terça-feira, 31 de dezembro de 2013
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Tentando entender
senão, parar por um segundo
e escutar a vida.
Não buscar entender,
a razão por que o rio nasce, desce,
se jogando no mar para morrer.
Talvez, meditar sobre a elevação das estrelas...
domingo, 29 de dezembro de 2013
# 206 - Leon Uris
sábado, 28 de dezembro de 2013
Uma dupra de dois.
Tião e eu
éramos uma "dupra" de dois, da melhor qualidade. Dava gosto de ver,
sô.
Quando a gente se juntava com o povo, lá na chácara do Vitô
— que ficava pertim da chácara de mamãe — era só alegria. Proseava, ria e
tomava todas até altas horas. Mas, naquele dia, acho que abusamo de verdade.
Chegamo na chácara já era noitinha, com os grilo berrando
pra valer. Tião, que era bom pra xuxu nessas coisa de carne na brasa, foi logo
acendê a churrasqueira, pra mode a gente assá uns troço nela.
Eu, como de costume, abri uma cerveja e peguei logo o
violão. Dei uma afinadinha aqui, um acerto ali... E pronto: começou a cantoria.
Quando a gente se ajuntava, não tinha jeito, logo saía um
Raul. É ele mesmo, Raul Maluco, doido varrido, Seixas... O cara. Cantava Medo
da Chuva, que era a preferida do Tião, Metamorfose Ambulante, Maluco
Beleza e muitas mais. A gente ia cantando meio atrapalhado às vezes, mas
era de coração. As mulher servia a carne saborosa que Tião preparava, e mal eu
acabava uma latinha, outra já brotava na minha mão. Cada canção era um gole
daquele que esvazia a lata. Ô trem bão!
Fomos indo noite adentro nessa lida. Às vezes até arriscava
uma sertaneja, embora eu não gostasse muito não. Já tínhamo comido e bebido de
montão, e as mulher, junto com a criançada, já tinham se recolhido, quando
Tião, sentado na mureta, começou a balançar.
Se eu não piso no pé dele, o homi tinha caído de costa. Ele
tava tombando, quando pisei no pé dele e ele veio pra frente de novo. Mas
bastou eu me distrair pra beliscar mais uma carninha... pronto. Capotô. Caiu
feito um saco de batata.
Larguei o violão, dei a volta na varanda pra socorrer o homi
que só ria. Acho que nem percebeu que tinha caído. Ajudei ele a deitar na rede,
ali mesmo, na varanda, e o homi apagou na hora.
Como eu tava sem sono, resolvi ir até a lagoa que ficava em
frente à chácara. Tava um frio danado, então joguei um pano nas costa e fui lá.
Sentei na beira da lagoa e fiquei jogando pedrinha na água, pensando na vida. A
lua tava linda, mas como já era de madrugada, caiu uma nebrina fria. Aí resolvi
voltar.
Entrei na chácara com o pano agora cobrindo também a cabeça,
por causa do frio, quando vi Tião levantar da rede, me olhar assustado e
gritar:
— Pera aí, Zé Inocêncio! Já vô te ajudá!
Acho que o danado tava tão beldo, como se diz por aqui, que
pensou que eu era o tal do Zé Inocêncio da novela. Aquele do Fagundes, Renascer,
lembra?
O homi saiu da varanda cambaleando feito um doido, correndo
no quintal, vindo pra cima de mim e... TUMB! (Isso é o barulho do tombo,
viu?) Caiu feio no chão, feito jaca madura. Levantou um poeirão em volta dele,
parecia até desenho animado.
Corri pra socorrer Tião e gritei pro povo da casa. Todo
mundo acordou assustado e foi lá fora ver o que tinha acontecido. Quando
chegaram, eu tava agachado ao lado dele, tentando acordá o homi.
— Acorda, Tião! Cê tá bem?
Ele abriu os zóio e disse:
— Ô Zé Inocêncio... Ainda bem que te achei. Pensei que
tivesse visto o fantasma do cê...
Foi falar isso e apagou de vez.
O pessoal me ajudou a levar ele de volta pra rede, e foram
dormir de novo. Eu fiquei ali, vigiando, vai que ele acordasse outra vez e
resolvesse ir procurar esse tal de Inocêncio na lagoa...
Zé Inocêncio... Vai vendo.
A gente era simples assim... e muito feliz.
Sardade dessas farra, Tião.
Ah! Ainda tem aquela vez que ocê dançou Maico Jaquisso...
Mas essa eu conto outro dia... Hehehe!
Abraço procê.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
Uma surpresa no dia de Natal
Eu já estava
no ônibus, indo para casa, quando José subiu.
Era um dia especial. Acordei muito cedo para participar do
almoço de Natal com meus filhotes. Um dia feliz, daqueles raros, com todos eles
à minha volta.
Naquele momento, eu pegava o primeiro dos três ônibus que
faziam parte da longa jornada de volta. Estava a caminho da rodoviária de São
José dos Campos. A primeira etapa do percurso foi feita de carona, com meu
filhote mais velho me levando de moto até o centro da cidade. De lá, peguei
esse ônibus. Já sentado, levava entre as pernas a surrada mochila e, nas mãos,
o também bem vivido capacete (sabia da carona, então me preveni. Andar sem
capacete, jamais).
Já estava tranquilo, ajeitado, no banco ao lado do cobrador.
No meu MP3, o Rammstein soltava a voz com Mein Teil. Logo no primeiro
ponto depois de onde subi, o motorista parou. Foi quando ele entrou.
Era impossível não notar. Tatuagens até o pescoço, uma
mochila enorme nas costas — suja e maltratada — e, preso a ela, como quem se
agarra para não cair, um pequeno leão de pelúcia. Na hora, pensei no Léo, o
leãozinho do meu filho quando era pequeno. Mas isso é outra história...
Ele já havia passado por mim, quando voltou, olhou, sorriu e
disse:
— Janis Joplin!
Falava da estampa da minha camiseta. Toda preta, com a
imagem da Janis sorrindo e ajeitando os óculos azuis com a mão. Pediu licença,
largou a mochila no chão e sentou-se ao meu lado.
Parecia um andarilho. Usava um daqueles chapéus rasta com as
cores da Jamaica, prendendo um cabelo estilo Bob Marley. A barba grande e
maltratada lembrava o Raul. Uma figura, sem dúvida.
A mochila era gigantesca, cor caqui. Trouxe-a mais para
perto dos pés, ajeitou o pequeno leão e estendeu a mão:
— Sou José de... Só José mesmo.
