Naquele
momento, a brisa tocava suavemente o corpo de Dani, enquanto o mar estava
distante. O sol começava a surgir, e ela já estava sentada, de frente para o
oceano.
Silenciosa, aguardava uma reação do instrumento que segurava
firme entre as mãos. Sua respiração estava controlada, o ar entrando e saindo
naturalmente, sem esforço algum.
Ajeitou-se na cadeira, sentindo a ansiedade desaparecer à
medida que se preparava para o que sabia que seria um dia incrível.
Ela olhou ao longe, fixando seu olhar na quebra das ondas.
De onde estava, podia sentir o gosto salgado do mar. Quando passava a língua
entre os lábios, o sabor agradável a convidava mais e mais a experimentá-lo. A
brisa trazia consigo o cheiro do mar. Não sabia exatamente o que era, mas sabia
que era bom.
Às vezes, fechava os olhos para se concentrar no som das
ondas e no borbulho das espumas. Pareciam frituras, estalando suavemente. O som
penetrante do "chuá" das ondas a envolvia, e, ainda com os olhos
fechados, sentia-se uma parte daquele cenário, como se estivesse em perfeita
harmonia com tudo.
Ah, como se extasiava com tudo aquilo!
Levantava a cabeça e acompanhava, com calma, o voo das aves
que cruzavam o céu. Quando viam as aves fazerem curvas perfeitas, inclinava a
cabeça, e ao vê-las mergulharem em busca de alimento, seu corpo se inclinava
levemente para frente. Repetia seus movimentos com uma delicadeza extrema, como
se fosse sua sombra, ainda que não saísse da cadeira.
Virou a cabeça lentamente na direção oposta, atraída por um
som familiar. Era um navio cruzando a paisagem.
Era muito comum que aparecessem naquela hora. Mesmo
distante, ela conseguia ouvir o som dos cascos do navio subindo e descendo
sobre as ondas, num ritmo perfeito. Às vezes, um apito suave, quase
imperceptível para qualquer um, mas ela o ouvia claramente.
Sorriu, sem mover os lábios.
Aquele som era doce, muito mais agradável do que a gritaria
dos meninos que começavam a chegar à praia. Eles traziam pranchas de isopor ou
bolas, e eram barulhentos demais. Seus olhares, curiosos e desconfortáveis,
sempre voltados para ela, anunciavam que era hora de ir embora.
Bastou um leve movimento na cadeira, com um pouco mais de
insistência, para que duas mãos tocassem seu ombro, e a voz mais doce do mundo
chegasse suavemente aos seus ouvidos:
— Já entendi, querida. Vamos embora.
Ela recolheu suas mãos, que descansavam sobre os apoios da
cadeira, e seu marido girou a cadeira de rodas, virando-a para longe do mar.
Mais uma vez, Dani agradeceu a Deus, por ter criado aquele
momento tão maravilhoso, que ela podia desfrutar.
Com um sorriso, encostou a cabeça nas mãos do marido,
reconhecendo o amor incondicional que compartilhavam.
Eles voltavam para casa, mas sabiam que, no dia seguinte,
tudo se repetiria.
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