domingo, 21 de outubro de 2012

Andarilho XIV - O velório


Não gosto de velórios, então depois de um bom banho na casa dos familiares de Rodrigo e Marlene, preferi ficar nas proximidades e ver o movimento dos amigos e parentes que chegavam pra se despedirem do Dr. Gustavo, avô deles.
Dingo, eu continuava a chamá-lo assim, ainda andava comigo e sentado ao meu lado via tudo acontecer. 
Era um movimento lento, porém coordenado, pessoas se abraçam, algumas choravam e o velório "Luz Azul" foi aos poucos ficando lotado.
Esse nome me trouxe a lembrança de Carlos e sua história do emprego que mudou sua vida, naquele dia também morreu um homem e nasceu outro.
É interessante o que a morte faz conosco, não nos assusta, mas às vezes surpreende. Nesses anos todos que vivi, perdi pessoas especiais e queridas que deixaram saudades, mas nunca me abalei ou pensei na morte próxima a mim. Novamente veio-me a memória outra história, a de Lurdinha, que me acolhera na estrada e que se despediu da vida e de mim, do mesmo jeito do nosso encontro, sem explicação.
A expressão das pessoas que chegavam, era de muita tristeza acho que Dr. Gustavo era uma boa pessoa e muito querido. Os abraços pareciam confortantes e sinceros. 
Um dia fui consolar um amigo que perderá o filho, jovem de 23 anos, e ao abraçá-lo senti muita da dor que imagino ele sentia e que ainda assim tinha forças ainda para confortar sua esposa e filha. Marcou-me muito aquele dia. Fico pensando como é difícil se desligar dessas pessoas que tanto amamos. Às vezes ainda sinto alguns desses entes queridos muito presentes.
Deus consegue nos passar o sentido de seguir em frente, sem que o percebamos. Ele nos coloca em pé ainda que as forças nos faltem e neste momento redobra toda energia que pensávamos estar esgotada e com uma delicadeza incrível, sussurra em nossos ouvidos: "Siga em frente".
Isso é tão presente que às vezes damos um passo a frente como que se tivesse recebido um impulso nas costas. Verdadeiramente Ele agiu.
Marlene por algumas vezes, saiu do velório e olhou-me, sorrindo muito timidamente, acho que não acreditou no que eu combinara: ficar até após o termino do velório para nos despedirmos. Sabia que eu estaria ali com Tobi, então aparecia, nos olhava e entrava em seguida.
Acho que Dingo não seguira comigo, afinal reencontrara sua dona ou até mesmo acho que ela não permitiria que ele continuasse a me acompanhar pelas estradas. Teria que me despedir dele também.
As pessoas continuavam chegando, a essa altura parecia que a cidade toda estava ali e a tarde iniciava, estava chegando a hora mais difícil: a última despedida.
Um casal com uma menininha acabara de chegar e o homem estava visivelmente abatido, quando desceu do carro e deu a volta pra abrir a porta de seu carro o reconheci... Era Carlos, o vendedor da "Luz Azul".
Fiquei inquieto, não podia ser... O que estava acontecendo com minha vida e meus caminhos?

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