Apertei sua mão — firme, por sinal — e me apresentei.
— Cara, eu sentei aqui por causa da sua camiseta. Eu adoro a
Janis. As pessoas esquecem muito rápido de tudo.
Tirei os fones, desliguei o MP3 e comentei:
— Verdade. Eu também curto muito ela.
José me parecia boa gente, apesar da aparência rústica e do
cheiro forte de suor. Contou que estava indo para Ubatuba, onde vivia da venda
de pequenos artesanatos. Passou o Natal com amigos em Jacareí e agora voltava,
esperando boas vendas com a movimentação de fim de ano na praia.
Conversamos sobre música, sobre Janis, e descobrimos mais
uma afinidade: ambos gostávamos do John Lennon, o melhor dos rapazes de
Liverpool. Pobre Paul...
Depois de um tempo, José ficou em silêncio e baixou a
cabeça. Pensei que estivesse cochilando. Mas então, começou a estalar os dedos,
criando um ritmo, e começou a cantar:
— Oh Lord, won’t you buy me a Mercedes-Benz? My friends
all drive Porsches, I must make amends...
Um clássico da Janis. Todos no ônibus começaram a olhar em
nossa direção. Ele chamava atenção pelo tom firme e suave. Sabia realmente a
letra. Levantou devagar a cabeça, virou-se pra mim e disse:
— Pensa que eu não conheço a Janis? Vamos lá, cara, canta
comigo.
Fiquei sem saber o que fazer. Todos olhavam pra nós, e ele
insistia:
— Vamos, me acompanha!
Eu, ali, travado. E ele batendo palmas, repetindo o início
da música. Nunca me aconteceu algo assim.
Foi quando o cobrador, que estava logo atrás de mim, deu um
tapinha no meu ombro e incentivou:
— Canta!
Um rapaz de uns 25 anos, que também começou a estalar os
dedos. E então começamos um dueto. Eu, no começo bem tímido. Depois, mais
solto. E não é que o cara sabia mesmo a letra toda? Enquanto eu o acompanhava
como podia.
No fim, aplausos e até alguns assovios. Pode isso? Acho que
fiquei mais vermelho que um tomate — e olha que não sou tão tímido assim.
Foi tudo inusitado, natural e muito legal. Nunca me vi
cantando em público desse jeito, muito menos dentro de um ônibus. E ainda por
cima Janis! Quando penso que a vida já me aprontou de tudo, acontece uma
dessas. Incrível o que o Natal nos faz.
Foi massa. Só faltou o mais importante: registrar aquele
momento com uma foto. Mas eu sempre deixo escapar essas cenas, talvez por não
gostar muito de tirar fotos.
Obrigado, José. Que Deus lhe permita viver muitas outras
experiências e curtir a vida como só quem conhece a estrada sabe fazer.
Um abraço. E até qualquer dia.
— Oh Lord, won’t you buy me a Mercedes-Benz...
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
# 205 - Grace Noll Crowell
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
O Natal, Noel e Sofia*
Depois de
alguns anos e de um sonho…
Ela se levantou bem a tempo, antes de todo mundo.
Saiu do quarto pé ante pé, em silêncio. Ainda estava de
pijama — um muito parecido com aquele que usava no Natal passado, que parecia
ter saído direto do sonho que tivera. Só não trazia mais o travesseirinho…
afinal, agora ela já estava crescidinha.
Pela janela da sala, viu que ainda estava escuro lá fora.
Desde aquele Natal em que tudo mudou, Sofia havia crescido
bastante. Agora, com quase cinco anos, achava que já sabia como tudo acontecia
nessa época do ano. Dessa vez, ela estava determinada: conseguiria vê-lo.
Passou devagarinho pela porta do corredor e a encostou com
cuidado. Não queria acordar ninguém. Não por nada… mas, entre nós, acho que ela
é meio atrapalhada. Puxou a quem? A mim, claro — seu pai.
Lembro bem de quando ela era menor, uns dois anos atrás, e
tentou fazer exatamente o que fazia agora. Naquela época, não entendia direito
o que era o Natal. Também saiu sorrateira do quarto, atravessou o corredor rumo
à sala, mas ao fechar a porta acabou prendendo o rabinho do cachorro. Um
escândalo. Ela nem percebeu que o bichinho a seguia de pertinho. Coitadinho,
chorou tanto que acabou acordando todo mundo. Felizmente, nada sério aconteceu.
Ah, mas no ano passado... foi uma aventura.
Foi sua primeira tentativa séria de ver o Noel de perto.
Chegou até a sala e ficou sentadinha ao lado do sofá, ajeitada sobre uma
almofada, em silêncio, esperando. Estava decidida a não deixar o bom velhinho
escapar. Só que a demora bateu forte — e com ela, a sede. Foi até a cozinha
buscar um copo d'água, mesmo sabendo que nem eu, nem sua mãe gostávamos que ela
fizesse isso sozinha à noite. Hoje ela entende que tínhamos razão: podia se
machucar.
Quando levou o copo à boca, ouviu um barulho vindo da sala.
Largou tudo e correu. Mas, no caminho, pisou justamente no ursinho que alguém —
ou alguma coisa — deixara no chão. Tropeçou, caiu de costas, puxou a toalha da
mesa e derrubou toda a água. O ursinho não estava ali antes. Quem o pôs ali?
Cheguei a tempo de ajudá-la. Nem sei como cheguei tão
rápido, mas fui preciso. No fim, mais um Natal salvo, sem nenhum machucado.
E agora, ali estávamos nós de novo. Olhei para o relógio
cuco na parede: quase meia-noite. Ela também olhou. Sabia que ele estava para
chegar.
Abraçou o mesmo ursinho do acidente anterior, soltou-se dos
meus braços e se ajeitou encostando a cabecinha no braço do sofá. Silenciosa,
olhos fixos na árvore. Não olhava nem para mim, nem para sua mãe. Só para a
árvore.
Ficou assim por alguns minutos... e, aos poucos, o sono
venceu.
Adormeceu.
Mais tarde, foi minha voz que a acordou. Falei baixinho, com
cuidado.
Ela abriu os olhos, sorriu e, como se de repente lembrasse
de algo, olhou rápido ao redor da sala e para a árvore de Natal.
— Esperando por ele de novo, filhinha...
Ela não respondeu. Soltou-se das minhas mãos e correu até a
árvore.
Lá estava seu presente. De novo, com um lacinho rosa.
Ela dormira e sonhara. Não me viu chegar, nem me viu beijar
sua testa e colocar seu presente bem no centro da árvore, junto aos outros.
