domingo, 5 de agosto de 2012

Andarilho V - O jogo

201km de casa
Minha mais recente carona terminou em Resende no Rio. Estava com o corpo todo dolorido por andar na carroceria de um F1000 já um tanto velhinho, mas que ajudou muito.
Sabia que as caronas seriam mais difíceis em carros, agora com Dingo ao meu lado, mas valeu a pena cheguei descansado e parti em busca de encontrar um lugar pra tomar um bom banho e descansar. Encontrei isso num posto de gasolina próximo à Dutra, tomei meu banho e dividi a janta com o caminhoneiro Jaime. Ele me aconselhou dormir próximo a seu caminhão, por segurança. Sentamos praticamente debaixo do caminhão e conversamos.
Jaime é natural do Paraná e estava há 15 dias longe de casa, fora até Minas Gerais e voltava com carga para Resende, chegou um pouco tarde e só conseguirá descarregar no outro dia. Têm duas meninas Samantha e Josie, segundo ele duas princesas que estavam a sua espera.
Solto, mas sério, disse que perderá a esposa no parto de Josie, nome que escolheu para homenagear a esposa. As filhas ficavam com a avó para poder estudar enquanto ele viajava pelo Brasil afora para ganhar o sustento dos quatro.
Enquanto falavam de suas princesas seus olhos brilhavam e lágrimas se juntavam. Ria discretamente quando contava das artes que Josie vivia aprontando com a avó já bem velhinha, mas que a saudade estava a cada dia acabando com ele. Jaime só sabia fazer o que fazia e não tinha como manter sua família se não fosse o trabalho de caminhoneiro, rodando o país para uma empresa.
Enxugando a lágrima que teimou em sair dos olhos, tirou uma foto da carteira e mostrou-me o trio... Não dá pra negar, Josie tinha uma carinha de quem apronta muito... Rsrs
Quando tirou a foto caiu um papel que rapidamente recuperou e guardou. Olhou-me e disse;
- É o jogo que minha esposa ia jogar quando sentiu as dores e saiu com sua mãe correndo para o hospital.
Jaime disse que na correria não jogaram e quis o destino que o prêmio sorteado saísse para aquele jogo, era o prêmio dos sonhos, compraria seu próprio caminhão. Disse que daquele dia em diante sempre carregou e jogou o mesmo jogo, acreditando que um dia ele iria se repetir. Improvável, ainda por cima porque era uma sequência numérica sem igual.
Olhei os números e sorri muito improvável de sair, quanto mais repetir.
Fomos dormir, coloquei meu colchonete debaixo do caminhão, Dingo se ajeitou ao meu lado e apagamos.
Na manhã seguinte nos despedimos de Jaime e rumamos Dutra afora a procura de carona, de preferência mais confortável que a última.
Realmente achamos, bem, pelo menos pra mim que fui à parte interna, sobrou pro Dingo à carroceria. Conversando com meu bem feitor, comentando a música que ouvíamos em seu rádio, ouvimos uma chamada jornalística.
- Saiu o prêmio da loteria pra apenas um ganhador de Minas Gerais!
Adivinhem o número sorteado... Rsrsrs
Acho que Jaime não precisará mais ficar longe de suas princesas.
Impressionante as coincidências que me perseguem... 
Ou será que não são coincidências, estamos chegando a Volta Redonda.
Improvável eu disse... Ah tá.
Olho pelo retrovisor sorrindo e aceno pro Dingo...
Lá vamos nós.




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