201km de casa |
Sabia que as caronas seriam mais difíceis em carros, agora com Dingo ao meu lado, mas valeu a pena cheguei descansado e parti em busca de encontrar um lugar pra tomar um bom banho e descansar. Encontrei isso num posto de gasolina próximo à Dutra, tomei meu banho e dividi a janta com o caminhoneiro Jaime. Ele me aconselhou dormir próximo a seu caminhão, por segurança. Sentamos praticamente debaixo do caminhão e conversamos.
Jaime é natural do Paraná e estava há 15 dias longe de casa, fora até Minas Gerais e voltava com carga para Resende, chegou um pouco tarde e só conseguirá descarregar no outro dia. Têm duas meninas Samantha e Josie, segundo ele duas princesas que estavam a sua espera.
Solto, mas sério, disse que perderá a esposa no parto de Josie, nome que escolheu para homenagear a esposa. As filhas ficavam com a avó para poder estudar enquanto ele viajava pelo Brasil afora para ganhar o sustento dos quatro.
Enquanto falavam de suas princesas seus olhos brilhavam e lágrimas se juntavam. Ria discretamente quando contava das artes que Josie vivia aprontando com a avó já bem velhinha, mas que a saudade estava a cada dia acabando com ele. Jaime só sabia fazer o que fazia e não tinha como manter sua família se não fosse o trabalho de caminhoneiro, rodando o país para uma empresa.
Enxugando a lágrima que teimou em sair dos olhos, tirou uma foto da carteira e mostrou-me o trio... Não dá pra negar, Josie tinha uma carinha de quem apronta muito... Rsrs
Quando tirou a foto caiu um papel que rapidamente recuperou e guardou. Olhou-me e disse;
- É o jogo que minha esposa ia jogar quando sentiu as dores e saiu com sua mãe correndo para o hospital.
Jaime disse que na correria não jogaram e quis o destino que o prêmio sorteado saísse para aquele jogo, era o prêmio dos sonhos, compraria seu próprio caminhão. Disse que daquele dia em diante sempre carregou e jogou o mesmo jogo, acreditando que um dia ele iria se repetir. Improvável, ainda por cima porque era uma sequência numérica sem igual.
Olhei os números e sorri muito improvável de sair, quanto mais repetir.
Fomos dormir, coloquei meu colchonete debaixo do caminhão, Dingo se ajeitou ao meu lado e apagamos.
Na manhã seguinte nos despedimos de Jaime e rumamos Dutra afora a procura de carona, de preferência mais confortável que a última.
Realmente achamos, bem, pelo menos pra mim que fui à parte interna, sobrou pro Dingo à carroceria. Conversando com meu bem feitor, comentando a música que ouvíamos em seu rádio, ouvimos uma chamada jornalística.
- Saiu o prêmio da loteria pra apenas um ganhador de Minas Gerais!
Adivinhem o número sorteado... Rsrsrs
Acho que Jaime não precisará mais ficar longe de suas princesas.
Impressionante as coincidências que me perseguem...
Ou será que não são coincidências, estamos chegando a Volta Redonda.
Improvável eu disse... Ah tá.
Olho pelo retrovisor sorrindo e aceno pro Dingo...
Lá vamos nós.
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