqueles, com uma lua linda, os peixes saltando e eu ouvindo Elvis... sem perceber, estava cantando suas músicas em dueto.

Aí sempre tem um engraçadinho...

— Ô Elvis, dá pra cantar calado, por favor?

Quem é que conseguiu dormir depois dessa? Foi só gargalhadas e brincadeiras.

Pescador é bom por isso — leva tudo de boa.

Oh, saudades dessas pescarias...

domingo, 10 de novembro de 2013

Uma noite de Natal - Parte II

Chico vinha caminhando à frente, carregando uma pequena caixa. Logo atrás dele, com passos lentos e cuidadosos, vinha uma mulher. Ela segurava junto ao peito um embrulho envolto numa manta.

— Esta é a Airam — disse Chico, parando diante de nós.

Airam era uma andarilha como nós. Chegara à cidade há alguns anos e, desde então, permanecia por ali, vagando de um canto a outro. Tinha os olhos atentos e desconfiados. Observou-nos um a um, sem estender a mão ou sorrir — apenas acenou com a cabeça, num cumprimento seco.

Chico pediu permissão a ela e, com delicadeza, retirou da caixa uma toalha vermelha, estampada com flores e frutas. Era linda, mesmo que um pouco desbotada.

Leon se aproximou de Airam com o mesmo entusiasmo que mostrara desde o início da noite.

— Olá, Airam. Sejam bem-vindos à nossa noite de Natal.

Sejam bem-vindos? — perguntei, surpreso.

— Sim — respondeu Leon, sem perder o sorriso. — Temos mais dois convidados: Airam e seu filho.

Filho? Aquilo que ela carregava apertado contra o peito… era uma criança?

Airam sorriu de leve, pela primeira vez, e disse que também tinha algo a contribuir.

Leon pegou sua caixa e, de dentro, retirou uma embalagem retangular.

— Amigo — disse ele, me mostrando o conteúdo —, pode riscar da nossa lista o bolo de nozes. Ele chegou!

Era um daqueles bolos prontos para servir. Mais tarde, naquela noite, Airam nos contaria que o ganhara de um senhor gordinho e barbudo, que lembrava Leon, só que mais velho.

Enquanto Chico e Leon estendiam a toalha sobre a mureta e organizavam as comidas com um entusiasmo quase infantil, Airam se aproximou de mim, tímida.

— Você quer ver meu filho? — perguntou.

Um pouco sem saber o que esperar, assenti com a cabeça.

Com um gesto cuidadoso, ela desdobrou parte da manta. O que vi ali não foi um bebê, mas uma boneca. Daquelas feitas para parecer um recém-nascido. Estava um pouco desgastada, com manchas nas roupas e quase nenhum fio de cabelo. Ainda assim, o cuidado com que ela a descobriu e me apresentou foi tão delicado que, por um instante, acreditei estar diante de uma criança de verdade.

Ela sorriu para mim, com ternura, e cobriu novamente o “filho” após beijar a cabecinha de plástico, desgastada pelo tempo.

Mais tarde, ao ouvir sua história, tudo fez sentido.

Airam perdera o filho em um acidente de carro, muitos anos atrás. Nunca superou a dor. Naquela manhã de domingo, véspera do Dia das Mães, ela abandonou o marido, a casa, a vida que conhecia — e passou a caminhar sem rumo. Chegou àquela cidade algum tempo depois e, ao ganhar a boneca de alguém que se comoveu com seu silêncio, nunca mais foi embora.

O que a marcou, contou-nos, foi o fato de que ela dirigia o carro no momento do acidente. Num dia de chuva, numa curva mal iluminada, perdeu o controle e capotou. Desde então, nunca mais conseguiu se perdoar.

Olhando-a de longe, vendo o carinho com que embalava aquela boneca, pensei: “Como deve doer viver com essa culpa… E como aquele amor ainda mora dentro dela, intacto, apenas transferido para aquele pequeno corpo de plástico.”

A ceia improvisada já tomava forma. Quando me aproximei de Leon e perguntei como poderia ajudar, ele apenas colocou as mãos em meus ombros e disse:

— Agora é só relaxar. Em breve, mais convidados chegarão. Vamos precisar de você.

Não entendi bem o que queria dizer, mas antes que eu perguntasse, Chico apontou para o outro lado do estacionamento.

— Olha lá, vem mais alguém! — disse ele, animado.

Leon abriu um largo sorriso e caminhou ao encontro do recém-chegado:

— Pronto! Um já chegou. Vamos recebê-lo.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

domingo, 3 de novembro de 2013

Uma noite de Natal - Parte I

Gosto muito do Natal e, todos os anos, ele me traz surpresas.

