sábado, 31 de agosto de 2013
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Sentada no caixão.
O título é pra assustar mesmo. Mas que é verdade, ninguém discute. Tanto que o acontecido virou história registrada nos livros que contam o centenário de Guaxupé, lá em Minas.
Lembra do causo do lobisomem que meu tretavô viveu? Pois então... as mulheres da família também não ficavam atrás quando o assunto era viver histórias que davam o que falar.
Dessa vez, a protagonista foi a bisa da minha avó, dona Pedrosa.
Ninguém mais sabe exatamente como tudo aconteceu, mas eu, que não perco uma chance de imaginar, me pus a montar a cena na cabeça. E acho que foi mais ou menos assim...
A notícia da morte da bisa abalou a família inteira. Parente veio de tudo quanto é canto. Os vizinhos, todos presentes. Naquela época, o velório era feito em casa mesmo, com o finado estendido na sala e os móveis empurrados pros cantos. Cada família tinha seu costume.
Tinha gente que “bebia” o defunto — uma desculpa meio esfarrapada pra encher a cara, diga-se. Se fosse assim hoje, eu até imagino a fila de cachaceiros em cada velório da cidade. O duro seria carregar o caixão depois.
Outras famílias contratavam choronas profissionais. Isso mesmo. Mulheres pagas pra chorar. Passavam a noite soluçando, acompanhavam o enterro ainda aos prantos... E só então recebiam. Quando recebiam. Porque, se levavam calote, aí sim era chororô de verdade — e sem fim.
Mas voltando ao nosso causo...
A casa estava cheia, uma tristeza só. Os filhos, o marido, os netos, todo mundo de luto. O povo chegava, dava os pêsames, ficava ali em volta do caixão, contando histórias da bisa, dizendo o quanto ela era uma mulher valorosa, dedicada, religiosa. Coisas assim.
Já perto da hora do enterro, chegou o padre. A bisa era muito católica. Ele entrou benzendo a casa, abrindo caminho até o caixão, com aquela voz de missa e cheiro de incenso. As senhoras logo puxaram seus terços das bolsas, os homens abriram os livros de oração, e o padre foi se posicionando pra iniciar o ritual.
Silêncio total.
— Vamos começar, meus irmãos. Mas não fiquem tristes… Com certeza, nossa amiga vive e está feliz onde se encontra agora — disse ele, com voz serena.
Foi aí que alguém notou: algo se mexeu sob as flores. Um pequeno movimento, quase imperceptível. O olhar de um puxou o olhar de outro, e logo todos estavam com os olhos fixos no caixão. A tensão era palpável. Ninguém respirava.
De repente, no meio das margaridas e coroas, a bisa sentou.
Isso mesmo. S-E-N-T-O-U.
Levantou o tronco, os cabelos meio grudados de suor, os olhos meio fechados ainda. E com voz firme, entre as flores e cruzes, soltou:
— Cadê meu tutu com feijão?
O grito veio em seguida — mas não foi dela, foi do povo. Foi cada um correndo pra um lado. Gente pulando janela, se esgueirando por baixo da mesa, tropeçando em cadeira. Nem o padre ficou. Desmaiou ali mesmo, batendo com o terço no chão. Imagino o susto: ele mal tinha dito que ela estava viva... e ela levanta pra pedir comida!
Depois de um tempo — ninguém sabe quanto —, os mais corajosos voltaram devagar, com o coração ainda disparado. E lá estava ela, sentada no caixão, com a cara de quem não entendia nada.
Hoje em dia, a explicação seria catalepsia — aquela condição em que a pessoa parece morta, mas está viva. Mas lá no interior, sem médico por perto, sem exame nem diagnóstico, a explicação era só uma: “pernas pra que te quero”.
A bisa ainda viveu muitos anos depois disso. Mas dizem que, quando finalmente morreu de verdade, a família toda ficou em volta do caixão... só esperando.
Vai que ela resolvia pedir mais um tutu com feijão.
Causo de família é assim: se a mãe e os tios contam... quem sou eu pra duvidar?
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Eu não quero mais abóbora!
