quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O mar


Quando a vi ali na praia, sozinha, sentada num tronco que um dia deve ter sido um belo coqueiro, com o olhar perdido em direção ao mar, pensei ser minha oportunidade de deixá-la bem. De afastar sua tristeza.

Sempre nos demos muito bem.

Lembro dos nossos passeios no parque, de mãos dadas, comentando sobre as enormes e frondosas árvores que nos cercavam. Quando chegávamos perto do lago, estendíamos nossa toalha no gramado e nos sentávamos, observando o vai e vem das aves ou competindo ao jogar pedrinhas na água, vendo qual delas quicava mais vezes na superfície.

Ela ajeitava meus cabelos, que insistiam em cair sobre meus olhos. Contornava meu rosto com os dedos — olhos, nariz, lábios — e ficava como hipnotizada, sem desviar o olhar de mim. Eu a amava.

Era muito bom sentir seu perfume doce e suave. Tocar suas mãos macias, perceber sua pulsação acelerada na ponta dos meus dedos. Ouvir seus suspiros quando me aproximava e a beijava levemente no pescoço.

No cinema, sempre abraçados, disputávamos a última pipoca do copo, brincando e gargalhando. Muitas vezes éramos "convidados" a ficarmos quietos — os outros queriam assistir ao filme.

O momento de nos despedir à noite era uma pequena tortura. Dormíamos ansiosos pela manhã seguinte. Precisávamos estar juntos.

Mesmo nas discussões — por motivos sérios ou triviais, até mesmo pelo celular — sabíamos como tudo terminava: um dizia ao outro "você é o meu amor", e então ríamos de tudo. Querer o bem do outro, às vezes, nos fazia exagerar, mas era bom saber que estávamos sob o cuidado de alguém.

Tudo entre nós sempre foi intenso e verdadeiro. Por que teve que acabar?

Adorávamos passar horas olhando o mar, ouvindo seus sons, sentados na praia — exatamente no mesmo tronco em que ela está agora.

Agora mesmo, vendo seus cabelos sendo balançados pela brisa, lembrei do momento em que nos conhecemos e revelamos nosso interesse. Ela disse que gostava do meu sorriso, e eu, dos seus cabelos longos. Ela respondeu imediatamente:

— Não é justo. Você pode esconder seu sorriso de mim, me deixando sem ele. Eu, porém, nunca ficarei sem meus cabelos. Com certeza, sofrerei primeiro.

Sofrer. Jamais imaginaríamos que essa palavra teria tanta força entre nós.

Aproximei-me devagar por trás dela e a chamei pelo nome. Ela não se mexeu.

Chamei novamente. Ela levantou a cabeça, olhou para os lados, depois para o mar — como se procurasse algo... ou alguém. Percebi que enxugou uma lágrima e respirou fundo.

Pensei em me aproximar mais.

Dei alguns passos em sua direção e chamei-a outra vez. Tenho certeza de que me ouviu. Ela se levantou, enxugou novas lágrimas, virou-se e ficou de frente para mim. Caminhou lentamente, de cabeça baixa.

Abri os braços para recebê-la... e então ela passou por mim. Atravessou meu corpo, como se eu não estivesse ali.

Assustei-me.

Ela virou-se de novo para o mar, agora de frente para mim, e disse:

— Te amo muito... Adeus.

E foi embora, sem olhar para trás.

Olhei para o mar e chorei.

Nunca deveria tê-la contrariado, insistindo em nadar tão longe da praia.

Aquele mesmo mar que tanto amávamos tirou de mim muito mais do que a vida... Tirou o meu grande amor.

Adeus, minha querida.




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