domingo, 7 de outubro de 2012

Andarilho XII - A chave - Final


Era um quarto minúsculo, cheirando a umidade. A casa de Jorge ficava logo atrás do correio, dois cômodos alugado, sem forro e com telhas onduladas, quente, muito quente.
Sentei-me na única cadeira existente, enquanto Jorge sentava-se no chão e começou a contar a sua verdadeira história.
Tudo que dissera antes era verdade, apenas não me contou que o rapaz de sua história, era filho de um poderoso político de sua terra e que o pai o estava preparando para disputar a prefeitura local nessas eleições.
Havia participado de um jogo um dia antes da fatalidade e ganhara um considerável dinheiro do filho do coronel, como era chamado, ganhará honestamente e o rapaz até pagou tudo certinho e saiu meio que decepcionado, mas pacificamente. Porém algo aconteceu naquela madrugada na casa do coronel, segundo notícias os dois brigaram e o rapaz saiu de casa. Provavelmente aconteceu tudo isso por causa do jogo, o rapaz se drogou e achou que podia pegar o dinheiro de volta.
Jorge estava deitado quando escutou a porta estourar pelo arrombamento, imediatamente levantou e foi de ver o que acontecia, foi quando deu de frente com o rapaz que alucinado gritava pelo dinheiro. Jorge ainda desorientado tentou falar, mas o rapaz tirou da cintura uma arma. Jorge não pensou duas vezes e tentou tomar a arma que disparou atingindo seu teto, mas de repente o rapaz parou e soltou a arma, foi abaixando e caiu no chão. Atrás dele de pé olhando-lhe fixamente, estava sua esposa, tremula com uma faca na mão.
Jorge escutou vozes do lado de fora da casa e percebeu que o rapaz estava acompanhado, tomou a faca da mão da esposa, pegou uma mochila debaixo da cama, pulou a janela e saiu correndo pelo corredor para o fundo da casa. O demais ele já me contara.
Mas agora o coronel havia fixado um prêmio pela sua morte e tinha que viver fugindo.
Mostrou-me a chave, girando-a entre os dedos e disse que era a chave da vida dele. Era a chave de uma caixa postal do correio, onde ele guardava o dinheiro do jogo. Enviara-me, porque acreditava eu ser boa pessoa e que se acontecesse algo com ele, eu enviaria o dinheiro pra sua família, segundo orientações que deixara na caixa postal. Mas enfim, graças a Dingo conseguira escapar dos perseguidores e iria embora naquela noite dali.
Agradeceu-me por tudo e quis dar-me um dinheiro, que recusei, então pediu para que pelo menos eu permitisse ele dar um presente a Dingo por tê-lo salvo, quando avançou contra os perseguidores dando-lhe a chance de fugir. Como estava muito cansado, sem dormir a dias, sabia que os perseguidores estavam pelas redondezas, então levou Dingo para alertá-lo, quando não aguentasse mais e dormisse. E foi assim exatamente que ocorreu, o presente era uma bonita coleira de couro.
Enquanto ele a colocava em Dingo, disse-me apenas que como era nova, eu deveria tira-la e lava-la depois de uma semana, ela deveria encolher, por não se de couro virgem.
Agradeci e sai do pequeno quarto de Jorge, ainda um pouco assustado com tudo que acontecera e com sua história. Logo de cara, deparei-me com uma turma de cabos eleitorais, que agitavam e panfletavam na movimentada calçada do correio. Desviava e chamava Dingo para que me acompanha-se escapando deles, com certeza estavam trabalhando para outro coronel, afinal teremos eleições no domingo e eles vivem disso.
Eu... Não voto mais.

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