Para mim era desse tamanho... |
Éramos,
então, dois moleques em férias escolares, cheios de saúde e prontos pra
aprontar alguma. Sempre foi assim.
O fundo da casa da vovó Zequinha, naquela época, parecia
enorme — parecia não ter fim. Tinha pés de ameixa, abacate, e até
fruto-do-conde. Um verdadeiro paraíso para nós.
Era o melhor lugar do mundo para nossas aventuras e
peraltices. O cenário perfeito para nos manter presos em casa nas férias de
julho.
Ali já fora palco de teatrinhos improvisados. Na verdade, o
palco era na casa do vizinho da direita; nosso quintal virava plateia,
separados dos "micro-atores" apenas por uma cerca de madeira. Não
posso esquecer do nosso clube secreto — e nele meninas não podiam entrar. Só os
"Bolinhas". Tínhamos também nosso ponto preferido: a velha ameixeira.
De lá, dava até pra espiar as filhas do vizinho da esquerda... Ops! Isso não
era pra contar. Agora já foi.
Como sempre, lá estávamos nós — eu e Dodo — brincando sei lá
do quê. Subíamos numa árvore, depois em outra, e construíamos cabanas com
pedaços de madeira e papelão. A área era território proibido para a priminha
caçula.
Estávamos no abacateiro quando a tia nos flagrou e foi logo
dando bronca por causa da bagunça no quintal:
— Mas vocês não ficam quietos mesmo, né? Arrumem já essa
bagunça e não vão pro lado das abóboras. Tem uma enorme lá que vou fazer doce. Não
me quebrem ela do pé!
Abóbora? Que abóbora?
Nem tínhamos percebido — e, é claro, aquela fala da tia foi
interpretada por nós como um chamado irresistível. Ela mal deu as costas, e lá
fomos nós, cortar talos das folhas da abóbora pra fazer tubos e soltar bolhas
de sabão. As bolhas eram feitas com o sabão... hmmm... digamos...
"emprestado" da pia da tia. Ops! Outra que escapou.
Depois de cortar os tubos, raspar a pele espinhosa e
preparar a água com sabão, lá estávamos nós, eu e Dodo, soltando bolhas no ar e
correndo atrás pra estourá-las.
Confesso que não lembro quem "fui" — quer dizer,
quem foi — mas o fato é que quebramos o talo da abóbora gigante da tia.
Lei de Murphy: “Se algo pode dar errado, vai dar. E da pior forma possível.”
Saímos de lá quietos, de fininho. Mas a tia, já vacinada
contra nossas artes, percebeu nossa fuga e foi ver o que tinha acontecido.
Só ouvimos o grito dela... e sumimos.
— Ahhh! Seus moleques levados! Quebraram minha abóbora,
né? Pois agora vão comer ela tudinho!
A partir daquele dia, era abóbora no almoço e na
janta.
Todo mundo comendo frango, carne, e nós... abóbora. Só
depois da nossa porção é que podíamos comer outra coisa.
Era abóbora refogada, doce de abóbora, abóbora recheada...
abóbora com isso, abóbora com aquilo...
— EU NÃO QUERO MAIS ABÓBORA! — E tome mais abóbora.
Depois daquele dia, aprendi duas lições:
A primeira: se alguém disser "não vai lá que vai dar
ruim", a menos que você ame abóbora... NÃO VÁ.
A segunda: nunca reclame do fim das férias. Graças a elas,
eu voltei pra casa... e o Dodo ficou com o resto da abóbora. Sozinho.
...Eca!
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
# 177 - Wood Allen
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Filme de ação
Há muita
gente divertida neste mundo doido.
Sabe aquele cara muito louco, de bem com a vida, que vive
fazendo graça e nos divertindo? Esse era o primo João.
Resolvi passar um fim de semana com ele e sua família. Há
muito vinha planejando, mas por força do trabalho terminava adiando.
Como sempre, sua recepção parecia uma festa. Ele tinha um
prazer enorme em receber visitas, tanto que sempre havia alguém em sua casa.
Com um sorriso largo e sincero, abriu o portão e, falando alto, me cumprimentou
com satisfação, quase quebrando meus ossos num forte abraço.
