Um causo de família. Muito estranho, mas mamãe jura que é verdade.
Meu tetravô Oliveira — ou algo assim, porque nem ela lembra direito o nome — era um homem de coragem. Dizem que não tinha medo de nada. E essa história é quase assim mesmo… mas com o tempo, vai se esquecendo um pedacinho aqui, mudando outro ali.
Pois bem… ele sempre ia pra cidade aos sábados. Fazia compras, bebia com os amigos e só voltava quando a noite já estava alta.
Naquela noite, porém, a tal coragem seria posta à prova.
Tinha resolvido ficar um pouco mais com os amigos naquele sábado. Morava na Serrinha, uma região de sítios afastada da cidade de Guaxupé, em Minas Gerais, e sempre ia e voltava pra casa a cavalo.
A noite estava bem clara. No céu, uma lua cheia, redonda, parecia até pendurada lá no alto.
Faltava pouco pra chegar em casa. Apenas uma pequena distância — um tirinho de espingarda, como dizem os mineiros. Mais duas curvas na trilha e estaria na porteira de casa.
Vinha num trote lento, quando viu algo atravessar a estrada lá na frente, perto da penúltima curva. Parou o cavalo e ficou observando. Parecia um bicho. Corria de um lado a outro, entrando e saindo do mato.
Sacou a garrucha e foi se aproximando devagar.
Com a claridade do luar, o bicho também o viu e, de repente, parou. Voltou-se em sua direção e disparou feito louco!
Apesar do susto com o barulho e o movimento, o velho Oliveira não hesitou: atirou. Parecia ter acertado — ouviu um grunhido forte e viu o bicho desviar do caminho, sumindo na mata.
Carregou a garrucha com pressa e seguiu, ainda devagar.
Chegando perto do local, viu uma mancha escura no chão. Sangue, pensou. Olhou em volta, sem descer do cavalo, mas não viu mais nada. Achou tudo muito estranho, e seguiu caminho.
Depois de andar alguns metros, escutou um gemido atrás de si. Quando se virou, viu saindo do mato um homem, segurando o braço direito junto ao peito. Estava ferido.
O homem vinha se arrastando, devagar, e falou:
— É você, Oliveira?
— Sou eu mesmo… quem é você?
— Acabei de me mudar pro sítio ao lado. Fui atacado por um bicho, e você me salvou.
Oliveira, desconfiado, respondeu:
— Não tô sabendo de ninguém que mudou pra cá… que bicho foi esse que te atacou?
— Espere aí... vou te agradecer por ter me ajudado.
O homem continuava se aproximando, e Oliveira não pensou duas vezes. Virou-se na sela, esporou o cavalo e saiu em disparada, sem olhar pra trás.
Ainda teve tempo de ouvir o homem gritar:
— Ainda nos encontramos, Oliveira!
Chegou em casa branco e ofegante. Contou tudo pra família e, no dia seguinte, chamou os amigos e foram todos até o tal sítio, onde supostamente morava o novo vizinho.
Mas não encontraram ninguém.
O lugar estava vazio, só um forte cheiro de cachorro por todo lado... e alguns ossos de animal espalhados.
Depois daquele dia, o tal vizinho nunca mais foi visto.
E o bisa de mamãe? Nunca mais voltou sozinho da cidade à noite.
Dizem que aquele homem era um lobisomem, que andava matando bois pela redondeza, e fugiu com medo dos moradores que foram lhe tirar a prova.
E foi assim que botaram o bicho pra correr.
Se é verdade? Ah... vai que...
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