Ficou parada por alguns instantes, só olhando. Depois, pegou
o presente com cuidado e deitou-se debaixo da árvore. Como todos os anos, logo
eu e sua mãe nos juntamos a ela. Ficamos ali, por longos minutos, só observando
o pisca-pisca colorido fazendo sua mágica.
— Pai... ele existe mesmo? O Papai Noel?
— Sim, filhinha. E por mais que você cresça, ele sempre
estará aqui, neste dia.
— Mas eu dormi e não vi.
— Eu sei, querida... mas tenho certeza de que ele a viu. E
beijou seu rostinho. No ano que vem você tenta de novo.
— É... Feliz Natal, papai. Feliz Natal, mamãe.
— Feliz Natal, meu amorzinho.
*Conto premiado no Projeto Aparere “Coletânea de Natal”, da editora Perse em 2020
terça-feira, 24 de dezembro de 2013
Uma noite de Natal - Parte III
Era um homem
alto, de pele negra, com uma mochila nas costas e uma bolsa na mão. Por mais
amistoso que Leon tenha sido, ele apenas acenou com a cabeça em cumprimento,
sem trocar palavras.
— Seja bem-vindo, estamos organizando uma ceia de Natal —
disse Leon, com um sorriso acolhedor.
O homem, sério e desconfiado, segurava firme sua mala e
caminhava até nós, observando cada um com um olhar atento.
— Só vim trazer o que me pediram — disse ele, abrindo a mala
e retirando de dentro uma garrafa de champanhe. — Mas só darei uma.
Ele entregou a garrafa para Leon, que a pegou e mostrou para
todos, dizendo com um brilho nos olhos:
— Já temos como brindar!
Enquanto todos se ajeitavam, me aproximei do homem e
perguntei seu nome.
Ele me observou de cima a baixo, esticou a mão em minha
direção e respondeu:
— Sou Baltazar.
— Desculpe, Baltazar, mas quem lhe pediu para trazer esta
garrafa?
— Na verdade, não sei. Ganhei de um comerciante, quando o
ajudei a descarregar umas mercadorias. Quando acordei hoje, encontrei um
bilhete de um amigo dizendo para trazer a garrafa neste horário.
— E seu amigo, onde está?
— Não sei. Pensei que o encontraria aqui.
Ele mudou de assunto e perguntou quem eram aquelas pessoas.
Depois de apresentá-las, começamos a conversar sobre aquele dia e o que o havia
levado a andar pelas estradas.
Já era quase meia-noite quando Leon nos chamou para a mesa.
A cena era inacreditável. Nunca vi uma mesa tão bonita. Tinha até velas... e...
um peru? De onde surgiu? E parecia estar quentinho. Todos nós, surpresos,
ficamos boquiabertos.
Leon pediu a palavra, agradecendo a presença de todos:
— Amigos, obrigado por estarem aqui e por colaborarem com a
nossa ceia. Agora, que já está dando meia-noite, podemos cantar os parabéns
para o grande aniversariante da noite, o motivo de estarmos reunidos. Depois,
vamos para casa, onde aqueles que nos amam nos aguardam.
Ele caminhou até Airam e pediu permissão para pegar seu
bebê. Bebê? Meu Deus, era um bebê de verdade! Olhei para Leon, e ele sorriu,
como se nada fosse estranho.
Com o bebê nos braços, Leon se aproximou de todos,
mostrando-o com orgulho. Ele puxou a música, e todos o seguiram.
— Feliz Natal a todos vocês, meus amigos! Vamos comer.
Enquanto todos começavam a se servir, tentei me aproximar de
Leon, que entregava o bebê a sua mãe, dizendo:
— Tome seu filho, Maria, e volte para casa. Todos te amam e
te esperam...
Foi quando tudo começou a fazer sentido. Maria, Airam...
Airam era Maria ao contrário. E Leon... Leon era Noel? O Natal estava ali,
diante de mim, e eu não entendia mais nada.
Olhei novamente para o bebê, que agora parecia inerte, um
simples boneco nas mãos de Maria, que sorria feliz:
— Vamos para casa, meu filho.
De repente, olhei para onde Leon ou Noel havia ido e... não
havia mais ninguém. Tudo estava vazio. Maria também desaparecera.
Confuso, abri os olhos. Tudo não passava de um sonho. Eu
ainda estava deitado, coberto por uma manta velha, no banco da rodoviária. Mas
aquele sabor de champanhe ainda estava em minha boca.
Não era dia de Natal, era véspera. A ideia de voltar para
casa, para ver meus filhos, me invadiu com uma vontade imensa. Mas não tinha
dinheiro...
De repente, lembrei-me de colocar a mão no bolso e encontrei
não apenas dinheiro suficiente para o transporte, mas também um pedaço de
papel. Com as mãos trêmulas, abri o papel e li:
"Confia."
Corri ao banheiro, me limpei o melhor que pude, comprei a
passagem e entrei no ônibus, ainda um pouco sem jeito com as roupas amassadas.
Quando o ônibus começou a sair da rodoviária, olhei pela janela e, lá estava
ele.
Leon... Agora com barba branca e um tanto mais gordinho,
acenava para mim e, ao longe, pude ouvi-lo gritar:
— Sejas feliz, confie sempre e um Feliz Natal!
O ônibus se afastava, mas consegui escutar ainda sua
gargalhada ecoando ao vento.
— Ho, ho, ho...
Feliz Natal a todos.
CONFIA.
Parte II: http://soufreitas.blogspot.com.br/2013/11/uma-noite-de-natal-parte-ii.html
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
# 204 - Charles Dickens
domingo, 22 de dezembro de 2013
Acha pouco? Então lá vai mais uma.
Obrigado aos
amigos, conhecidos e desconhecidos que curtiram, comentaram e encaminharam o
texto "Não sei quanto a você... Mas eu, acredito". Porém, um
crédulo como eu sempre tem uma pequena história a compartilhar...
Chegava novamente o Natal.
Aquele ano passou voando, muito mais rápido do que minhas frágeis pernas
poderiam acompanhar. E lá estava eu, incrédulo, depois de mais um ano difícil.
Apesar de ter provas suficientes de que não precisava me preocupar, não
conseguia evitar. Culpava tudo e todos por mais um Natal difícil,
financeiramente.
