quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Mais um dia na praia


Naquele momento, apenas a brisa a tocava... O mar estava distante.

Quando o sol começava a parecer, Dani já estava sentada naquela cadeira de frente para o mar.

Silenciosa aguardava alguma reação do instrumento que segurava firme com as mãos. Sua respiração estava sobre controle, sentia o ar entrar e sair naturalmente, sem esforços.

Ajeitou-se mais uma vez na cadeira.

Desde que chegou ali, mesmo muito ansiosa, estava preparada. Sabia que o dia seria incrível.

Olhou ao longe e fixou seu olhar para a quebra das ondas. 

De onde estava, podia sentir o gosto do sal e do mar. Quando passava a língua entre os lábios, aquele sabor gostoso e atrativo a convidava mais e mais para experimentá-lo. A brisa permitia a ela sentir o cheiro do mar. Não sabia exatamente o que era, mas apenas que era bom.

Às vezes fechava seus olhos para se concentrar no som das ondas, no borbulho das espumas. Pareciam frituras, estralando suavemente. Aquele "chuá" do barulho das ondas era penetrante. Ainda sem abrir os olhos, conseguia sentir como se fizesse parte daquilo tudo.

Ah! Como se extasiava com tudo aquilo.

Levantava a cabeça e calmamente acompanhava as aves em todo seu trajeto no ar. Tombava sua cabeça ao vê-las fazer curvas perfeitas e jogava seu corpo levemente para frente ao vê-las descer num mergulho em busca de alimentos. Repetia todos os seus movimentos com uma delicadeza extrema, como se fosse sua sombra, ainda que sem mover-se da cadeira.

Virou sua cabeça lentamente na direção oposta, de onde vinha um som conhecido. Era um navio que cruzava a paisagem.

Era muito comum naquela hora, eles aparecerem. Mesmo muito distante, conseguia ouvir o som de seus cascos subirem e descerem nas ondas, num choque de ritmo perfeito. Muitas vezes, até um apito, muito baixo para qualquer um perceber, mas ela conseguia ouvir.

Sorriu, mesmo sem mexer os lábios.

Aquele som era muito gostoso de se ouvir. Melhor do que a gritaria dos meninos que já chegavam a praia. Eles traziam pranchas de isopor ou uma bola. Eram ruidosos demais. Seus olhares estranhos e incomodantes, sempre direcionados a ela, anunciavam que já era hora de ir embora.

Bastou mexer-se na cadeira com uma teimosia a mais, que duas mãos a tocaram no ombro e a melhor voz do mundo chegou bem suave aos seus ouvidos:

- Já entendi querida, vamos embora.

Ela recolheu suas mãos caídas sobre onde se apoiava e seu marido girou a cadeira de rodas no sentido contrario ao mar.

Havia mais uma vez agradecido a Deus, por criar todo aquele momento maravilhoso, que pode desfrutar.

Dani, alegre e feliz, encostou sua cabeça nas mãos do marido em reconhecimento daquele amor incondicional.

Eles voltavam para casa, até retornar no dia seguinte.



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