domingo, 26 de agosto de 2012

Andarilho VIII - Moinhos de vento - Parte II


Quando Gilberto entrou com sua cadeira de rodas, silenciosamente, eu estava segurando as mãos de Soninha.
A cena congelou e ninguém se mexia. Soltei as mãos de Soninha e agradeci pelo lanche, enquanto ela corada saiu pela lateral.
Quando levantei os olhos, Gilberto também se fora.
Fiquei por um instante pensativo, tentando coordenar os pensamentos. Chamei por Dingo e peguei minha mochila indo em direção da porta e então parei, voltei-me pra trás e lá estava Soninha a me olhar. Fiquei imóvel por alguns segundos e sai.
Dingo estava ao meu lado quando atravessei a rua e fui em direção a saída de Três Rios, parecia agitado como se quisesse voltar. Latia, cruzava meus passos e por pouco não o pisei... Cedi. Deixei-me guiar por ele.
Voltamos ao galpão, local do almoço e lá estava Gilberto num canto. Olhei pra Dingo e sorri. Sentei-me ao lado de Gilberto, ele tinha uma fotografia na mão.
- Dingo me trouxe pra despedir e agradecer por tudo. Muita coisa em pouquíssimo tempo, não é, mas já estou indo.
Estendeu-me a foto e pediu que e o acompanhasse. Saímos do galpão e sem falar nada fomos em direção a rodovia. Fui acompanhando-o enquanto olhava o foto, uma menina e Gilberto. Andamos por uns quinze minutos sem falar-nos e paramos na entrada da cidade. Então começou a falar...
- Essa menina é minha filha, minha Dulcinéia, a perdi a muitos anos atrás, atropelada na minha cidade natal, era só o que tinha, então sai por ai andando por 6 anos, pelas estradas. Ali, naquele ponto foi fui atropelado por Soninha. Não foi culpa dela, estava escuro e eu havia bebido um tanto, como sempre fazia. Não foi culpa dela, não foi. Mas ela me socorreu me abrigou e me conseguiu essa cadeira, meu cavalo senhor Quixote. Em minha recuperação li o livro de nossa história, muitas e muitas vezes, por isso identifico-te como Quixote, já vivi isso e nem preciso te dizer que me apaixonei por ela, era sozinha e por achar que teve culpa, me suporta por todos esses anos. Não consigo removê-la deste pensamento.
Aproximei de sua cadeira coloquei a mão em seu ombro e disse.
- Entendo amigo, mas não pense em bobagens... Eu apenas estava...
- Não precisa falar nada, eu sei... Se não for você, será outro. Enxerguei um moinho e estou travando minha luta com ele... Vencerei.
- Tudo bem, preciso ir. Ficará bem... Obrigado por tudo e boa sorte. Eu e Sancho precisamos caminhar, afinal, deixo um moinho de vento pra trás, mas preciso achar minha Dulcinéia ainda. Foi um prazer. Adeus.
Então comecei a me afastar... Assim... Do nada cheguei, do nada... Fui.
A vida é assim, vem rápido e assim também se vai. Os momentos que vivemos não se renovam, mas as batalhas que vencemos e teremos de vencer, serão identificadas a cada passo, a cada caminhada. Elas não são imaginárias, são reais.
- Vamos embora Dingo Pança, nossa estrada é longa.

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