Depois de muita conversa e um almoço inesquecível, ficamos
na varanda relembrando o passado, os entes queridos que já partiram e as
peripécias aprontadas na juventude.
Assunto vai, assunto vem, começamos a falar de filmes. Tanto
eu quanto o primo João somos dois fanáticos, e logo começamos a trocar nomes e
preferências.
Estávamos em plena conversa profunda e cheia de referências:
– Lembra-se desse, daquele, que fazia aquilo...?
– Muito bom! Mas tinha outro, com aquela cena, que acabava
assim...
Entendíamo-nos muito bem.
Então o primo João levantou-se de repente e disse:
– Tenho um novo aqui, com fulano de tal. Dizem que é muito
bom. Vamos ver?
A noite já vinha chegando, e como não íamos sair, a sugestão
era perfeita.
O primo entendia das coisas: preparou um tira-gosto, pegou
umas cervejas e colocou o filme.
No início estava meio parado, mas foi encorpando... e ficou
ótimo.
Percebia que o primo se mexia constantemente na poltrona. A
cada cena mudava de posição. Eram pés nervosos balançando, braços cruzando e
descruzando...
O filme se aproximava do clímax. Sabe aquela parte em que o
mocinho se ferra todo, quase destruído, mas se levanta e reage com tudo?
Chegamos lá.
O herói entra num galpão para resgatar a donzela e começa a
bater em todo mundo, quebrar tudo. De repente, o primo João salta da poltrona e
começa a interagir com o filme, dando socos e pontapés no ar. Gritava umas
palavras incompreensíveis e se movimentava pela sala como se estivesse no
próprio set de filmagem.
Eu, que já me engasgara com a batatinha no primeiro salto
dele, tossia feito um doido. Arregalei os olhos e me encolhi no sofá,
assustado. Nem sei onde foi parar a latinha de cerveja que eu segurava.
Ao fim da cena, com a vitória gloriosa do herói, o primo –
já suado de tanto lutar com os inimigos imaginários – virou-se para mim,
sorridente:
– Primo, que filme bom. Adoro filme de ação!
Eu, ainda em estado de choque, apenas balancei a cabeça,
concordando.
Ainda animado, ele retirou o DVD, guardou com cuidado e se
virou novamente:
– Vamos jantar agora. Depois, a gente vê um de terror que
dizem ser ótimo também!
Fala sério...
Depois de uma exibição dessas com um filme de ação, acham
que eu ainda assistiria a um filme de terror com o primo?
Foi muita adrenalina para um dia. Falei que estava com sono
e me mandei para o quarto.
Já vi gente empolgada com filmes... mas como o primo João?
Não existe.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
O negro Tirço
Andando pelo asfalto em pleno meio-dia, lá ia aquele homem negro, aparentemente nos seus cinquenta anos.
O que mais chamava a atenção de quem por ele passava era que caminhava descalço — e parecia não sentir o asfalto quente sob os pés desnudos.
Estávamos perto das 12h00, o sol a pino, o asfalto refletia o calor como num espelho, e ele seguia, como se andasse nas areias de uma praia. Bolsa nas costas e falando sozinho.
Esse era Tirço.
Tirço era descendente de escravos — e dizia isso com orgulho.
Acostumara-se a andar descalço.
Sapatos em seus pés, só quando ia à missa. Para essa ocasião especial, tinha uma botina velha que estava sempre impecável. Não ia à missa se não estivesse calçado com ela. No dia a dia, só andava descalço.
Diziam, lá no povoado onde morava, que a sola dos seus pés era tão grossa que podia entortar um prego, caso pisasse.
Mas esse povo é assim mesmo: não pode ver ninguém feliz, sem nada, de bem com a vida, que já caçoa.
Contam os mais velhos que, numa dessas longas caminhadas, Tirço passou por uma vila onde havia uma festa em prol da igreja local.
Como sempre, alguns arruaceiros, depois de tomar todas, procuravam confusão, só pra chamar a atenção das moças.
Faziam graça, provocavam os jovens da vila, que preferiam ficar na deles, evitando briga.
