quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Filho de peixe... Peixinho é.


Perdi meu pai aos quatro anos, apesar de ser tão pequeno acredito que puxei muitas coisas dele. Não que eu queira justificar algo, mas acho que ele era assim como eu... Digamos,... Um tanto atrapalhado.
Minha mãe me contou que, quando do nascimento do mano véio, ele estava decidido quanto ao nome do menino. Seria Josemar.
Não me lembro dela comentar, ter ocorrido qualquer discussão para a definição do nome. Parece que papai queria esse e pronto. Nem ela sabia o porquê. No nascimento de meu primeiro filho, nem tive chance de opinar. A mãe definiu o nome e pronto. Como eu gostei, ficou assim. Já no nascimento do segundo filho ou filhos, já que veio gêmeo, um casal, também não escolhi. Na verdade aconteceu um plebiscito de três votos: Mãe, Pai e Filho. Democracia parcial. Perdi.
Bem, mas voltando ao meu pai...
Ele saiu de casa decidido. Depois de garantir o retorno tranquilo de mamãe para o lar, foi ao cartório de Registros concretizar sua vontade. Daria a seu primeiro filhote, o nome de Josemar. Diz mamãe que ele já tratava o menino assim, pelo nome, desde que recebeu a notícia da gravidez.
Chegando ao pequeno cartório, havia três pessoas a sua frente, para ser atendidas. Em estado de felicidade plena, nem se importou e ficou ali trocando sorrisos com os outros pais, também na expectativa de pronunciarem pela primeira vez, oficialmente, o nome de seus filhos.
Chamaram o primeiro. O pai se aproximou do balcão de atendimento e quando perguntado do nome que daria ao filho, disse com convicção: - Carlos.
Os demais pais sorriram e até comentaram ser um bonito nome para um menino.
Agora era a vez do segundo pai. Chamado informou que sua criança era uma menina e então mandou registrar, falando bem claramente o nome: - Emília.
Os pais restantes, dentre ele o meu, trocaram olhares e balançaram a cabeça afirmativamente. Também era um lindo nome.
Restava apenas mais um pai a ser chamado e assim oficialmente meu pai diria o nome de seu filho com orgulho. Josemar estaria registrado.
O atendente chamou o terceiro pai. Como os outros, ele levantou-se, com o peito estufado, puxou as calças para cima, aproximou-se e disse:
- Meu filho vai se chamar... Josemar.
Ferrou...
Então chamaram papai.
Como ele era um homem muito simples, deve ter entrado em pânico e num branco total, com todo mundo olhando para ele, esperando o nome do menino. Ele deve ter ficado muito sem graça de repetir o nome do filho do antecessor.
- Qual o nome do seu filho, senhor?
- Meu filho?... Hã... O nome dele?
- Sim, meu senhor.
- É... Lauro.
E foi assim que ficou registrado mano véio.
Tento hoje imaginar outra cena. Papai chegando pensativo, entrando em casa, dando de cara com toda a família e minha mãe, todos rodeando o pequeno Josemar, que naquela altura, era Lauro. Como explicar a situação. 
Complicado, mas não parou por ai.
A história quase se repetiu com o segundo filho, eu. 
Meu nome também estava definido muito antes do nascimento. Seria Eudemir. Mas graças a uma homenagem ao "Divino", jogador de futebol da famosa academia palmeirense, na hora do registro ele optou por Ademir. 
Nem minha mãe sabe o que aconteceu, mas hoje, eu imagino a mesma cena, ele parado a porta, coçando a cabeça, todos o olhando já desconfiados que algo não aconteceu como o planejado e, ele procurando explicar porque que trocara o nome do filho, novamente.
Somos predestinados.


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