Hoje, vejo minhas lamúrias daquela época com certo humor, mas, naqueles dias,
cheguei a chorar. Já tinha visto aquele filme antes e sabia qual seria o final,
mas relutava em acreditar que as coisas iriam dar certo novamente. Para mim, o
que aconteceu no passado foi apenas sorte. Segundo meu superior no trabalho: “A
sorte ilude e credibiliza aquele que ignora a realidade, mas nem sempre nos
favorece.” Profundo, né?
Bem, lá estava eu novamente, me remoendo sobre como pagar os funcionários, as
contas, e tentar fazer o Natal ser minimamente decente.
Choramingava pelos cantos, sempre escondido da família. Com alguns funcionários
mais próximos, até me abri um pouco em busca de sugestões, mas não consegui
nenhuma solução.
Arrumei uma boa grana emprestada, o suficiente para garantir o pagamento dos
direitos de todos os funcionários no final do ano. Mas ainda assim, as contas
estavam por minha conta, e não tinha um centavo sequer para comemorar o Natal
com minha família. Preciso registrar aqui o quanto fui grato pela equipe
maravilhosa com que trabalhei naquela época. Peço desculpas se, nos momentos
difíceis, não pude fazer mais por eles. Muito obrigado, de coração, mas...
Neste ano, trabalharíamos até o dia 24, véspera de Natal, até meio-dia, para
atender alguns clientes especiais. No dia 22, o desânimo já me abatia, mas meu
pessoal seguia firme. Eu, despreparado para administrar na época, achava que
isso se devia ao fato de que o deles já estava garantido. Lamento por mais essa
falha.
Na noite do dia 22 para 23, não consegui dormir. Pensava em várias desculpas
para justificar o atraso do aluguel ao proprietário do imóvel, mas não
encontrei nenhuma. Resolvi então falar a verdade e pagar o que fosse justo,
quando conseguisse o dinheiro.
Enquanto meu pessoal, já em clima de Natal, se preparava para sair e atender os
clientes, eu chegava à empresa com aquele "bom dia" de baixo astral.
Na minha mesa, um pequeno bilhete dizia: “Ligar para tal pessoa.”
Era uma síndica de um condomínio do governo, um famoso CDHU. Queria uma visita.
Já tinha estado naquele condomínio umas sete ou oito vezes, e sempre era a
mesma confusão. Queriam um sistema de interfones, mas ninguém decidia nada,
então pensei em não ir. Já estava amassando o papel para jogá-lo no lixo,
quando algo me fez lembrar de um Natal distante, quando passei por algo
semelhante.
Peguei o bilhete de volta do lixo e fui até o local.
Ao chegar lá, tudo estava como das outras vezes. Uma bagunça de moradores,
todos discutindo sem chegar a nenhum acordo. Já estava fechando minha pasta e
dizendo que retornaria no próximo ano, quando a síndica pediu para eu esperar.
Ela saiu da sala da reunião, foi ao seu quarto e voltou com um saco de mercado
na mão.
Calmamente, mas frustrado pelo tempo perdido, sentei-me novamente no sofá,
enquanto os moradores continuavam a discussão sem fim.
Ela pediu a palavra e disse:
“Sr. Freitas, teremos que deixar isso para o próximo ano,
até decidirmos o que fazer. Mas eu e os moradores queremos deixar tudo pago
para que, quando decidirmos, o senhor possa instalar o sistema rapidamente.”
Pago? De novo estava acontecendo... Ela me passou o saco, pedindo desculpas
pelo incômodo e pela bagunça da reunião.
Quando abri o saco, encontrei todo o valor da compra e instalação do sistema,
em notas trocadas. Ela provavelmente tinha arrecadado o dinheiro durante todo
aquele tempo, meses que eu achava perdidos e sem futuro.
Nem preciso dizer o tamanho do sorriso no meu rosto. Ah, como Ele consegue me
atender, mesmo sendo eu, assim... Tão incrédulo.
Fiz o recibo e corri para a empresa. Meu pessoal ainda estava na rua, então
decidi esperá-los, apesar da ansiedade, para comemorarmos juntos no final do
dia. Só então fui pagar o aluguel. Mandei todos para casa. Encerrava ali o ano
de trabalho deles, e no dia 24, atendi sozinho os clientes que nos procuraram.
Acho que foi o dia mais feliz do ano. A cada cliente que passei, além de alguns
presentes que ganhei, fui parabenizado pelo bom ano de trabalho da minha equipe
e até recebi alguns abraços sinceros.
Ah, meu bom Deus... Obrigado por mais essa oportunidade. Sua paciência e amor
não têm limites.
Nunca mais tive um Natal com aqueles sentimentos negativos, e todos os anos
comemoro com um bolo, o aniversário mais importante de minha vida. Nada de
exageros, apenas uma comemoração simples, com, é claro, os parabéns. Tudo
sempre dá certo no final.
Incrível como Ele me supre.
Obrigado, Abba!
*Pai.
O tempo está do meu lado
Sou um pouco
lento para entender o que a minha intuição sussurra aos meus ouvidos.
Basta eu estar pra baixo, um pouco desanimado, e ela começa
a me enviar mensagens…
Certa vez, chegando na casa de um amigo, vi em sua estante
um DVD do Rolling Stones, de um show realizado em algum estádio pelo mundo no
final dos anos 70.
O show em si era incrível, mas o que realmente me chamou a
atenção foi uma música que eu não conhecia. Mick Jagger estava arrebentando em "Time
is on my Side". Infelizmente, o DVD era emprestado, e não pude
copiá-lo. Com o tempo, perdi a chance de encontrá-lo de novo. Uma pena.
Alguns anos depois, assisti a um filme com Denzel
Washington, "Possuídos". Em determinado momento, o vilão
aparece cantando exatamente a mesma música. Ele dizia que o mal era eterno, e
que o tempo estava ao seu lado. No final do filme, o mal leva vantagem sobre o
mocinho, Denzel. Parece mesmo que é eterno, não? O mal, infelizmente, é uma
constante e não tem prazo para acabar.
Voltando à música…
Alguns anos depois, estava em um momento difícil da minha
vida, angustiado com uma situação familiar. Sentia-me irritado e frustrado, com
o que, hoje, parecem ser apenas bobagens, mas que na época pareciam problemas
impossíveis de resolver. Decidi sair para espairecer. Fui a Santo André,
assistir ao jogo do meu time, o Ramalhão.
Quando cheguei ao terminal rodoviário do Tietê, lá estava
ele, Mick Jagger, esperando para cantar novamente. E, novamente, cantando "Time
is on my Side". Parece que ele estava esperando que eu ficasse parado
em frente à loja para começar. Parei e escutei, mesmo com as dezenas de pessoas
passando e esbarrando em mim.
