terça-feira, 21 de agosto de 2012

Que dia...


Quem me conhece bem sabe: não sou de palavrões. Nem de falar, nem de ouvir. Meus filhos que o digam. Sei que, às vezes, a vida apronta tanto que até escapa um ou outro — mas, no meu caso, é raríssimo. Quase um evento astronômico. Só que... acontece.

Semana passada foi uma dessas. Correria insana, reuniões em cascata, prazos vencendo mais rápido que minha paciência. Tentava organizar as tarefas, respirar fundo, manter a compostura. Mas estava difícil. Um caos atrás do outro, e ainda por cima, o chefe me pedindo mil coisas ao mesmo tempo.

Nessas horas, o único lugar sagrado que sobra é o banheiro. Meu refúgio. Um lugar onde ninguém te interrompe, e se baterem na porta, paciência — vão ter que esperar. Estava lá, finalmente em paz, quando acontece aquele clássico de filme: o cano da pia se solta. Água pra todo lado. Surreal. Por sorte, a pressão era quase nula e a equipe da limpeza tinha deixado um pano por ali. Estanquei o desastre e ajeitei o cano com jeitinho.

Problema resolvido? Quase. Reparei na calça: molhada. Mas que beleza. Voltei pro trabalho discretamente, sentei rápido e fiquei enrolando pra ir almoçar, esperando secar o estrago. E não é que deu certo?

Já perto do fim do horário, fui pro restaurante da empresa. Ambiente tranquilo, pouca gente. Melhor assim. Só que, como o dia já vinha do jeito que vinha...

Fui pegar feijão. A concha escapou da minha mão e afundou inteira na cuba. Ninguém viu, graças a Deus. Saí sem feijão. Intuição gritando — aquele sinal do “Homem-Aranha” que te avisa quando vai dar ruim. Mas ignorei.

Fui lá, peguei o vidro de pimenta. Nem costumo usar, mas, naquele dia... Quando fui pingar umas gotinhas, a tampa soltou. A pimenta veio inteira. No prato. Aí não teve jeito: escapou o palavrão.

— P* que p*... Mas que m...

Ouvi uma voz ao fundo, quase rindo:

— Tudo bem, Freitas...

Fiz um gesto com a mão e segui o plano: fingir naturalidade. Fechei o vidro, limpei como pude, mas o estrago já estava feito. Um colega me chamou pra sentar com ele. Fui. E o que faria uma pessoa normal? Jogaria o prato fora.

Pois é... eu não sou essa pessoa.

Comi tudo. Com a maior discrição. Garfada, suco. Garfada, suco. Ritmo frenético. Foram sete copos entre suco e água. Os colegas notaram minha sede, mas nem imaginaram o motivo.

Agora, com esse texto, vão saber.

Conselho do dia: “Se estiver num daqueles dias, evite pimenta. Principalmente em quantidade industrial.”

E aquela intuição que gritou? Pois é... Ela sempre sabe.

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