Quando a vi ali na praia, sozinha, sentada num tronco que um dia
deve ter sido um belo coqueiro, com o olhar perdido em direção ao mar, pensei
ser minha oportunidade de deixá-la bem e afastar sua tristeza.
Sempre nos demos
muito bem.
Lembro-me de
nossos passeios no parque, de mãos dadas, comentando algo sobre as enormes
e frondosas árvores que nos cercavam. quando chegávamos próximo ao lago,
estendíamos nossa toalha no gramado e sentávamos vendo o ir e vir das aves do
parque ou competíamos jogando pedrinhas na água, vendo quem a fazia quicar mais
na superfície.
Ela ajeitava meus
cabelos, que insistiam em cair sobre meus olhos. Contornava meus olhos, nariz,
meus lábios, e ficava como que hipnotizada, sem tirar seus olhos de mim. Eu a
amava.
Era muito bom
sentir seu perfume, doce e suave. Tocar suas mãos macias, sentir sua pulsação
acelerada nas pontas de meus dedos. Sentir seus suspiros quando me aproximava e
a beijava levemente no pescoço.
Quando no cinema,
sempre abraçados, disputávamos a última pipoca do copo, brincando e
gargalhando. Muitas vezes éramos "convidados" a ficarmos quietos, as
demais pessoas queriam assistir ao filme.
O despedir no
final da noite e o dormir ansioso pela chegada da manhã seguinte, era
como uma tortura ou castigo. Precisávamos estar juntos.
Mesmo nas discussões, por motivos sérios ou triviais, até mesmo
pelo celular, sabíamos o final, um dizia ao o outro que ele era seu
amor e riríamos de tudo. Querer o bem do outro, às vezes nos faziam exceder,
mas era muito bom saber que estava sob o cuidado de alguém.
Tudo conosco,
sempre fora muito intenso e verdadeiro. Por que teve que acabar?
Adorávamos passar
horas olhando para aquele mar, ouvindo seus sons, sentados na praia, no mesmo
tronco de coqueiro em que ela está.
Agora mesmo, aqui,
vendo seus cabelos ser balançados pela brisa, lembrou-me de quando nos
conhecemos e revelamos o interesse um pelo outro. Ela disse que gostava de meu
sorriso e eu de seus cabelos longos. Imediatamente disse não ser justo isso.
- Você pode
esconder seu sorriso de mim, deixando-me sem ele e eu nunca ficarei sem meus
cabelos. Com certeza sofrerei primeiro.
Sofrer... Jamais
pensaríamos que essa palavra tivesse tanta força entre nós.
Aproximei-me
devagar por suas costas e a chamei pelo nome. Ela não se mexeu.
Chamei-a novamente
pelo nome e ela levantou sua cabeça, olhou para os lados e depois para o mar,
como que procurando algo ou por alguém. Percebi ela enxugar uma lágrima e
respirar fundo.
Pensei em
aproximar-me mais.
Dei alguns passos
em sua direção e chamei-a novamente. Dessa vez tenho certeza que me ouviu.
Ficou de pé, enxugou outras lágrimas, virou-se e ficou de frente para mim. Veio
andando lentamente em minha direção, de cabeça baixa.
Abri meus braços para
recebê-la e então ela passou por através de mim, como se eu não estivesse ali.
Assustei-me.
De repente
virou-se para ver o mar, ficou de frente a mim e disse:
- Te amo muito...
Adeus.
Ela foi embora,
sem olhar para trás. Olhei para o mar e chorei... Nunca deveria tê-la
contrariado indo nadar tão longe da praia.
Aquele mesmo mar que tanto amávamos, tirou-me muito mais do que a vida... Ele tirou-me o meu grande amor.
Adeus minha querida.
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