Foi então que descobriram o Zé Antonho.
Zé Antonho era um homem pacato, que todos conheciam. Trabalhador, cortador de cana, boa praça.
Estava todo sorridente, comemorando: acabara de ganhar um frango assado com farofa no bingo do padre Inácio.
O trio de provocadores se aproximou e começou a zombar.
Zé Antonho era pacato, mas não levava desaforo pra casa.
Perdendo a paciência, largou o frango com farofa e partiu pra cima dos três.
As pessoas, assustadas, se afastaram, formando um círculo.
Ninguém teve coragem de intervir.
Viram o Zé apanhar dos três forasteiros.
A confusão estava armada.
Foi quando Tirço, de longe, viu o tumulto.
Parou na barraca de bolo, comprou um de chocolate e ficou olhando.
Um dos arruaceiros, depois de dar um chute no Zé, que já estava no chão, virou-se todo sorridente para se exibir — e deu de cara com os olhos de Tirço, que saboreava seu bolo de chocolate.
O provocador então caminhou até ele e disse: — O que foi, negro? Nunca viu, não? Quer brigar também?
Tirço, colocando na boca o último pedaço do bolo e soltando a bolsa no chão, com toda a tranquilidade do mundo, respondeu: — Querê, eu num quero não, senhô... mas se o senhô insisti...
O homem, que era um alemão — de tão branco, com cabelo de fogo e todo engomado — ficou admirado com a resposta e partiu pra cima.
Dizem que ninguém entendeu o que aconteceu.
Num instante ele estava de pé, no seguinte estava no chão, desacordado.
Tirço dera um único soco. E o valente apagou.
Os outros dois, vendo o acontecido, olharam para o amigo caído e partiram também.
O primeiro que vinha virou o último.
Quando todos ainda se preparavam pra ver a briga... ela já tinha acabado.
O segundo foi jogado longe, pra trás do companheiro.
De novo, com um único soco.
O terceiro, ao ver os dois estirados no chão, saiu correndo, desesperado.
Desde esse dia, a festa anual do padroeiro da vila nunca mais teve confusão.
Dizem até que alguns moradores, além de comemorar o Dia do Padroeiro, também celebram o Dia do Negro Tirço.
E ali, passou a prevalecer aquele famoso jargão da TV:
"Mexe com quem tá quieto."
O Negro Tirço?
Passei por ele hoje, na estrada.
Estava com a bolsa pendurada no ombro — e era acompanhado por um cão.
Seu companheiro. O Tição.
Mas isso... é outra história.
domingo, 25 de agosto de 2013
# 176 - Luis Fernando Veríssimo
sábado, 24 de agosto de 2013
Comédias para Se Ler na Escola
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Um lobisomem no caminho
Um causo de família. Muito estranho, mas mamãe jura que é verdade.
Meu tetravô Oliveira — ou algo assim, porque nem ela lembra direito o nome — era um homem de coragem. Dizem que não tinha medo de nada. E essa história é quase assim mesmo… mas com o tempo, vai se esquecendo um pedacinho aqui, mudando outro ali.
Pois bem… ele sempre ia pra cidade aos sábados. Fazia compras, bebia com os amigos e só voltava quando a noite já estava alta.
Naquela noite, porém, a tal coragem seria posta à prova.
Tinha resolvido ficar um pouco mais com os amigos naquele sábado. Morava na Serrinha, uma região de sítios afastada da cidade de Guaxupé, em Minas Gerais, e sempre ia e voltava pra casa a cavalo.
A noite estava bem clara. No céu, uma lua cheia, redonda, parecia até pendurada lá no alto.
Faltava pouco pra chegar em casa. Apenas uma pequena distância — um tirinho de espingarda, como dizem os mineiros. Mais duas curvas na trilha e estaria na porteira de casa.
Vinha num trote lento, quando viu algo atravessar a estrada lá na frente, perto da penúltima curva. Parou o cavalo e ficou observando. Parecia um bicho. Corria de um lado a outro, entrando e saindo do mato.
Sacou a garrucha e foi se aproximando devagar.
