Era um homem
alto, de pele negra, com uma mochila nas costas e uma bolsa na mão. Por mais
amistoso que Leon tenha sido, ele apenas acenou com a cabeça em cumprimento,
sem trocar palavras.
— Seja bem-vindo, estamos organizando uma ceia de Natal —
disse Leon, com um sorriso acolhedor.
O homem, sério e desconfiado, segurava firme sua mala e
caminhava até nós, observando cada um com um olhar atento.
— Só vim trazer o que me pediram — disse ele, abrindo a mala
e retirando de dentro uma garrafa de champanhe. — Mas só darei uma.
Ele entregou a garrafa para Leon, que a pegou e mostrou para
todos, dizendo com um brilho nos olhos:
— Já temos como brindar!
Enquanto todos se ajeitavam, me aproximei do homem e
perguntei seu nome.
Ele me observou de cima a baixo, esticou a mão em minha
direção e respondeu:
— Sou Baltazar.
— Desculpe, Baltazar, mas quem lhe pediu para trazer esta
garrafa?
— Na verdade, não sei. Ganhei de um comerciante, quando o
ajudei a descarregar umas mercadorias. Quando acordei hoje, encontrei um
bilhete de um amigo dizendo para trazer a garrafa neste horário.
— E seu amigo, onde está?
— Não sei. Pensei que o encontraria aqui.
Ele mudou de assunto e perguntou quem eram aquelas pessoas.
Depois de apresentá-las, começamos a conversar sobre aquele dia e o que o havia
levado a andar pelas estradas.
Já era quase meia-noite quando Leon nos chamou para a mesa.
A cena era inacreditável. Nunca vi uma mesa tão bonita. Tinha até velas... e...
um peru? De onde surgiu? E parecia estar quentinho. Todos nós, surpresos,
ficamos boquiabertos.
Leon pediu a palavra, agradecendo a presença de todos:
— Amigos, obrigado por estarem aqui e por colaborarem com a
nossa ceia. Agora, que já está dando meia-noite, podemos cantar os parabéns
para o grande aniversariante da noite, o motivo de estarmos reunidos. Depois,
vamos para casa, onde aqueles que nos amam nos aguardam.
Ele caminhou até Airam e pediu permissão para pegar seu
bebê. Bebê? Meu Deus, era um bebê de verdade! Olhei para Leon, e ele sorriu,
como se nada fosse estranho.
Com o bebê nos braços, Leon se aproximou de todos,
mostrando-o com orgulho. Ele puxou a música, e todos o seguiram.
— Feliz Natal a todos vocês, meus amigos! Vamos comer.
Enquanto todos começavam a se servir, tentei me aproximar de
Leon, que entregava o bebê a sua mãe, dizendo:
— Tome seu filho, Maria, e volte para casa. Todos te amam e
te esperam...
Foi quando tudo começou a fazer sentido. Maria, Airam...
Airam era Maria ao contrário. E Leon... Leon era Noel? O Natal estava ali,
diante de mim, e eu não entendia mais nada.
Olhei novamente para o bebê, que agora parecia inerte, um
simples boneco nas mãos de Maria, que sorria feliz:
— Vamos para casa, meu filho.
De repente, olhei para onde Leon ou Noel havia ido e... não
havia mais ninguém. Tudo estava vazio. Maria também desaparecera.
Confuso, abri os olhos. Tudo não passava de um sonho. Eu
ainda estava deitado, coberto por uma manta velha, no banco da rodoviária. Mas
aquele sabor de champanhe ainda estava em minha boca.
Não era dia de Natal, era véspera. A ideia de voltar para
casa, para ver meus filhos, me invadiu com uma vontade imensa. Mas não tinha
dinheiro...
De repente, lembrei-me de colocar a mão no bolso e encontrei
não apenas dinheiro suficiente para o transporte, mas também um pedaço de
papel. Com as mãos trêmulas, abri o papel e li:
"Confia."
Corri ao banheiro, me limpei o melhor que pude, comprei a
passagem e entrei no ônibus, ainda um pouco sem jeito com as roupas amassadas.
Quando o ônibus começou a sair da rodoviária, olhei pela janela e, lá estava
ele.
Leon... Agora com barba branca e um tanto mais gordinho,
acenava para mim e, ao longe, pude ouvi-lo gritar:
— Sejas feliz, confie sempre e um Feliz Natal!
O ônibus se afastava, mas consegui escutar ainda sua
gargalhada ecoando ao vento.
— Ho, ho, ho...
Feliz Natal a todos.
CONFIA.
Parte II: http://soufreitas.blogspot.com.br/2013/11/uma-noite-de-natal-parte-ii.html
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