Há
muita gente divertida neste mundo doido.
Sabe aquele cara muito louco, de bem com
a vida, que vive fazendo graça e nos divertindo? Esse era o primo João.
Resolvi
passar um fim de semana com ele e sua família. Há muito vinha planejando, mas
por força do trabalho terminava adiando.
Como
sempre sua recepção parecia uma festa. Ele tinha um prazer enorme de nos
receber, tanto que sempre tinha alguém em sua casa. Com um sorriso largo e
sincero, abriu o portão e falando alto, com satisfação me cumprimentou, quase
quebrando meus ossos num forte abraço.
Depois
de muita conversa e um almoço inesquecível, ficamos na varanda relembrando o
passado, os entes queridos que já partiram dessa vida e as peripécias
aprontadas na juventude.
Assunto
vai, assunto vem, começamos a falar de filmes. Tanto eu, como o primo João,
somos dois fanáticos por filmes e então começamos a trocar nomes e gostos por
filmes.
Estávamos
em plena conversa profunda, fundamentada, dizendo:
-
Lembra-se desse, daquele um, que fazia aquilo...?
-
Muito bom.... Mas tinha outro filme, que tinha uma coisa e que acabava assim.
Entendíamo-nos
muito bem...
Então
o primo João, levantou-se e disse:
-
Tenho um novo, com fulano de tal, que dizem ser muito bom. Vamos ver?
A
noite já vinha chegando e como não íamos sair, a sugestão era boa.
O
primo entendia das coisas. Preparou um tira gosto, pegou umas cervejas e
colocou o filme.
No
início estava meio parado, mas foi encorpando e ficou muito bom.
Percebia
que o primo se mexia constantemente na poltrona. A cada cena saia da posição
que estava e mexia com alguma parte do corpo. Eram pés nervosos balançando,
cruza e descruza os braços.
O
filme entrava quase no final. Sabe aquela parte que o mocinho se ferra pacas,
que quase quebrado, levanta-se e reage?
Chegamos
nessa parte...
O
herói do filme chegou num galpão para resgatar a donzela e começou a bater em
todos e quebrar tudo. De repente o primo João, saltou-se da poltrona e começou
a interagir com o filme, dando socos e pontapés no ar. Gritava umas palavras
incompreensíveis e se movimentava pela sala.
Eu,
que já com o seu primeiro salto da poltrona, me engasgara com a batatinha e
tossia feito um doido. Arregalei os olhos e me encolhi todo no sofá, muito
assustado. Nem sei onde foi parar a latinha de cerveja que bebia.
Acabando
a cena final, com a vitória do herói, o primo já suado de tanto golpes nos
adversários imaginários, virou-se sorridente para mim dizendo:
-
Primo, que filme bom. Adoro filme de ação.
Eu
ainda assustado concordei balançando a cabeça.
Todo
animado ainda, ele retirou o DVD guardando-o e virou-se para mim.
-
Vamos jantar agora, depois nós veremos um filme de terror que dizem ser ótimo
também.
Fala
sério...
Depois
de uma exibição dessas com um filme de ação, acham que eu ainda assistiria a um
filme de terror com o primo?
Foi
muita adrenalina para um dia, falei que estava com sono e me mandei para o meu
quarto.
Já
vi gente empolgada com filmes, mas como o primo João...
Não
existe.
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