sábado, 28 de dezembro de 2013

Uma dupra de dois.

Tião e eu éramos uma "dupra" de dois, da melhor qualidade. Dava gosto de ver, sô.

Quando a gente se juntava com o povo, lá na chácara do Vitô — que ficava pertim da chácara de mamãe — era só alegria. Proseava, ria e tomava todas até altas horas. Mas, naquele dia, acho que abusamo de verdade.

Chegamo na chácara já era noitinha, com os grilo berrando pra valer. Tião, que era bom pra xuxu nessas coisa de carne na brasa, foi logo acendê a churrasqueira, pra mode a gente assá uns troço nela.

Eu, como de costume, abri uma cerveja e peguei logo o violão. Dei uma afinadinha aqui, um acerto ali... E pronto: começou a cantoria.

Quando a gente se ajuntava, não tinha jeito, logo saía um Raul. É ele mesmo, Raul Maluco, doido varrido, Seixas... O cara. Cantava Medo da Chuva, que era a preferida do Tião, Metamorfose Ambulante, Maluco Beleza e muitas mais. A gente ia cantando meio atrapalhado às vezes, mas era de coração. As mulher servia a carne saborosa que Tião preparava, e mal eu acabava uma latinha, outra já brotava na minha mão. Cada canção era um gole daquele que esvazia a lata. Ô trem bão!

Fomos indo noite adentro nessa lida. Às vezes até arriscava uma sertaneja, embora eu não gostasse muito não. Já tínhamo comido e bebido de montão, e as mulher, junto com a criançada, já tinham se recolhido, quando Tião, sentado na mureta, começou a balançar.

Se eu não piso no pé dele, o homi tinha caído de costa. Ele tava tombando, quando pisei no pé dele e ele veio pra frente de novo. Mas bastou eu me distrair pra beliscar mais uma carninha... pronto. Capotô. Caiu feito um saco de batata.

Larguei o violão, dei a volta na varanda pra socorrer o homi que só ria. Acho que nem percebeu que tinha caído. Ajudei ele a deitar na rede, ali mesmo, na varanda, e o homi apagou na hora.

Como eu tava sem sono, resolvi ir até a lagoa que ficava em frente à chácara. Tava um frio danado, então joguei um pano nas costa e fui lá. Sentei na beira da lagoa e fiquei jogando pedrinha na água, pensando na vida. A lua tava linda, mas como já era de madrugada, caiu uma nebrina fria. Aí resolvi voltar.

Entrei na chácara com o pano agora cobrindo também a cabeça, por causa do frio, quando vi Tião levantar da rede, me olhar assustado e gritar:

— Pera aí, Zé Inocêncio! Já vô te ajudá!

Acho que o danado tava tão beldo, como se diz por aqui, que pensou que eu era o tal do Zé Inocêncio da novela. Aquele do Fagundes, Renascer, lembra?

O homi saiu da varanda cambaleando feito um doido, correndo no quintal, vindo pra cima de mim e... TUMB! (Isso é o barulho do tombo, viu?) Caiu feio no chão, feito jaca madura. Levantou um poeirão em volta dele, parecia até desenho animado.

Corri pra socorrer Tião e gritei pro povo da casa. Todo mundo acordou assustado e foi lá fora ver o que tinha acontecido. Quando chegaram, eu tava agachado ao lado dele, tentando acordá o homi.

— Acorda, Tião! Cê tá bem?

Ele abriu os zóio e disse:

— Ô Zé Inocêncio... Ainda bem que te achei. Pensei que tivesse visto o fantasma do cê...

Foi falar isso e apagou de vez.

O pessoal me ajudou a levar ele de volta pra rede, e foram dormir de novo. Eu fiquei ali, vigiando, vai que ele acordasse outra vez e resolvesse ir procurar esse tal de Inocêncio na lagoa...

Zé Inocêncio... Vai vendo.

A gente era simples assim... e muito feliz.

Sardade dessas farra, Tião.

Ah! Ainda tem aquela vez que ocê dançou Maico Jaquisso... Mas essa eu conto outro dia... Hehehe!

Abraço procê.



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