Aquele ano foi muito difícil em razão
dos pacotes econômicos do governo e agora com a chegada do Natal, parecia que
piorava. Não sobrava dinheiro para nada, por mais que economizasse.
Eu tinha uma microempresa, com sete
funcionários e não podia deixar faltar minhas obrigações trabalhistas com eles.
Contavam com o pagamento em dia, o 13º salário para as festas de Natal e
Fim de Ano. Eles sabiam, que eu estava tentando de tudo para não faltar com
minha obrigação. Por outro lado, eu também via o quanto se esforçavam para me
ajudar. Todos entendíamos, que não teria como segurá-los no próximo ano, teria
que dispensar alguns. Realmente estávamos muito mal financeiramente e
fatalmente ira encerrar a empresa.
Quando faltavam apenas alguns dias para
o pagamento, surgiu um bom serviço. Conseguimos realizar e recebê-lo a tempo.
Todos ficaram felizes e consegui cumprir com minha obrigação, porém, não restou
nada, nenhum recurso para o meu Natal.
Apesar de ter ficado feliz por conseguir
pagar todos os funcionários, sabia que o meu Natal seria difícil, até mesmo para
comprar um bom presente para meu primeiro filho ou ainda, fazer uma ceia digna
em casa. Passar o Natal na casa de amigos, nem pensar. Eu acho chato demais ir
e não levar nada. Pode até ser orgulho, mas isso estava fora de questão.
Cheguei em casa, contei como estava
nossa situação e disse que não sabia como iríamos fazer. Realmente seria um
Natal muito triste.
Os dias foram passando e nada de
aparecer um serviço que nos ajudasse. Meus amigos funcionários, perceberam meu
desanimo e tristeza, mas não tinham como me ajudar e assim foi até o dia 23 de
dezembro, quando nos despedimos. O ano de trabalho havia terminado. Foi uma
despedida, um pouco triste, porém muito boa e todos foram para casa.
Fechei a empresa e fui para casa sem
saber o que fazer ou, como dar a notícia que não havia conseguido nada.
A única coisa que ouvi quando contei
foi... "Amanhã será outro dia".
O amanhã chegou.
Tinha planejado não abrir a empresa
naquele sábado dia 24, véspera de Natal, mas como não tinha o que fazer e
estava desanimado, saí de casa muito cedo e fui para lá. Pensei em aproveitar o
dia para arrumar algumas coisas e assim me ocupar.
Após uns quarenta minutos da minha
chegada, o telefone tocou.
Era o dono de um mercadinho interessado
em uma central telefônica. Normalmente quando isso ocorria, eu fazia uma visita
ao cliente e gerava um orçamento. Depois de alguns dias, quando aprovado,
recebia 40% do valor (normalmente em cheque para alguns dias, o restante do
valor pagava parcelado), fazia o pedido do equipamento para o fabricante, que
me entregava em dez dias. Depois de tudo isso, eu instalava e recebia minha mão
de obra.
Mesmo sabendo de todo esse longo procedimento,
fechei a empresa e fui encontrar o cliente. Pelo menos começaria o ano com
algum dinheiro para honrar mais alguns compromissos. Se fizesse a venda, é
claro.
Quando cheguei ao mercadinho, o
movimento estava muito grande e confesso fiquei mais angustiado ao ver os
carrinhos cheios de compras, passarem por mim. Logo o proprietário veio me
atender.
Expliquei como tudo funcionava e o que
poderia oferecer. Para meu espanto falou que queria comprar e pagar à vista.
Naquela época, onde o dinheiro estava tão escasso em razão
da economia do país, ninguém pagava um valor, razoavelmente alto,
dessa forma. Principalmente na véspera do Natal.
Para melhorar as coisas, ele resolveu
comprar o único modelo que tinha na empresa a pronta entrega. Uma máquina parada
em meu estoque, onde ganharia 100% do negócio. É claro que fiquei feliz, apesar
de saber que veria esse dinheiro, apenas no ano seguinte. Ainda assim, estava
ótimo. Então veio a frase esperada.
- Só tem um problema, estou meio
enrolado nesses dias de festas, se não for problema da forma que eu posso te
pagar...
Eu sabia.... Tudo estava indo bem demais
para ser verdade. Fiquei ali no seu escritório preenchendo o formulário de
compra, enquanto ele foi buscar o que imaginei ser o cheque.
O proprietário demorou uns vinte minutos
para retornar, então, colocou um pacote enorme de notas trocadas e miúdas na
minha frente dizendo:
- Sei que não é adequado, mas aqui é um
mercadinho. Posso pagá-lo com dinheiro trocado? Estou sem cheque nesse momento,
se não for incomodar...
Incomodar???
Peguei todo aquele dinheiro, coloquei na
minha pasta de mão, cumprimentei o proprietário pela ótima aquisição, me
comprometi instalar o mais rápido possível e parti rapidamente para casa.
Quando cheguei em casa, por volta das 12
horas, chamei todos para a sala e disse:
- Venha ver, Papai Noel entregou nosso
presente mais cedo esse ano.
Abri minha pasta e deixei cair todas
àquelas notas miúdas sobre a mesa da sala, para espanto de todos.
Passamos um excelente e farto Natal, sem
bebedeiras ou exageros como em anos anteriores, aliás, nunca mais comemoramos assim,
erradamente. Agora, todo Natal, preparamos um bolo de nozes e comemoramos o
nascimento, Daquele que tudo nos proporciona.
Acredite, o Natal existe. Basta querer
vivê-lo como deve ser..... Com muito respeito e alegria.
Ho, ho, ho.
Que lindo testemunho
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