Nenhum deles ousava piscar.
Os únicos sons naquela cena eram o do vento leve balançando as folhas e o som de duas respirações — seguindo a mesma frequência, no inspirar e no expirar.
Ficaram assim por vários minutos, como que congelados.
O momento só foi quebrado quando, de repente, ouviram um estampido.
Recobrando os instintos, olharam para a mesma direção, depois voltaram os olhos um para o outro.
Sem dizer nada — como se tivessem combinado — partiram na direção oposta ao som.
Juntos.
Enquanto fugiam em disparada, lado a lado — ela correndo, ele voando — não deixavam de se olhar.
Chegaram então a uma clareira, bem no coração da floresta.
Olharam para trás ao mesmo tempo.
Estavam sós.
O mundo ficara para trás.
Entravam, agora, num mundo só deles.
Nenhum dos dois entendia o que estava acontecendo.
Não havia medo.
Não havia som.
Não havia nada.
Apenas os dois.
Pararam e se olharam, ainda recuperando o fôlego.
Ele desceu suavemente num galho seco, de uma árvore caída e baixa, e fechou suas asas brancas.
Ela se sentou no chão, ainda ofegante, sem tirar os olhos dele.
Apreciavam-se.
Ele admirava os olhos verdes que vira lá do alto — os mesmos que o desconcentraram do voo, desequilibrando-o e fazendo com que se chocasse contra uma parede de ar.
Ela não tinha como negar: como eram lindas as penas da Águia.
Pareciam luz revestindo o corpo.
Foram elas que refletiram no céu e chamaram sua atenção.
Mas o que estava acontecendo?
Por que não fugiam um do outro?
Por que não conseguiam sair dali?
Mais alguns minutos de silêncio e contemplação se passaram.
Então, ele abriu as asas e saltou para o chão, ao lado da Loba.
Assustada, ela se afastou — mas não fugiu.
Vendo que a Águia nada fazia, ela se aproximou lentamente, até quase tocá-lo, e sentiu seu cheiro.
A Águia, também curiosa, avançou mais um pouco.
Ficaram tão próximos que a respiração de um parecia ser a do outro.
Eram muito iguais.
Sem qualquer movimento brusco, a Loba virou-se e começou a caminhar, como se quisesse manter certa distância.
A Águia abriu suas asas e voou ao seu encalço, pousando bem à sua frente.
Como que sintonizados, movidos por uma mesma vontade, voltaram-se ao caminho e seguiram floresta adentro.
Lado a lado.
Já não havia medo.
Nem mesmo do estampido que os fizera fugir.
Ambos relutavam contra sua natureza, contra seus destinos.
Mas sentiam-se vivos.
Sentiam-se seguros.
Não havia mais distância entre eles.
Não sabiam para onde iriam...
Mas seus instintos diziam:
Estavam bem.
Agora, juntos.
Mensagem de uma loba indecisa..para uma águia determinada..
ResponderExcluir** Mesmo voce nao me vendo..estarei te olhando..mesmo nao te tocando..estarei te sentindo..é, por onde vc estiver passando com meus pensamentos estarei te seguindo. No teu corpo está o meu desejo..em tua alma meus sentidos**..e a saga da loba frágil..segue no tempo..ao lado da águia corajosa..
Uauuuu!
ExcluirEsse texto da Paula Michelle é realmente lindo. Obrigado por comentar.
Muito pertinente esse comentário.Traduz a mensagem subliminar
ResponderExcluirsempre presente nos seus textos
Obrigado.
ResponderExcluirAs lindas palavras da Paula Michelli, reproduzidas no comentário anterior, apenas mostram o quanto minha busca pela perfeição na escrita será longa.