A propósito… A diretoria do Santo André deveria me contratar
como amuleto, pois nas raras vezes que fui ao estádio assistir aos jogos do
time, ele nunca perdeu.
A primeira coisa que fiz quando voltei para casa, feliz com
a vitória do "Glorioso", foi baixar a música na internet e procurar
sua tradução.
A tradução não diz nada de especial, mas a música… Ah, a
música é demais.
Demorou um tempo, mas finalmente entendi a mensagem (sim,
sou um pouco devagar). Percebi que o tempo está ao meu lado, e que eu não
preciso me preocupar com nada.
Tudo serve, tudo me alimenta e me alegra. A questão é
experimentar. O tempo está aqui para isso. Ele existe para nos ensinar que
estamos aqui para vivê-lo e aproveitá-lo ao máximo, para experimentar tudo o
que a vida oferece.
Desculpe, mas acho que vou aumentar o volume…
Time, time, time… is on my side, yes it is.
sábado, 21 de dezembro de 2013
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
Esperança
se o que desejo, é real.
Se a imagem que busco tocar
realmente existe.
Não é somente ver...
É sentir, vestir, entrar.
Saberia se não mudasse a cada instante,
se deixasse de ser mutante,
fixar-se e ser verdadeiro.
Com certeza não sou o primeiro,
nem serei o último a tentar entender ,
o que pode existir.
Não basta fingir.
pensar que superei,
enganar-me, que não errei.
Como saber se o tempo
irá transformar tudo.
Não me iludo, não vai acontecer.
Continuarei a ver pela mesma fresta
de uma vida que passa
que nada mais resta.
Que nada mais pesa, é tudo perdido.
Os olhos me iludem, enganam
os ouvidos, só ouvem o que quer
A intuição está fria
e minha alma vazia.
A mente... Mente ao coração
afirmando que está tudo certo
mas, mais perto
está a desilusão.
Só me resta a esperança,
de que você existe.
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
Mais um dia na praia
Naquele
momento, a brisa tocava suavemente o corpo de Dani, enquanto o mar estava
distante. O sol começava a surgir, e ela já estava sentada, de frente para o
oceano.
Silenciosa, aguardava uma reação do instrumento que segurava
firme entre as mãos. Sua respiração estava controlada, o ar entrando e saindo
naturalmente, sem esforço algum.
Ajeitou-se na cadeira, sentindo a ansiedade desaparecer à
medida que se preparava para o que sabia que seria um dia incrível.
Ela olhou ao longe, fixando seu olhar na quebra das ondas.
De onde estava, podia sentir o gosto salgado do mar. Quando passava a língua
entre os lábios, o sabor agradável a convidava mais e mais a experimentá-lo. A
brisa trazia consigo o cheiro do mar. Não sabia exatamente o que era, mas sabia
que era bom.
Às vezes, fechava os olhos para se concentrar no som das
ondas e no borbulho das espumas. Pareciam frituras, estalando suavemente. O som
penetrante do "chuá" das ondas a envolvia, e, ainda com os olhos
fechados, sentia-se uma parte daquele cenário, como se estivesse em perfeita
harmonia com tudo.
Ah, como se extasiava com tudo aquilo!
Levantava a cabeça e acompanhava, com calma, o voo das aves
que cruzavam o céu. Quando viam as aves fazerem curvas perfeitas, inclinava a
cabeça, e ao vê-las mergulharem em busca de alimento, seu corpo se inclinava
levemente para frente. Repetia seus movimentos com uma delicadeza extrema, como
se fosse sua sombra, ainda que não saísse da cadeira.
Virou a cabeça lentamente na direção oposta, atraída por um
som familiar. Era um navio cruzando a paisagem.
Era muito comum que aparecessem naquela hora. Mesmo
distante, ela conseguia ouvir o som dos cascos do navio subindo e descendo
sobre as ondas, num ritmo perfeito. Às vezes, um apito suave, quase
imperceptível para qualquer um, mas ela o ouvia claramente.
Sorriu, sem mover os lábios.
Aquele som era doce, muito mais agradável do que a gritaria
dos meninos que começavam a chegar à praia. Eles traziam pranchas de isopor ou
bolas, e eram barulhentos demais. Seus olhares, curiosos e desconfortáveis,
sempre voltados para ela, anunciavam que era hora de ir embora.
Bastou um leve movimento na cadeira, com um pouco mais de
insistência, para que duas mãos tocassem seu ombro, e a voz mais doce do mundo
chegasse suavemente aos seus ouvidos:
— Já entendi, querida. Vamos embora.
Ela recolheu suas mãos, que descansavam sobre os apoios da
cadeira, e seu marido girou a cadeira de rodas, virando-a para longe do mar.
Mais uma vez, Dani agradeceu a Deus, por ter criado aquele
momento tão maravilhoso, que ela podia desfrutar.
Com um sorriso, encostou a cabeça nas mãos do marido,
reconhecendo o amor incondicional que compartilhavam.
Eles voltavam para casa, mas sabiam que, no dia seguinte,
tudo se repetiria.
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
# 202 - Chuck Berry
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
Eu x Banheiros
Não ia escrever sobre isso, acho um tanto... complicado. Mas lá vai...
Não me dou bem com banheiros de outros lugares, fora do meu domínio. Sempre acontece alguma coisa desagradável. Tinha prometido a mim mesmo não tocar no assunto, mas fui desafiado. As pessoas não acreditam que essas coisas acontecem comigo. Cada vez que fecho a porta desses pequenos espaços de quatro paredes, o risco é grande. Não me venham com probabilidades, é Murphy. Se existe uma possibilidade de algo dar errado, pode ter certeza de que estarei ali para vivenciar.
Tem um bar que frequento, onde tomo minhas cervejas com o Maninho. Toda vez que vou ao banheiro, me tornei uma vítima. Sempre que chega minha vez e eu fecho a porta, a luz se apaga. Imagina um cara apertado, tentando acertar o alvo no escuro. Sou salvo, na maioria das vezes, pelo som, quando acerto de primeira. Mas sempre que volto e pergunto aos colegas, quem usou o banheiro antes de mim diz que não teve problemas com a iluminação. Só eu mesmo. E sempre tem um engraçadinho dizendo que fui eu quem molhei o chão.
Alguém já viu vaso de flor dentro de um banheiro? Pois bem, eu tropecei em um e quase o quebrei, fazendo um barulhão. Corriam para bater na porta para ver se eu estava bem. O pior foi sair de lá com os pés sujos de terra preta. Como negar? E onde já se viu ter um vaso dentro de um banheiro?
