Gosto muito
do Natal e, todos os anos, ele me traz surpresas.
As luzes coloridas já começam a surgir nas vitrines das
lojas. É lindo ver aquele pisca-pisca, com as lampadinhas amarelas, vermelhas,
azuis e verdes, acendendo e apagando. Ainda estamos no início de novembro, mas
parece que todos já estão se animando com o Natal. É incrível como o espírito
dessa época contagia as pessoas: elas sorriem mais, cumprimentam os outros
mesmo quando estão apressadas, sem tempo para conversar.
Para mim, deveria ser apenas mais um Natal, mas, de alguma
forma, sinto que este será especial. Por quê? Não sei... Só sinto isso.
No ano passado, passei o Natal com a turma da rodoviária.
Pessoas como eu, que não têm para onde ir ou com quem passar a noite. Uns nos
chamam de andarilhos, outros, infelizmente, de vagabundos. Mas ninguém sabe
nada sobre nós. Apenas nos veem caminhando de um lado para o outro, sem
entender o que buscamos, por que vivemos assim. Mas não importa... Sou feliz
sendo um andarilho. Sorte minha estar num país tropical, onde o inverno não é
tão cruel. Se estivesse na Europa ou na América do Norte, com certeza estaria
congelado ou gripado por conta da friagem.
No ano passado, ganhamos algumas coisas deliciosas para
comer na noite de Natal. Estávamos em sete pessoas e não nos conhecíamos. Foram
aparecendo aos poucos no estacionamento da rodoviária. Um aqui, outro ali, sem
ter combinado nada. Desculpe se não me lembro de todos os nomes, mas um dos que
mais marcou foi o Leon. Ele apareceu logo depois de mim. Estávamos apenas eu e
o Chico, conversando, quando ele chegou.
— Boa noite! Nada de choramingos, Papai Noel chegou e trouxe
presentes! — disse Leon, mostrando uma pequena caixa de Natal que havia ganhado
de uma senhora da Assistência Social.
— Vamos preparar nossa ceia, já são nove horas! — ele
completou, com um sorriso no rosto.
Aquele homem, estranho, de barba espessa e um tanto
gordinho, logo nos contagiou com seu entusiasmo. Nos apresentamos e começamos a
conversar sobre como faríamos nossa ceia. Chico logo se ofereceu para arrumar
um lugar onde pudéssemos comer. Sugeriu a mureta que dividia o estacionamento
da rodoviária, que tinha a altura de uma mesa. Não parou por aí: disse que
sabia onde conseguiria uma toalha bonita, caso não nos importássemos de ter
mais uma convidada. Claro que aceitamos, mas percebemos a cara de preocupação
de Chico. Ele não saiu do lugar, olhando para suas coisas e depois para nós,
talvez pensando: "Eles vão roubar tudo". Leon percebeu imediatamente
e disse:
— Vá tranquilo, meu amigo. É Natal. Ninguém vai mexer nas
suas coisas, eu prometo.
E lá foi o desconfiado Chico, caminhando, olhando para trás
a cada passo.
Eu, por minha vez, peguei o pouco de comida que tinha e
juntei com o que Leon trouxe. Ele avaliou a situação com um olhar atento.
— Hum... Precisamos de uma champanhe e um bolo de nozes.
Precisamos providenciar isso.
Não sei bem o que ele quis dizer com isso, mas, como sempre,
concordei. E as surpresas daquela noite estavam apenas começando.
Logo Chico voltou, acompanhado por sua convidada. Seu nome
era Airam. Mas o que era aquilo que ela trazia apertado junto ao peito?...
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