quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A máquina do tempo


Quem nunca sonhou em voltar ou avançar no tempo?


Parecia uma cadeira de rodas, mas no lugar das rodas tinha dois relógios. Um que representava o passado e só rodava para trás e o outro, era do futuro e só se movia para frente do tempo atual. Não tive dúvidas, sentei-me e comecei a pensar o que faria.

A primeira coisa que me lembrei naquele momento, foi da foto dos meus filhotes sobre minha mesa de trabalho. Os gêmeos abraçados. Ela, com lindos cachinhos sobre os ombros e ele com um baldinho azul na cabeça. Lembro-me que estavam olhando fixamente para mim enquanto tirava a fotografia.

Isso! Mataria aquela saudade, voltaria para ver aquela cena novamente.
Não...  Acho que não. Só veria os dois. A caçula não tinha nascido e o mais velho não estava em casa. Ia ficar faltando algo.

Poderia também causar algum problema com o futuro. Tem aquela máxima de dois corpos não ocuparem o mesmo espaço e como foi eu quem tirou a foto... Melhor achar outra data ou momento.

Fiquei com a mão preparada no relógio do passado, pensando.... Minhas avós:  Zéquinha e Conceição. Poderia matar a saudade e a delícia de ficar em seus braços, acariciando seus cabelos brancos. Sim.... Não!

Meu pai. Veio-me na memória imediatamente. Isso.
Meu coração acelerou em pensar na possibilidade de ver meu pai novamente.

Eu o perdi aos quatro anos de idade e tenho quase nenhuma lembrança dele. Poderia vê-lo, receber seu sorriso e tocar seu rosto. Passar minha mão sobre sua cabeça e deixar meus dedos deslizar entre seus cabelos. Contornar cada detalhe de seu rosto e abraçá-lo fortemente. Olhar em seus olhos e dizer: Te amo, Pai. Quanta falta me fez.
Então parei e comecei a afastar lentamente a mão da roda do relógio do passado. Não sei se resistiria a esse encontro.
Só de pensar já me sinto abalado e ele nunca entenderia um homem bem mais velho, abraçando e chamando-o de pai. Ele teria vinte e cinco anos, foi quando o perdi. Talvez nem me deixasse chegar perto de tão assustado com meu comportamento. Não vai dar certo.

Então decidi e achei melhor deixar o passado para trás, para não deixar as pessoas assustadas ou confusas.



Voltei meus olhos para a outra roda, a do futuro.

Coloquei minha mão sobre ela e pensei.... Para onde iria?

Ver meus filhotes com meus netos ou quem sabe meus bisnetos?

Quem sabe veria mais um título do meu time, o Ramalhão, ou as modernidades futurísticas. Conseguiria ver um carro voando?

Na verdade, isso eu já imaginava como seria esse carro quando criança, enquanto muitos falavam da virada do século. Diziam que no ano 2000 o mundo se transformaria. Cheguei até contar por diversas vezes, com quantos anos estaria quando chegasse esse momento mágico. Ficava ansioso só de imaginar as maravilhas que aconteceriam. Nem preciso dizer o quanto me frustrei...

O futuro...
Acho melhor não.

Posso chegar lá e não ver muitos entes queridos. Poderia me surpreender tristemente ao ver que alguns dos meus entes queridos teriam partido muito cedo ou de forma ruim. Minha cabeça já começou a rodar a mil e pensei nos meus filhotes novamente. Meus olhos encherem-se de lágrimas e a garganta travou.

Lembro-me de uma frase sábia de mamãe: "Um filho nunca deveria partir desse mundo antes de uma mãe. A dor da perda de um filho é insuportável". Elas sempre sabem o que falam, mesmo quando não entendemos.

Respirei fundo, olhei para os relógios do passado e do futuro e levantei-me. Fui me afastando daquela cadeira, até que meus olhos não mais a viram.

É melhor deixar tudo como está e deixar que Ele me guie.

O destino a Deus pertence.

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