Ficar trancado dentro de um banheiro já virou rotina. Uma vez, fiz de tudo e não consegui abrir a porta. Tive que berrar até que um funcionário da loja viesse me soltar. Mais um mico para minha coleção.
E aquelas malditas cordinhas de descarga? Já perdi a conta de quantas eu arrebentei. E não é por força exagerada, elas simplesmente me esperam para romper. É impressionante. Até uma dessas caixas de descarga suspensas eu já derrubei.
Ainda bem que só faço o número dois em casa, porque se não... ia dar merda!
Na faculdade, já entrei no banheiro errado, no feminino, duas vezes. Juro que olhei o homenzinho na porta antes de entrar. Ainda bem que nunca havia ninguém lá para me flagrar.
Mas a minha maior proeza aconteceu em uma casa especial. Não vou entregar o lugar, não insistam.
Assim que entrei, já muito apertado, percebi que o trinco não fechava. Pensei: como vou me aliviar com a porta aberta? Alguém poderia entrar. A primeira tentativa foi segurar a porta com um pé. Não deu certo, o vaso estava longe demais. Procurei algo para travá-la. Nada.
A necessidade apertava cada vez mais, e eu não tive escolha. Pensei em fazer rapidinho, de olho na porta. Se alguém tentasse entrar, eu parava e empurrava a porta. Não dava mais tempo. Lá fui eu.
Um olho no vaso, outro na porta.
Foi só começar e… tentaram entrar. Era a vovózinha da casa. Rapidamente, empurrei a porta e disse:
— Tem gente, vó!
— Gente? Sou eu, quero entrar! Tô apertada!
— Eu também, vó! Só um minuto!
Tentei largar a porta para terminar o serviço e ela empurrou, tentando entrar de novo.
— Vó, espera um pouco, já tô terminando.
— Sai logo, meu filho! Vou fazer nas calças!
— Eu já tô fazendo, vó!
— Vai logo, que eu não aguento mais, meu filho!
Sem chances. Parei por ali mesmo. A bexiga implorava para ser esvaziada e a vó berrava para entrar. Decidi tentar mais uma vez. E de novo, ela empurrou a porta tentando entrar.
— Só um minuto, vó, já tô terminando.
Tá certo, menti para a velhinha. Nem havia começado, mas estava por um triz. Ela tentou de novo. Não tinha jeito. Eu tinha que sair para deixá-la entrar. Seja o que Deus quiser. Me ajeitei e saí.
Para minha surpresa, não era só a vovó que estava ali do outro lado da porta. Tinha pelo menos três velhinhas. Ferrou.
Sai com a maior velocidade em direção à frente da casa, procurando algum lugar para me aliviar. A rua estava lotada de gente. Que desespero. Mal conseguia andar. Então vi um comércio na esquina da quadra. Com um esforço imenso, me apertando ao máximo, fui na direção do lugar.
Chegando lá, só perguntei pelo banheiro e corri para onde o balconista apontou. Enfim, iria me aliviar.
— Não acredito! A porta está trancada! Balconista, por favor, a chave! Rápido!
Ele demorou séculos para dar a volta no balcão e me entregar a chave. Todo tremendo e nervoso, ele não acertava a fechadura. Ele me socorreu mais uma vez. Entrei e bati a porta.
Cadê o interruptor da lâmpada? Deixa pra lá…
Aaaaaaaaaah… Enfim!
Eu saí mais corado e aliviado daquele bar. Voltei para a casa do colega.
Quando cheguei, todos me procuravam preocupados. Expliquei o que aconteceu e, aí, descobri que havia outro banheiro no mesmo corredor, bem próximo ao que eu tinha usado. O problema é que a vovó só usava aquele.
Ah! Saudades de lá de casa.
domingo, 15 de dezembro de 2013
Não precisa ter medo.
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
# 201 - Lobão
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Roubos e roubadas
Já vi
roubarem de tudo… Tem coisas que parecem inacreditáveis, mas sempre tem alguém
pronto para superar os limites e fazer "diferente". Roubar a lua,
como no filme Meu Malvado Favorito? Hoje, já não duvido que algo assim
possa acontecer.
Há muitos anos, soube de um roubo que me deixou de boca
aberta: o cérebro de Albert Einstein. Quem teria coragem de roubar o cérebro de
um gênio? Eu achava que o cérebro havia sido enterrado com o corpo de Einstein
e que jamais seria separado dele. Mas, com a desculpa de "analisar"
aquele cérebro incrível, o patologista que fez a autópsia acabou roubando-o e
levando para sua casa. Anos depois, os descendentes desse patologista tentaram
devolver o que restava do cérebro para a família de Einstein, que se recusou a
aceitá-lo. Pode isso?
Na Rússia, aconteceu algo ainda mais estranho. Um sujeito
tentou assaltar uma cabeleireira. Tentou, mas deu mal. Ela o dominou e o
manteve algemado por três dias, obrigando-o a satisfazê-la sexualmente.
Resultado: ambos foram presos. Ele, pela tentativa de roubo; ela, por estupro.
Vai vendo…
Arrastões em praias, bares, restaurantes, condomínios… Já
não é mais novidade. Quando menos se espera, acontece.
Eu me lembro de uma situação, faz muitos e muitos anos,
quando estava sentado na mureta da escola, namorando. Dois homens chegaram até
nós, um da minha idade e o outro bem mais velho.
— Não façam nada, é um assalto! Mê deem a grana!
— Calma, cara, só tenho uns trocados…
— Passe o relógio, vocês dois!
Eu estava com meu adiantamento no bolso. Tinha acabado de
receber, e minha namorada me ligou, marcando o encontro em frente à escola
dela. Não dava tempo de passar em casa, então fui direto. Mesmo assim, só puxei
uma nota do bolso. Uma nota de cinco. Não sei quanto ela valeria hoje, mas,
naquela época, era uma grana boa demais para entregar aos assaltantes. Mas, o
que fazer?
Eles pegaram a grana, nossos relógios e foram andando,
fazendo sinal de silêncio. Estava falando para minha namorada sobre o
adiantamento que eu tinha recebido, quando eles pararam a alguns metros de
distância. Apontaram para nós e começaram a voltar. Ficamos paralisados. O que
iriam fazer agora? Nem deu tempo de fugirmos.
Sem pensar, tirei o restante da grana e a joguei num buraco
no bloco onde estávamos sentados. Quando se aproximaram, o mais velho me
apontou o dedo e disse:
— Rapaz, fica de pé. Deixa eu ver uma coisa…
Eu pensei: "Ferrou. Tô morto…"
Ele me olhou dos pés à cabeça, pegou os relógios, a grana e,
para minha surpresa, me devolveu tudo.
