quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Mais um título do meu Santo


Tudo foi planejado... Ou quase.
Eu iria ao estádio ver o meu Santo André ser campeão, mais uma vez. 
Convidei alguns amigos e o Mano véio, mas ninguém quis ir. Ramalhão mesmo, de verdade, só eu. Então, fui sozinho mesmo.
O jogo seria difícil, afinal, o adversário seria o temido XV de Piracicaba, time tradicional do interior paulista. Eu não tinha duvida que seríamos  campeões. O campo da disputa seria no antigo Parque Antártica  do Palmeiras, clube que com o passar dos anos, nos teria como uma pedra no sapato, mas isso é outra história.
Como na época eu participava da torcida uniformizada, iria com o ônibus fretado que partiria da prefeitura municipal, na verdade eram vários ônibus que levariam gratuitamente quem quisesse ver o confronto. O ônibus que entrei, era já um tanto velho de uma empresa da cidade vizinha, Mauá. Mas o que me importava mesmo, era que eu estar dentro dele. Eu iria ver o Ramalhão!
Logo de cara, já dentro do ônibus lotado e sem ninguém que eu conhecesse, apareceu uma garrafa de whisky na minha mão, não sei de onde ela surgiu e muito menos qual era a marca, então começou o coro "Vira, Vira...", e eu virei.
Partimos de Santo André num frenesi tremendo, cantarolando e gritando "`O glorioso é o campeão". Logo outras garrafas começaram dar as caras, cachaça, vinho, mais whisky e sei lá eu, o que mais. Naquela altura já nem sabia mais o que bebia, então comecei a maneirar. Só sei que cheguei ao estádio sem minha camisa e com uma bandeira jogada nas costas.
Fui entrando no estádio levado pela turma. Confesso que nem me lembro da cara do estádio ou de como eu chegará ali no meio da arquibancada. Quem pagara o meu ingresso? Acho que eu não estava muito bem, então resolvi ir ao banheiro lavar o rosto e tentar me recuperar um pouco.
Quando voltei, não sabia mais onde estava a turma do ônibus. Estava perdido naquela imensidão de gente. Mas tudo bem, eu viera para ver o jogo e ele já ia começar. Como não era lá muito alto, mal conseguia ver o jogo e na base do "Dá licença", fui abrindo caminho e cheguei ao gargarejo, na cara do campo.
Era minha noite, até então nunca tinha vibrado tanto, nem mesmo no nosso primeiro título em 1975, na época eu era um garoto que se apaixonava por este clube. Já estava ficando rouco, louco e um pouco de tudo. Meus ídolos eram o Fernandinho e o Lance, um jogador já veterano.
E assim o jogo rolou, fácil para nós.
Faltavam cinco minutos para o final, vencíamos de 3x1. Acho que toda minha agitação com o jogo me fizera transpirar muito, jogando todo aquele excesso de álcool pra fora. Resolvi sair dali e ir para o ônibus antes do jogo terminar. Já que não estava muito bem, pelo menos chegaria logo, sem riscos de ser atropelado pela multidão.
Até que achei o nosso ônibus rapidinho e entrei. Como eu, mais três colegas tiveram a mesma ideia e começamos a conversar e comemorar o título.
De repente o motorista fechou as portas e disse:
- Vamos embora os torcedores do XV estão saindo e vindo pra cá.
Como assim irmos embora? E os outros colegas?
Nem deu tempo para perguntar, logo uma pedra arrebentou um das janelas. O motorista ligou e acelerou o ônibus. Deitamos no chão debaixo dos bancos enquanto mais pedras quebravam outras janelas, jogando vidros por toda parte. Foi assustador.
Ali, encolhidos e quietos, percebemos as manobras do motorista que saia em alta velocidade do estacionamento, onde havia parado.
Foi um grande susto. Fora alguns arranhões e pequenos cortes, tudo ficou bem. Até chegarmos ao centro de Santo André.
Quando passávamos pela prefeitura o motorista parou o ônibus e pediu para descermos. Isso era perto da uma da madrugada, mas descemos sabendo que neste horário não haveria transporte público para casa.
Os colegas, como estavam juntos, foram embora a pé mesmo e lá estava eu, no centro de Santo André, muito longe de casa, sem camisa e enrolado na bandeira do Ramalhão. Numa madrugada fria pra caramba.
Já que não tinha jeito, fiquei por ali mesmo, comemorando com as dezenas de andreenses, que começaram a encher o centro, até circular o primeiro ônibus.
O duro foi explicar em casa a minha condição e trabalhar no outro dia todo dolorido.
Mas com a gente é assim mesmo, uma vez Ramalhão... Sempre campeão.
Valeu todo o sacrifício.


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