As luzes coloridas já começam a surgir nas vitrines das lojas. É lindo ver aquele pisca-pisca, com as lampadinhas amarelas, vermelhas, azuis e verdes, acendendo e apagando. Ainda estamos no início de novembro, mas parece que todos já estão se animando com o Natal. É incrível como o espírito dessa época contagia as pessoas: elas sorriem mais, cumprimentam os outros mesmo quando estão apressadas, sem tempo para conversar.

Para mim, deveria ser apenas mais um Natal, mas, de alguma forma, sinto que este será especial. Por quê? Não sei... Só sinto isso.

No ano passado, passei o Natal com a turma da rodoviária. Pessoas como eu, que não têm para onde ir ou com quem passar a noite. Uns nos chamam de andarilhos, outros, infelizmente, de vagabundos. Mas ninguém sabe nada sobre nós. Apenas nos veem caminhando de um lado para o outro, sem entender o que buscamos, por que vivemos assim. Mas não importa... Sou feliz sendo um andarilho. Sorte minha estar num país tropical, onde o inverno não é tão cruel. Se estivesse na Europa ou na América do Norte, com certeza estaria congelado ou gripado por conta da friagem.

No ano passado, ganhamos algumas coisas deliciosas para comer na noite de Natal. Estávamos em sete pessoas e não nos conhecíamos. Foram aparecendo aos poucos no estacionamento da rodoviária. Um aqui, outro ali, sem ter combinado nada. Desculpe se não me lembro de todos os nomes, mas um dos que mais marcou foi o Leon. Ele apareceu logo depois de mim. Estávamos apenas eu e o Chico, conversando, quando ele chegou.

— Boa noite! Nada de choramingos, Papai Noel chegou e trouxe presentes! — disse Leon, mostrando uma pequena caixa de Natal que havia ganhado de uma senhora da Assistência Social.

— Vamos preparar nossa ceia, já são nove horas! — ele completou, com um sorriso no rosto.

Aquele homem, estranho, de barba espessa e um tanto gordinho, logo nos contagiou com seu entusiasmo. Nos apresentamos e começamos a conversar sobre como faríamos nossa ceia. Chico logo se ofereceu para arrumar um lugar onde pudéssemos comer. Sugeriu a mureta que dividia o estacionamento da rodoviária, que tinha a altura de uma mesa. Não parou por aí: disse que sabia onde conseguiria uma toalha bonita, caso não nos importássemos de ter mais uma convidada. Claro que aceitamos, mas percebemos a cara de preocupação de Chico. Ele não saiu do lugar, olhando para suas coisas e depois para nós, talvez pensando: "Eles vão roubar tudo". Leon percebeu imediatamente e disse:

— Vá tranquilo, meu amigo. É Natal. Ninguém vai mexer nas suas coisas, eu prometo.

E lá foi o desconfiado Chico, caminhando, olhando para trás a cada passo.

Eu, por minha vez, peguei o pouco de comida que tinha e juntei com o que Leon trouxe. Ele avaliou a situação com um olhar atento.

— Hum... Precisamos de uma champanhe e um bolo de nozes. Precisamos providenciar isso.

Não sei bem o que ele quis dizer com isso, mas, como sempre, concordei. E as surpresas daquela noite estavam apenas começando.

Logo Chico voltou, acompanhado por sua convidada. Seu nome era Airam. Mas o que era aquilo que ela trazia apertado junto ao peito?...

 


Laika, a cãomosnautra

EU TAMBÉM PROTESTO!

Num momento quando se  discute sobre o uso de cães e animais em experiências, quero lembrá-los de Laika. A primeira cãomosnautra do mundo, se é que existe algo assim.
A belezinha da Laika era uma cadelinha soviética que viu a coisa ficar russa pra ela quando decidiu enviar pela primeira vez, um ser vivo ao espaço. Para orbitar a terra.
Não gastaram milhões na preparação dela, como fizeram com o representante brasileiro quando este também foi ao espaço. Não a prepararam pra nada, apenas a colocaram na nave e a dispararam para o espaço e assim foi que a pequena Laika foi enviada para o espaço... Literalmente.
Isso aconteceu em 1957. Ela foi levada pela nave Sputinik 2 a segunda nave a orbitar nosso planeta.
A coitadinha deve ter sofrido muito até morrer e segundo os sábios e torturadores cientistas, ela deve ter morrido entre seis e sete horas depois do lançamento. Os gênios acreditam que Laika morreu provavelmente pelo estresse do lançamento ou ainda por um superaquecimento.
Ainda saíram com essa: que a experiência demonstrou ser possível para um animal suportar as condições de microgravidade e abriu caminho assim para a participação humana em voos espaciais.
Vai vendo...
Muito "legal" isso dos russos né, eles até comemoraram e acharam bonito.
Que cachorrada fizeram com a Laika.
Pobrezinha...
Se fosse aqui, as coisas ficariam russas pra esses cientistas.
AH, se ficava.

sábado, 2 de novembro de 2013

O churrasquinho de anversário

Saio de casa às seis e vinte. Pego o ônibus na porta de casa, enquanto o Twoo uiva, com as patinhas sobre o portão, inconformado ao me ver saindo e iniciando mais uma maratona.