— Desculpa, a gente só está roubando porque precisamos muito
disso. Desculpa.
Confesso que não entendi nada. Chamei-os quando já estavam
virando as costas e começando a andar para longe. Eles pararam, se olharam e
voltaram.
Minha namorada me perguntou baixinho, surpresa:
— Você está louco?
Eles chegaram mais perto, olharam para os lados,
desconfiados, e perguntaram:
— O que foi, cara? Já não te devolvi tudo? O que você quer?
— Caras, se vocês estão precisando, peguem a grana que me
devolveram. Não seria roubo, eu estou dando.
Eles olharam para mim, espantados, e o mais novo pegou o
dinheiro da minha mão. Começaram a se afastar, enquanto eu perguntava:
— Por que me devolveram tudo?
— Não sabíamos que você era assim…
Aceleraram o passo e desapareceram na esquina. Eu fiquei
ali, parado, tentando entender o que eles queriam dizer com aquilo. Nem todo
mundo é tão ruim assim. Às vezes, as situações são tão extremas que ultrapassam
nossa capacidade de reagir.
Espero que eles não tenham roubado mais. Mas, sendo sincero,
acho difícil acreditar que não o tenham feito.
E sobre o porquê de me devolverem a grana?
Ah, com certeza, vocês não me conhecem…
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
Não sei quanto a você... Mas eu, acredito no Natal.
Não sei
quanto a você... Mas eu acredito no Natal. Você talvez não acredite que, nessa
época, o Natal, muitas coisas acontecem... Eu creio.
Aquele ano foi muito difícil em razão dos pacotes econômicos
do governo e, com a chegada do Natal, parecia que piorava. Não sobrava dinheiro
para nada, por mais que economizasse.
Eu tinha uma microempresa, com sete funcionários, e não
podia deixar faltar minhas obrigações trabalhistas com eles. Contavam com o
pagamento em dia, o 13º salário para as festas de Natal e Fim de Ano. Eles
sabiam que eu estava tentando de tudo para não faltar com minha obrigação. Por
outro lado, eu também via o quanto se esforçavam para me ajudar. Todos
entendíamos que não teria como segurá-los no próximo ano, que eu teria que
dispensar alguns. Realmente estávamos muito mal financeiramente e, fatalmente,
iria encerrar a empresa.
Quando faltavam apenas alguns dias para o pagamento, surgiu
um bom serviço. Conseguimos realizá-lo e recebê-lo a tempo. Todos ficaram
felizes e consegui cumprir com minha obrigação, porém, não restou nada, nenhum
recurso para o meu Natal.
Apesar de ter ficado feliz por conseguir pagar todos os
funcionários, sabia que o meu Natal seria difícil, até mesmo para comprar um
bom presente para meu primeiro filho ou ainda, fazer uma ceia digna em casa.
Passar o Natal na casa de amigos? Nem pensar. Eu acho chato demais ir e não
levar nada. Pode até ser orgulho, mas isso estava fora de questão.
Cheguei em casa, contei como estava nossa situação e disse
que não sabia como iríamos fazer. Realmente seria um Natal muito triste.
Os dias foram passando e nada de aparecer um serviço que nos
ajudasse. Meus amigos funcionários perceberam meu desânimo e tristeza, mas não
tinham como me ajudar e assim foi até o dia 23 de dezembro, quando nos
despedimos. O ano de trabalho havia terminado. Foi uma despedida um pouco
triste, porém muito boa, e todos foram para casa.
Fechei a empresa e fui para casa sem saber o que fazer ou
como dar a notícia de que não havia conseguido nada.
A única coisa que ouvi quando contei foi... "Amanhã
será outro dia".
O amanhã chegou.
Tinha planejado não abrir a empresa naquele sábado, dia 24,
véspera de Natal, mas como não tinha o que fazer e estava desanimado, saí de
casa muito cedo e fui para lá. Pensei em aproveitar o dia para arrumar algumas
coisas e assim me ocupar.
Após uns quarenta minutos da minha chegada, o telefone
tocou.
Era o dono de um mercadinho interessado em uma central
telefônica. Normalmente, quando isso ocorria, eu fazia uma visita ao cliente e
gerava um orçamento. Depois de alguns dias, quando aprovado, recebia 40% do
valor (normalmente em cheque para alguns dias, o restante do valor pagava
parcelado), fazia o pedido do equipamento para o fabricante, que me entregava
em dez dias. Depois de tudo isso, eu instalava e recebia minha mão de obra.
Mesmo sabendo de todo esse longo procedimento, fechei a
empresa e fui encontrar o cliente. Pelo menos começaria o ano com algum
dinheiro para honrar mais alguns compromissos. Se fizesse a venda, é claro.
Quando cheguei ao mercadinho, o movimento estava muito
grande e confesso que fiquei mais angustiado ao ver os carrinhos cheios de
compras passando por mim. Logo, o proprietário veio me atender.
Expliquei como tudo funcionava e o que poderia oferecer.
Para meu espanto, ele falou que queria comprar e pagar à vista. Naquela época,
onde o dinheiro estava tão escasso em razão da economia do país, ninguém pagava
um valor razoavelmente alto dessa forma, principalmente na véspera do Natal.
Para melhorar as coisas, ele resolveu comprar o único modelo
que tinha na empresa a pronta entrega. Uma máquina parada em meu estoque, onde
ganharia 100% do negócio. É claro que fiquei feliz, apesar de saber que veria
esse dinheiro apenas no ano seguinte. Ainda assim, estava ótimo. Então veio a
frase esperada.
— Só tem um problema, estou meio enrolado nesses dias de
festas, se não for problema da forma que eu posso te pagar...
Eu sabia... Tudo estava indo bem demais para ser verdade.
Fiquei ali no seu escritório preenchendo o formulário de compra, enquanto ele
foi buscar o que imaginei ser o cheque.
O proprietário demorou uns vinte minutos para retornar,
então colocou um pacote enorme de notas trocadas e miúdas na minha frente,
dizendo:
— Sei que não é adequado, mas aqui é um mercadinho. Posso
pagá-lo com dinheiro trocado? Estou sem cheque nesse momento, se não for
incomodar...
Incomodar???
Peguei todo aquele dinheiro, coloquei na minha pasta de mão,
cumprimentei o proprietário pela ótima aquisição, me comprometi a instalar o
mais rápido possível e parti rapidamente para casa.