Com a claridade do luar, o bicho também o viu e, de repente, parou. Voltou-se em sua direção e disparou feito louco!
Apesar do susto com o barulho e o movimento, o velho Oliveira não hesitou: atirou. Parecia ter acertado — ouviu um grunhido forte e viu o bicho desviar do caminho, sumindo na mata.
Carregou a garrucha com pressa e seguiu, ainda devagar.
Chegando perto do local, viu uma mancha escura no chão. Sangue, pensou. Olhou em volta, sem descer do cavalo, mas não viu mais nada. Achou tudo muito estranho, e seguiu caminho.
Depois de andar alguns metros, escutou um gemido atrás de si. Quando se virou, viu saindo do mato um homem, segurando o braço direito junto ao peito. Estava ferido.
O homem vinha se arrastando, devagar, e falou:
— É você, Oliveira?
— Sou eu mesmo… quem é você?
— Acabei de me mudar pro sítio ao lado. Fui atacado por um bicho, e você me salvou.
Oliveira, desconfiado, respondeu:
— Não tô sabendo de ninguém que mudou pra cá… que bicho foi esse que te atacou?
— Espere aí... vou te agradecer por ter me ajudado.
O homem continuava se aproximando, e Oliveira não pensou duas vezes. Virou-se na sela, esporou o cavalo e saiu em disparada, sem olhar pra trás.
Ainda teve tempo de ouvir o homem gritar:
— Ainda nos encontramos, Oliveira!
Chegou em casa branco e ofegante. Contou tudo pra família e, no dia seguinte, chamou os amigos e foram todos até o tal sítio, onde supostamente morava o novo vizinho.
Mas não encontraram ninguém.
O lugar estava vazio, só um forte cheiro de cachorro por todo lado... e alguns ossos de animal espalhados.
Depois daquele dia, o tal vizinho nunca mais foi visto.
E o bisa de mamãe? Nunca mais voltou sozinho da cidade à noite.
Dizem que aquele homem era um lobisomem, que andava matando bois pela redondeza, e fugiu com medo dos moradores que foram lhe tirar a prova.
E foi assim que botaram o bicho pra correr.
Se é verdade? Ah... vai que...
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
# 175 - Janis Joplin
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
terça-feira, 20 de agosto de 2013
O dedinho do Tavares
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Imagem da internet |
Quem trabalha com manutenção sabe bem: é preciso atenção
redobrada, senão, um pequeno descuido pode virar um grande problema. E mesmo
tomando todos os cuidados, acidentes acontecem.
Meu colega Tavares — nome fictício, claro — é um sujeito
cauteloso. Mas, segundo os mui amigos, teria se machucado lavando louça.
Eca! Maldade pura. Isso é pior que rogar praga! Mas acontece.
A verdade é que, numa atividade doméstica rotineira, Tavares
acabou quebrando o dedo mínimo da mão direita. Um acidente bobo, mas suficiente
para afastá-lo do trabalho por alguns dias.
Ao retornar, ainda em recuperação, fazia fisioterapia e
exercia atividades mais leves. O detalhe curioso é que andava com o dedo em
riste, todo ereto, sem conseguir dobrá-lo.
Tudo que fazia com a mão, lá estava o dedinho em pé. Um
charme — diziam os mesmos colegas debochados.
Mesmo com essa limitação, resolveu encarar mais um desafio
doméstico: fazer um pequeno reboco em um cômodo novo da casa.
O ambiente não era muito iluminado, mas havia uma janela
aberta, o que dava claridade suficiente. Apressado para não perder o horário do
almoço, acelerou o serviço e terminou a primeira parede. Nem olhou pra trás.
Foi direto se limpar e almoçar.
Na volta, satisfeito, foi ver o resultado do trabalho. Para
sua surpresa, a parede estava toda riscada, de leve, mas estava. Muito bravo,
resmungando, pegou a esponja, molhou a parede e refez tudo.
Na cabeça dele, alguém tinha passado por ali e estragado o
serviço. Quando a esposa foi levar um suco, ele reclamou:
— Deixei tudo pronto, e quando voltei, estava cheio de
riscos. Se não foi o menino, foi o cachorro.
