Estava tonto demais, com a cabeça muito confusa...
Primeiro passei aquele susto com Jorge, depois encontro Marlene e seu
irmão que eram os verdadeiros donos de Dingo, digo, Tobi. Um cão que encontrei
muito longe daqui e mesmo assim, tão distante de tudo, aparece na minha frente
Carlos, um amigo que deu carona no inicio de minha jornada e contou-me sua
incrível história. Mais uma coincidência ou eu estava ficando maluco?
Não me segurei, sai em sua direção e o chamei. Com os olhos fundos e
semblante triste, ele não me reconheceu de imediato, mas então sorriu, então estiquei
lhe a mão cumprimentando-o e já perguntando o que ele fazia por ali.
Mais uma coincidência e tremenda surpresa, o Dr. Gustavo era quem o
havia ajudado naquele momento difícil de sua história, era o homem do prédio da
luz azul. Trocamos mais algumas palavras e ele entrou com sua família no
velório.
Lentamente retornei ao meu lugar de partida, ainda muito confuso com
tudo aquilo. Dingo não se mexera, ainda estava sentado no mesmo lugar. Tentei
coordenar minhas ideias, pegara a carona com Carlos até a cidade de Cruzeiro,
ainda em São Paulo e encontrara Dingo Pança na divisa entre São Paulo e Rio.
Depois disso tudo muito longe, encontrei Jorge, o vendedor de redes, que me fez
seguir por esse caminho distante, até que encontrasse Marlene e seu irmão, que
eram donos de Dingo.
E agora mais essa surpresa de Carlos. O que mais estava por vir?
Sentei-me ao lado de Dingo, o acariciando e tentando entender tudo
aquilo sem tirar os olhos da entrada do velório.
Marlene saíra novamente, olhou em nossa direção e sorriu, começou então
a caminhar em nossa direção. Ameacei levantar, mas ela fez sinal pra
que ficasse ali, aproximou e sentou-se ao meu lado.
-Não gostas disso não é? Eu também não.
Antes que eu pudesse responder-lhe algo, ela colocou sua mão sobre a
cabeça de Dingo tocando levemente minha mão. Recolhi minha mão e ela sorriu.
Estava um tanto abatida, mas conseguia manter
um tímido sorriso nos lábios.
Questionei-a sobre Carlos e ela ficou surpresa com a história que nos
envolveu, mas não o conhecia e disse surpresa também pela afinidade dele com
seu avô. Então lhe contei a história da luz azul.
Ainda acariciando Dingo, ficou feliz em saber que seu avô havia ajudado
aquele homem e que o reconhecimento de seu ato, trouxera alguém de tão distante
pra despedir-se dele.
Perguntou-me sobre meu futuro, para onde iria ou o que eu buscava. Não
soube responder e percebi um desaponto quando ela baixou a cabeça. Foi quando
ficou séria e olhou-me.
- O que é isso na coleira do Tobi?
Olhei, parecia um papel fixado na parte interna da coleira, soltei a
coleira de seu pescoço e vi um pequeno papel fixado com um grampo. Jorge.
Lembrei imediatamente de suas palavras, lembrando-me enquanto colocava
seu presente no pescoço de Dingo, que deveria uma semana depois retirá-la para
lavá-la. Ele tinha premeditado tudo.
"Desculpe amigo, mas ainda preciso de você, está tudo descrito
naquela caixa do correio. Basta se identificar e te darão a chave. Por
favor, me ajude. "
Olhei para Marlene e disse:
- Preciso partir já.
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