Quando cheguei em casa, por volta das 12 horas, chamei todos
para a sala e disse:
— Venham ver, Papai Noel entregou nosso presente mais cedo
esse ano.
Abri minha pasta e deixei cair todas aquelas notas miúdas
sobre a mesa da sala, para espanto de todos.
Passamos um excelente e farto Natal, sem bebedeiras ou
exageros como em anos anteriores. Aliás, nunca mais comemoramos assim,
erradamente. Agora, todo Natal, preparamos um bolo de nozes e comemoramos o
nascimento daquele que tudo nos proporciona.
Acredite, o Natal existe. Basta querer vivê-lo como deve
ser... Com muito respeito e alegria.
Ho, ho, ho.
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
# 200 - Greg Anderson
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
Maverick V8
Sempre sonhei
em ter um Maverick V8. Sair por aí dirigindo, sentindo o ronco do motor e o
vento no rosto. Era o carro dos meus sonhos.
E tudo começou de forma inesperada.
Eu estava andando com o Nando, meu melhor amigo desde o
primeiro ano da escola, quando paramos em frente a uma vitrine. E lá estava
ele: o Maverick V8 azul e branco.
Fiquei paralisado. Meus olhos grudaram naquela máquina como
se fossem imãs. O capô azul royal exibia duas faixas brancas que corriam do
para-brisa até o bico do carro. Nas laterais, outra faixa branca acompanhava o
contorno. Era exatamente como eu imaginava. Como se tivesse saído direto do meu
sonho para aquela vitrine.
Nando me chamava, tentando me tirar do transe, mas eu não
ouvia. Estava hipnotizado.
A partir daquele dia, passei a inventar desculpas para
cruzar com a loja diariamente. Só para vê-lo mais uma vez. E mais uma. E mais
uma. Comecei a guardar cada moedinha que podia. Minha missão era clara: aquele
carro seria meu.
A obsessão foi tanta que até sonhei com ele.
Naquele sonho, eu dirigia por uma estrada rumo ao litoral.
Os vidros abertos deixavam o vento acariciar meu rosto, enquanto no rádio
tocava minha música favorita do Elvis, Suspicious Minds.
Ao meu lado, estava a Marcinha. Usava óculos escuros e uma
blusa azul-clara com bolinhas brancas. Desde o dia em que recolhi os livros que
ela deixou cair no pátio da escola, meu coração era dela. E, naquele sonho,
ríamos de alguma coisa sem sentido enquanto o Maverick cortava a estrada.
O volante era leve como seda. Cada marcha que trocava
parecia alimentar o carro, dar-lhe força, como se o motor pulsasse junto com
meu coração. Era como se eu conhecesse cada pistão pelo nome. E os carros à
frente? Assim que viam a frente intimidadora do meu Maverick pelo retrovisor,
imediatamente abriam passagem. Eu sorria ao vê-los ficando para trás.
Acordei com aquele som ainda nos ouvidos. O ronco do motor,
a risada da Marcinha, a melodia do Elvis.
Trabalhei feito gente grande. Fiz serviços extras, alguns
pesados, tudo para acelerar a conquista do meu sonho. Nada me desanimava.
Nando, por outro lado, começou a se afastar. Dizia que eu só
falava daquele carro e que, ao chegar à loja, esquecia do mundo. Talvez ele
tivesse razão — eu realmente esquecia. Fechava os olhos e podia quase ouvir o
motor ligado, chamando por mim.
Mas um dia, ao chegar à vitrine, levei um choque: o carro
não estava lá. Apenas a placa amarela com os dizeres "Vende-se Maverick
V8" permanecia, como um aviso cruel. Entrei correndo na loja. Falei tão
rápido com o vendedor que ele nem entendeu. Tive que levá-lo até o local vazio,
apontar a placa e praticamente implorar por uma explicação.
Ele riu e explicou que o carro havia sido retirado apenas
para a limpeza do espaço, mas que voltaria no dia seguinte ou no outro.
Respirei aliviado, mas antes que eu saísse, ele colocou a
mão no meu ombro e disse:
— Meu rapaz, é melhor você arrumar logo esse dinheiro. Muita
gente já veio ver esse carro. É uma raridade. Não vai aparecer outro igual.
Aquelas palavras não saíam da minha cabeça. Talvez fosse só
papo de vendedor, mas funcionou. Em três dias, fui pedir ajuda ao meu pai para
completar o valor que faltava. Contei sobre todo o meu esforço, o quanto aquele
carro significava pra mim. Falei até do som que eu ouvia ao fechar os olhos.
Ele me olhou com seriedade e respondeu:
— Era isso que você queria com tanto esforço? Amanhã vamos
ver esse carro juntos, e decidimos.
Aceitei. Não tinha escolha.
Foi a noite mais longa da minha vida. Rolei na cama até
tarde, sem conseguir dormir. No dia seguinte, levantei cedo, pronto. Chamei meu
pai, que ainda tomava café com a maior calma do mundo. Eu, do lado de fora,
perto do portão, suava em expectativa.
Quando finalmente saímos, eu mal conseguia prestar atenção
no caminho. Meu pai até me chamou a atenção por atravessar a rua sem olhar.
Depois de uma eternidade, chegamos à loja.
Agarrei o braço dele e fui direto ao vendedor. O carro
estava lá, brilhando.
— Ainda está pelo mesmo preço? — perguntei, quase sem
fôlego.
— Sim. — respondeu ele, sorrindo.
Entreguei-lhe todo o dinheiro que tinha. Faltava um pouco.
Olhei para meu pai.
— Tudo bem — ele disse, com um sorriso. — Eu completo. O
carro é dele.
O vendedor abriu a vitrine, pegou a miniatura do Maverick V8
e a placa amarela. Colocou tudo em minhas mãos.
— Vendido. E a placa também é sua.
Foi o dia mais feliz dos meus dez anos de vida. Meu pai,
percebendo isso, me levou para comemorar com um sorvete. Por conta dele, é
claro.
Hoje, ao olhar para a estante do meu quarto, vejo o velho
carrinho e a plaquinha já desbotada pelo tempo: "Vende-se Maverick
V8". E lembro imediatamente do meu pai.
Que saudade.
E ainda hoje, se fecho os olhos com força, consigo ouvir...
o ronco do motor do carro dos meus sonhos.
Obrigado, papai.
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
Um monte de letras juntas.
Assim, espero sinceramente, que mais esse livro que apresento, possa trazer a você, aquele momento que vivi e que você talvez ainda procure.