Encantei-me com algumas dessas pessoas como o colega da rodoviária, o colega da Janis e outros. Dessa vez foi o Zé. é claro que seu nome não é este, mas vou chamá-lo assim.
Eu já o havia percebido de outras voltas da Faculdade, mas nunca me aproximei. Ele estava vestido esportivamente e sempre alguém estava com ele auxiliando a locomover-se pelas rodoviárias.
Como eu, Zé também pega um ônibus toda segunda-feira na rodoviária de São José dos Campos e vai até a rodoviária de Caçapava, dali, enquanto eu sigo para o meu bairro, ele ainda vai até outra cidade, Taubaté.
Nesta última segunda ele desceu em Caçapava e ficou encostado num canto, esperando alguém, imaginei eu. Foi chegando e saindo ônibus, então percebi de repente que restavamos apenas eu e ele no silêncio da rodoviária.
Teria ele perdido o ônibus? Até então, eu não sabia qual seria seu rumo e resolvi me aproximar.
Puxei conversa e me dispus a aguardar até que chegasse o ônibus. O meu ou o dele, afinal o próximo seria o último ônibus para meu bairro e não daria para perdê-lo. Dormir nesta rodoviária, nem pensar.
Fiquei sabendo que Zé era um atleta ou paratleta, pois era deficiente visual.
Falou-me de sua vida de atleta. Treinava três vezes por semana em São José dos Campos, tomando quatro ônibus para ir e mais quatro para voltar. tendo para isso uma ajuda de custo de R$ 400,00. Ganhava cem a mais até um tempo atrás, em Taubaté, mas dispensaram esse custo e o colega ganhou esses transtornos, viagem mais longa e ganho menor.
Zé é boa praça. Divertido e feliz, adora falar de suas aventuras como paratleta, mas quando questionei o tipo de tratamento que é dispensado a pessoa com deficiência, a coisa ficou séria. E com razão.
Gastamos milhões com uma Copa do Mundo e nem nos esforçamos em vencer a Copa da dignidade. Se gasta milhões com campanhas políticas e damos R$ 400,00 para um representante que poderá até chegar as Paralimpíadas. Representante que poderá mostrar ao mundo o maior exemplo de superação, esforço e humildade. Só assim então poderá ser bajulado por emissoras, entrevistados por jornalistas e comentaristas de "renome".
Neste momento todos falam em orgulho nacional, mas se esquecem da vergonha nacional das condições de preparação oferecida a esses incríveis paratletas.
Como meu amigo Zé, sei que muitos outros estão ralando com o sonho de chegar em 2016 e estar entre os relacionados para competir. Sei também o quanto familiares e amigos se esforçaram e esforçarão para ajudá-los a chegarem lá.
O que mais me deixa triste, é saber que políticos e governos, entre outros, não estão dando a mínima atenção para eles agora, para ajudar a prepará-los, mas sei que estarão presentes, abraçados a esses mesmos atletas, sorrindo para as fotos, quando de suas conquistas.
O meu amigo Zé, alertou-me sobre tudo isso e devo confessar que ele está coberto de razão. Tudo acontecerá assim...
E eu que achava que era ele quem não enxergava.
O meu amigo Zé, alertou-me sobre tudo isso e devo confessar que ele está coberto de razão. Tudo acontecerá assim...
E eu que achava que era ele quem não enxergava.
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