Ela estranhou. O filho estava na escola e o cachorro preso.
Mas preferiu não discutir e voltou às tarefas.
Mais tarde, na hora do café da tarde, ele parou de novo para
comer um bolo delicioso que a esposa tinha feito.
Ao retornar... os riscos estavam lá novamente!
Agora não dava! Ele mal tinha saído! Muito irritado, voltou
a reclamar:
— Não posso sair um minuto! Alguém fez isso de novo!
Molhou a parede e começou mais uma vez a acertá-la.
A esposa apareceu pouco depois, com uma lanterna nas mãos:
— Querido, venha ver isso...
Iluminou a parede. E lá estavam os riscos... recém-feitos.
Ele olhou para as marcas, para suas ferramentas, sem entender. Foi quando ela,
com toda a paciência, mostrou o dedinho — sujo de massa.
A ficha caiu.
Era o próprio Tavares quem riscava a parede com o dedinho em
riste, sem perceber.
Ele caiu na gargalhada, abraçado com a esposa.
Quando contou essa façanha no trabalho, um colega não perdeu
a chance:
— Estica também o indicador, assim todo mundo vai pensar que
você é metaleiro. É nóis! Uhuuu!
Colegas de trabalho... nunca perdem uma piada.
https://www.facebook.com/LivrosAdemirdeFreitas
sábado, 17 de agosto de 2013
# 174 - Dale Carnegie
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
Questão de lógica
domingo, 11 de agosto de 2013
Só doido mesmo.
sábado, 10 de agosto de 2013
Churrasco à carioca
Domingão... dia de churrasco!
Aproveitei a carona de um amigo para fazer uma surpresa à
dona da festa, que — segundo ela — nem contava com a minha presença. Não que eu
tenha fama de dar bolo, claro. Quer dizer... só às vezes. Mas só quando
realmente não dá mesmo.
Nem preciso dizer que, assim que cheguei, virei alvo das
brincadeiras. Parecia que ninguém havia apostado na minha presença. Mas ali
estava eu, firme, no espaço de churrasco do condomínio da amiga, pronto para
saborear um legítimo churrasco carioca.
A anfitriã era uma carioca pra lá de divertida, que veio
trabalhar conosco aqui no Vale do Paraíba. Quando ela me convidou, confirmei na
hora.
— E o que eu levo? — perguntei, como de costume.
Por aqui, essa é regra: quem é convidado para o churrasco leva um tanto de
carne e, claro, um fardinho de cerveja. Ajuda o anfitrião.
Mas ela se espantou com a pergunta e foi logo dizendo:
— Que isso! Não precisa levar nada, não. Lá no Rio, quem
convida é que banca!
Opa! Nem discuti. Vai que eu estava ofendendo a cultura
local? Pelo jeito, ela era frequentadora assídua desses eventos cariocas.
Mas voltando ao churrasco...
Alguns colegas da empresa já tinham chegado, e estávamos
todos bem à vontade. Tudo prometia. Até que o pai de uma das colegas se animou:
— Deixa que eu cuido da churrasqueira! Adoro fazer isso.
Cadê o carvão?
— Carvão?
A anfitriã olhou surpresa.
— Esqueci...
Sem problema. Pegamos o carro e fomos comprar carvão. Na
volta, o pai da colega já estava animado, acendendo a churrasqueira, quando
veio a segunda pergunta:
— E a carne?
— Tá no apartamento, já vou pegar! — disse ela, sorrindo.
Minutos depois, ela reaparece com... um enorme salmão.
Isso mesmo: churrasco de salmão.
Começamos a rir. Muito. E lá fomos nós novamente ao
hipermercado buscar mais carnes.
Achávamos que agora ia. Mas não. Vem a terceira pergunta
fatal:
— Cadê o pãozinho?
Nem preciso dizer que voltamos de novo ao mercado.
No fim do dia, o que ficou foram as risadas.
Sempre que lembramos, repetimos: churrasco à carioca, segundo nossa
querida amiga, é assim — sem carvão, sem carne e sem pãozinho.
Mas com muita história pra contar.
Saudades dela.