Ele sempre era questionado por morar vizinho ao cemitério da cidade e não ter amigos.
Sua casa dividia o muro com os fundos do cemitério, mas sempre que perguntavam, ele dizia:

— Não tenho mais medo, não. Já conheço todos por ali.

Certamente, seus colegas de trabalho achavam que ele falava assim só para desconversar. Muitas brincadeiras surgiram por causa disso:

— Ah! Ele fala pouco porque acha que a gente vai zoar do medo dele.
— Trabalha na primeira turma pra não ter que passar à noite pelo portão preto...

O "portão preto" era a entrada principal do cemitério. Falavam assim dele, mas o curioso era que, sempre que ele convidava alguém pra conhecer sua casa e tomar uma cervejinha no fim da tarde, ninguém aparecia. Todos tinham boas desculpas.

Afinal, quem é que tinha medo da noite quando se tratava de visitá-lo? Essa era a questão que os amigos discutiam no almoço.

Chegou o dia do aniversário dele. Um sábado. Feriado. Dia de Finados.

Ele convidou os colegas para um churrasquinho.

— Ah... Sinto muito, mas tenho que cuidar da minha sogrinha amada... Coitadinha.
— Não vai dar, virei vegetariano... Desde quando? Ontem...

E assim foram as desculpas, uma atrás da outra. Só um deles topou: o conhecido valentão do setor, intimado pelos colegas a manter sua fama.

— Ir lá? Do lado de um cemitério? Um churrasco à noite?...

As risadas rolaram soltas, e ele acabou aceitando, pressionado.

Chegou o grande dia. Lá foi o valentão.

Ao chegar, se surpreendeu: havia pelo menos quinze pessoas na casa. Animado, pegou uma cerveja e foi cumprimentando o pessoal até chegar à churrasqueira, onde o amigo assava uns espetos.

Achou estranho: havia no máximo uns dez espetos. Pouco pra tanta gente. Mesmo assim, pegou um e começou a comer.

— E aí, meu amigo, festa animada. Quanta gente!
— São todos amigos, fique à vontade...

O valentão achava os convidados muito sérios. Tentou puxar papo com um casal:

— Boa noite, são amigos do meu colega?
— Boa noite. Somos, sim.
— Conhecidos da família?
— Não, o conhecemos aqui mesmo.

O casal se afastou e ele ficou sozinho de novo. Voltou pra perto da churrasqueira:

— Gente boa aquele casal.
Mas, ao olhar, não estavam mais ali.

— Estranho. Estavam aqui agora mesmo.
— Não estranhe. Eles são assim mesmo. Mas sei quem são. Vi você conversando com eles. Bem animados.
— Eram... Sim. E aquele rapaz ali? Muito engraçado. Ué, cadê ele?
— Com certeza já se foi. Fique tranquilo, são assim mesmo.
— Cara, não acha que é pouca carne pra tanta gente?
— Não. Esses espetos são pra mim e pra você. Eles não comem.

O valentão parou de mastigar e olhou sério para o colega, que seguia tranquilo virando os espetos.

— Como assim, não comem?
— Antigamente comiam. Agora não precisam mais.

Nesse instante, um dos convidados se aproximou:

— Obrigado, meu bom amigo. Foi ótimo rever os colegas. Mas preciso ir.

Virou-se, foi em direção ao muro do cemitério... e desapareceu.

O valentão suava frio, olhos arregalados. Outro convidado chegou:

— Tô indo, amigo. Tô literalmente morto de cansaço.

Foi o bastante. O valentão largou tudo e saiu correndo sem olhar pra trás.

O convidado olhou a cena, balançou a cabeça:

— Que cara doido... Parece que viu um fantasma.

E então sumiu no ar, deixando apenas um riso ecoando.

O colega, tranquilo, virando os espetos, resmungou:

— Esse pessoal do trabalho é estranho mesmo...

"Dizes com quem tu andas e te direi quem eras"... Conheces bem seus amigos?
Não???
Rsrsrsrs... Vai um espetinho?


sexta-feira, 1 de novembro de 2013